Se o clima foi o responsável por reduzir a participação do Rio Grande do Sul na economia brasileira nos anos 2020, é verdade também que ele influenciou mudanças nas dinâmicas internas entre as diferentes regiões do Estado. É o que mostra o Produto Interno Bruto (PIB) dos municípios gaúchos, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na sexta-feira passada, 19 de dezembro, e que revela os dados de 2022 e 2023.
“Se a agropecuária cai muito, os municípios caem muito. Em 2023, se recuperou a agropecuária (que passou por uma grave estiagem em 2022), mas muitos municípios não ganharam tanto em preço (dos produtos), então acabaram não ganhando tanta participação”, analisa o pesquisador do Departamento de Economia e Estatística do Estado do Rio Grande do Sul (DEE-RS), Vinícius Fantinel.
O Norte gaúcho, por exemplo, padeceu sob as estiagens observadas em 2022 e 2023, e não conseguiu compensar com o aumento do preço dos produtos agropecuários. Dependente do agronegócio, a macrorregião, que vinha conquistando maior protagonismo nos últimos anos, perdeu espaço diante do PIB estadual: em 2021, o único ano que não contou com eventos climáticos críticos nos anos 2020, ocupava uma fatia de 21,29% da economia do Rio Grande do Sul, que reduziu para 19,83% em 2022 e 18,76% em 2023.
“É muito por causa da agricultura e da soja. Nos últimos anos, como tivemos secas, (a Macrorregião Norte) acabou perdendo participação. Principalmente, porque muitos municípios são menores e intensivos na questão da soja, que é bastante forte ali. A própria questão das máquinas agrícolas (produzidas e comercializadas nessa parte do Estado) deve ter caído. Quando a cultura vai mal, acaba perdendo muita participação. Mesmo com os preços crescendo, acaba não compensando”, acrescenta Fantinel.
Em contrapartida, foi em locais com forte atuação do setor de serviços e com alta industrialização que a economia foi capaz de crescer em relação à estadual. Mesmo nos dois anos mais críticos de participação do Rio Grande do Sul no PIB nacional, 2022 e 2023, quando chegou a apenas 5,9% da economia brasileira, as macrorregiões Metropolitana e da Serra conseguiram se desenvolver com matrizes produtivas diversificadas.
"Em 2023, teve muito crescimento do comércio atacadista (no Rio Grande do Sul), que está concentrado nos municípios maiores, e essas cidades acabaram ganhando mais (no PIB). O comércio varejista, que também cresceu, é mais desconcentrado, então não é o caso (das grandes cidades como Porto Alegre)", explica Fantinel.
No caso da Serra, três dos cinco Conselhos Regionais de Desenvolvimento (Coredes) que a compõem cresceram sua participação no PIB estadual: Hortênsias, que foi de 1,20% em 2021 para 1,32% em 2023, Serra, que passou dos 11,75% de 2021 para 12,24% em 2023 e o Vale do Paranhana e Encosta da Serra, que ocupava 2,92% da economia gaúcha em 2021 e passou a 3,12% em 2023.
Já a Macrorregião Metropolitana teve crescimento em todos os seus Coredes que, somados, passaram a corresponder a quase 40% do PIB gaúcho — um grande crescimento em comparação aos cerca de 36,5% ocupados em 2021. Os números demonstram uma tendência nacional de crescimento dos grandes centros urbanos observada pelo IBGE, que aponta uma freada no processo de descentralização econômica que era visível em 2021.
Entre os Coredes que a compõem, o grande destaque foi na própria Região Metropolitana, que contou com crescimento da economia de importantes cidades, como Gravataí e Porto Alegre. A Capital, inclusive, foi a terceira cidade brasileira que mais cresceu de 2022 para 2023, conforme ranking divulgado pelo IBGE. Foi assim que a região passou dos 22,62% de 2021 para os 24,56% de 2023. O Litoral Norte, um dos locais do Estado que mais cresceram demograficamente na última década, ampliou sua participação econômica em 0,14 ponto percentual. Já o Vale do Sinos, com o setor industrial desenvolvido, saltou 1,09 ponto percentual.
As macrorregiões Sul e Central, por sua vez, alteraram pouco sua participação no PIB gaúcho. Enquanto o coração do Rio Grande do Sul variou negativamente menos de 0,5 ponto percentual, a porção meridional do Estado conseguiu se manter estável mesmo com baixas na agricultura e no polo naval, variando -0,95%. O que manteve essas economias estáveis foi a indústria química em Rio Grande e a indústria de beneficiamento do tabaco do Vale do Rio Pardo.