Porto Alegre,

Publicada em 07 de Novembro de 2025 às 18:36

Doce de Santo Antônio da Patrulha ganha reconhecimento

Sonho açoriano foi levado pelos portugueses para a cidade no século XVIII,  e receita original ainda é mantida em segredo na cidade

Sonho açoriano foi levado pelos portugueses para a cidade no século XVIII, e receita original ainda é mantida em segredo na cidade

Prefeitura de Santo Antônio da Patrulha/Divulgação/Cidades
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Larissa Britto
Larissa Britto Repórter
Um doce bastante tradicional do Litoral Norte gaúcho foi reconhecido oficialmente como patrimônio cultural do Rio Grande do Sul. O sonho açoriano, típico da cidade de Santo Antônio da Patrulha se destaca pelo aspecto oco, característica que o diferencia de outras versões encontradas pelo Brasil, que são recheadas. A expectativa é que, através do reconhecimento, o turismo gastronômico possa ser reaquecido na cidade, conhecida também pela cachaça e pela rapadura.
Um doce bastante tradicional do Litoral Norte gaúcho foi reconhecido oficialmente como patrimônio cultural do Rio Grande do Sul. O sonho açoriano, típico da cidade de Santo Antônio da Patrulha se destaca pelo aspecto oco, característica que o diferencia de outras versões encontradas pelo Brasil, que são recheadas. A expectativa é que, através do reconhecimento, o turismo gastronômico possa ser reaquecido na cidade, conhecida também pela cachaça e pela rapadura.
A certificação foi sancionada pelo governador Eduardo Leite durante uma celebração da identidade e da memória açoriana no Estado na 48ª Expointer, em Esteio. O reconhecimento deve-se também pelo costume - que para muitos virou tradição - adotado pelos veranistas durante suas viagens à caminho do litoral antes mesmo do surgimento da freeway: fazer uma parada em Santo Antônio da Patrulha para comer o doce açoriano. A cidade é um dos acessos ao litoral e a diretora de Turismo, Milena Mohr, conta que o sonho se popularizou a partir da década de 1950. 
"Tipicamente, as pessoas paravam para comer o sonho e comprar rapadura, que é outro doce tradicional nosso e também é fabricado somente aqui da forma como ela é. Nesse período, nós tínhamos o hotel Boas-Vindas, que foi quem popularizou o sonho nessa época. Vale lembrar que nós ainda não tínhamos a Freeway. Todo esse trajeto era feito pela ERS-030, que atualmente também está totalmente remodelada dentro do trecho urbano da cidade. Então, nessa época, as pessoas obrigatoriamente tinham que fazer essa passagem por dentro de Santo Antônio", explica a diretora.
O sonho açoriano recebe este nome pois sua receita, feita tipicamente com água, farinha, sal e açúcar, foi trazida para o município pelos colonizadores açorianos, vindos de Portugal no século XVIII. "Para nós, ele é um símbolo de identidade e, para mais do que isso, tem uma memória afetiva, porque a maioria de nós tivemos avós e bisavós que faziam o sonho que a gente sempre comeu. Também vem essa memória afetiva de que o sonho era o início das férias na praia. Muitas pessoas que vinham para o litoral, paravam em Santo Antônio da Patrulha para comer o sonho", comenta Milena.
A expectativa é que com o reconhecimento cultural, o movimento de turistas seja retomado gradualmente. "Com esse reconhecimento do Estado, a gente volta de novo a ter esse protagonismo do doce, que é tão importante para a nossa gastronomia e para a nossa economia. A cidade vira de novo um ponto de parada de quem está vindo, seja da Serra Gaúcha, seja da Região Metropolitana em direção ao litoral", diz.
Dessa forma, segundo Milena, a herança cultural açoriana é preservada e valorizada, assim como a receita e identidade da iguaria. Hoje, o produto é comercializado em dois principais estabelecimentos: a Casa do Sonho e a Casa da Colônia. 

Restaurante da cidade mantém viva a tradição

Local bastante tradicional da cidade, a Casa do Sonho foi fundada em 2003 pelo empresário Luciano Pereira, no local do antigo hotel Boas-Vindas, o qual possui 84 anos de existência. O atual restaurante funciona também como café e armazém. "O pessoal que ia para a praia tinha basicamente a ERS-030, que é a Estrada Velha, para ir ao litoral. Então as viagens levavam entre 6h e 7h, porque as pessoas saíam de Porto Alegre, passavam por Cachoeirinha, Gravataí, Glorinha, Santo Antônio e Osório até chegar na praia. Até hoje o turista chega aqui e conta histórias para relembrar a época que paravam aqui para fazer um lanche, abastecer. E eles vinham aqui também para tomar um café com o sonho", conta Luciano. 
Receita tradicional do sonho açoriano é mantida por empresário há mais de 20 anos | Prefeitura de Santo Antônio da Patrulha/Divulgação/Cidades
Receita tradicional do sonho açoriano é mantida por empresário há mais de 20 anos Prefeitura de Santo Antônio da Patrulha/Divulgação/Cidades
Ao lado do hotel, funcionava também um restaurante e posto de gasolina, o que estimulava a parada de viajantes. Ele explica que o antigo estabelecimento fechou em 1994, pois após a construção da freeway (BR-290), em 1973, o movimento diminuiu drasticamente. "Nos anos 2000 nós reformamos o local e abrimos em 2003 somente como Casa do Sonho. Com isso, nós inovamos, com o lançamento do mini sonho, que é a mesma massa do sonho tradicional, mas nós fizemos porções com dez unidades, que é para o pessoal que vai à praia passar, pegar e ir comendo", diz.
Além do sonho açoriano, o empresário lançou a lasanha de rapadura, uma receita agridoce composta por frutas picadas, açúcar mascavo, presunto, queijo, molho branco e rapadura picada, e a carne de alcatra, com molho de cachaça e amendoim.

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