A Casa Museu Erico Verissimo, em Cruz Alta, será reaberta em 2026 com novos itens no acervo e espaços restaurados. As obras de revitalização da casa onde nasceu o escritor estão em andamento desde setembro e integram o calendário de homenagens pelos 120 anos de nascimento de Erico Verissimo, comemorados em 17 de dezembro deste ano, e pelos 50 anos de sua morte, em 28 de novembro.
O prédio, tombado como patrimônio histórico municipal, passa por intervenções estruturais e de acessibilidade aprovadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae). O arquiteto Gabriel Elicker Seibel, da Secretaria Municipal de Planejamento, explica que as obras abrangem a restauração de telhados, esquadrias e revestimentos, além da adaptação de banheiros e instalação de rampas. “O projeto respeita as normas técnicas atuais, mas mantém a identidade original do imóvel. Cada etapa é executada com técnicas compatíveis às da época da construção, para garantir a autenticidade do patrimônio”, afirma.
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Construída entre o final do século XIX e o início do XX, a casa passou por ampliações e ganhou fachada eclética, marcada pela mistura de estilos. O uso de argamassas à base de cal e barro, sem cimento, exige métodos manuais e acompanhamento técnico contínuo. “São processos praticamente extintos, o que torna a obra desafiadora. Além disso, surgem demandas novas durante a execução, devido à idade do prédio”, explica Seibel. O prazo de conclusão é setembro de 2026, e as intervenções seguem dentro do cronograma previsto.
Durante o período de obras, o acervo do museu — composto por documentos, fotografias e objetos pessoais de Erico — está temporariamente abrigado em outro imóvel histórico da cidade, construído em 1914 pelo arquiteto alemão Theodor Wiederspahn para abrigar o então intendente do município, Firmino de Paula Filho.
Palácio da Intendência. A casa que abriga temporariamente o acervo do museu Erico Verissimo foi construída no ano de 1914 pelo arquiteto alemão Theodor Wiederspahn. Foi residência do intendente do município, Firmino de Paula Filho.
TÂNIA MEINERZ/JC
Segundo a secretária municipal de Cultura, Shana Reis, a reabertura trará novidades. “Estamos em contato com a família do escritor e com o Memorial Erico Verissimo, em Porto Alegre, para ampliar o acervo. Novos itens e fotografias deverão integrar a exposição permanente após a conclusão da restauração”, adianta. Entre eles, está um conjunto de imagens produzidas pelo fotógrafo Leonid Streliaev, que acompanhou o escritor durante os anos 1970. "A gente conseguiu, então, refazê-las, ele nos forneceu (os negativos), e fizemos um pré-lançamento de algumas fotos durante a Fenatrigo e agora, na Feira do Livro, faremos então a exposição das 42 fotos", contou a secretária.
Neste ano, o evento tem como patrona Fernanda Verissimo, neta do autor. “As celebrações pelos 120 anos de Erico têm mobilizado toda a cidade. Além das homenagens na feira, eventos como a Coxilha Nativista e a Semana Farroupilha incorporaram referências à sua obra”, afirma Shana.
A secretária também destaca que a revitalização do museu é mais do que uma obra física: é parte de um esforço para reaproximar a comunidade do legado do escritor. “Queremos que o espaço seja um ponto de encontro entre literatura, história e identidade local. O museu é também um lugar de aprendizado, com potencial para ser usado em atividades escolares e culturais”, explica. O propósito é de que o museu volte a receber visitantes e atividades regulares de mediação cultural, incluindo oficinas, visitas guiadas e ações educativas. A Secretaria de Cultura também pretende estabelecer parcerias para circulação de mostras temporárias relacionadas à literatura e à história regional. “A ideia é que o museu esteja em constante diálogo com o público, com exposições que mudem ao longo do ano”, acrescenta Shana.
O conjunto de obras e ações culturais integra o plano municipal de valorização do patrimônio histórico e busca fortalecer o turismo cultural em Cruz Alta. Segundo a Prefeitura, os investimentos somam recursos próprios e verbas destinadas à preservação de bens tombados. Segundo as informações do site da prefeitura no anúncio da restauração, em 2024, o custo total da obra é de R$ 255.573,21, resultantes de uma emenda parlamentar, e conta com uma contrapartida do município de R$ 16.716,62.
“Esse é o primeiro grande restauro da Casa Museu Erico Verissimo em décadas. Ele assegura a preservação do prédio e reforça o vínculo da cidade com sua história literária”, afirma o arquiteto Gabriel Seibel.
O encerramento das comemorações pelos 120 anos de nascimento do autor ocorrerá em dezembro, com uma programação especial organizada pela Secretaria de Cultura. A agenda prevê apresentações culturais e o lançamento de novos materiais educativos sobre a vida e a obra de Erico.
Restauro reproduz técnicas construtivas do século XIX
As obras de restauração da Casa-Museu Érico Verissimo, iniciadas em setembro, buscam preservar não apenas a aparência e a estrutura do prédio histórico, mas também as técnicas construtivas utilizadas no período em que o imóvel foi erguido, por volta de 1890. O projeto segue orientações do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae) e prevê a reprodução dos métodos originais de construção, como o uso de argamassas à base de cal, barro e solo, em substituição ao cimento, que não era empregado na época.
Segundo o arquiteto da Prefeitura de Cruz Alta, Gabriel Elicker Seibel, a proposta é manter a autenticidade do edifício em cada detalhe da restauração. “As intervenções buscam seguir a originalidade do prédio, inclusive na técnica que foi executada na época. Não se usava cimento; eram caldas e argamassas com solo e barro, trabalhadas de forma manual. Hoje, há poucos profissionais que dominam essas técnicas, o que torna o processo mais demorado e cuidadoso”, explica.
Durante o processo, foram identificadas áreas com revestimentos danificados e estruturas fragilizadas, reflexo do tempo e da falta de manutenção nas últimas décadas. O prédio havia passado por pequenas restaurações nos anos 1990 e 2000, mas esta é a intervenção mais abrangente das últimas décadas. “A cada etapa, surgem novas demandas, porque o prédio é muito antigo. A obra acaba exigindo soluções específicas para cada situação que aparece”, afirma Seibel.
Conforme Seibel, a casa foi construída em duas etapas: originalmente, a edificação possuía uma forma mais simples e ganhou adornos e detalhes ornamentais em um segundo momento, incorporando características de diferentes estilos arquitetônicos. “É um prédio que reúne elementos de várias épocas, o que é comum em edificações antigas da cidade. Essa mistura é parte de sua identidade”, comenta o arquiteto.
A restauração da Casa-Museu Érico Verissimo, segundo Seibel, representa mais do que uma intervenção física. Cada camada de reboco retirada e cada peça reproduzida artesanalmente revelam parte da história de Cruz Alta e da vida do escritor que nasceu no local. “A obra é um exercício de reviver a história no próprio fazer. Cada detalhe mostra como era construída uma casa há mais de um século”, resume.