No Rio Grande do Sul, há ao menos oito agroindústrias produtoras de erva-mate da região do Alto Taquari que estão no processo para receber a Indicação Geográfica (IG). O reconhecimento é registrado pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) e é considerado fundamental, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária, para atribuir reputação, valor e identidade própria, além de diferenciar os produtos dos seus similares disponíveis no mercado.
O Jornal Cidades foi até a Expointer, em Esteio, no pavilhão da Agricultura Familiar, para conhecer uma dessas oito agroindústrias, a Mate e Vida, de Putinga. A empresa foi criada há quatro anos pelos produtores Sadi Fusiger, junto de seu filho, Quender Fusiger, e Moisés Weber, cunhado de Quender. "A gente sempre foi uma família que teve produção de erva-mate. Ter um produto do zero traz uma satisfação muito grande. No momento em que tu começas a acertar, que está bom, que aquele produto foi feito com teu saber fazer, dá uma identidade para aquilo que é único", comenta Quender.
A agroindústria participa do Pavilhão da Agricultura Familiar da feira, sob comando de Moisés Weber. Ele conta que a produção de erva-mate na região é antiga e os produtores evitam aplicar defensivos agrícolas, o que favorece a qualidade do produto. "A gente colhe a erva, corta os galhos e quebra. A parte mais fina do galho junto com a folha vai para a indústria. A partir dali, a gente passa por um processo de secagem, onde vai ter primeiro o sapeco, depois vai ter a secagem em si. Basicamente é a separação dos ramos maiores e a desidratação deles. Então, a erva vai perdendo o seu teor de umidade. Em seguida, passa a ser picada e vira a erva cancheada. Após, a gente vai deixar ela perder um pouco do calor e vai chegar numa condição normal de temperatura. Depois disso, a gente já vai moer de acordo com o tipo de erva que se quer produzir, mais fina, mais grossa ou média", explica Moisés o passo a passo da produção.
A Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS) é o órgão responsável pelo acompanhamento e suporte necessários para alcançar a certificação de IG. O gerente estadual de classificação e certificação da Emater, Mateus Rocha, explica o que é considerado nesse processo. "A análise da questão geográfica, questão de clima, solo, relevo e a questão cultural. Também tem toda a questão de etnias que colonizaram a região e formas de cultivo. Tudo isso é levado em consideração quando a gente vai buscar fazer essa indicação geográfica de um local", diz.
Até o momento, a Mate e Vida passou pelo processo de especificações técnicas, que está em avaliação pelo Inpi. "Temos um trabalho de pesquisa grande, que aponta várias características da nossa erva-mate que nos diferencia de outras regiões, como sua suavidade. Muitas delas em função do nosso tipo de solo, nossa altitude e outras questões voltadas ao nosso saber fazer, ou seja, da nossa forma de processamento", explica Quender.
A Mate e Vida participa da Expointer desde 2021, e neste ano superou as vendas de 2024. A novidade lançada é a erva-mate com manga e chá, vendida a R$ 12. Além disso, vendem pacotes laminados, de R$ 8 e R$ 15 e aromatizador de ambientes com extrato de erva-mate, vendido a R$ 38.
Primeiro produto do tipo com certificação no Rio Grande do Sul comemora resultados de vendas com o selo
A erva-mate de Machadinho, município situado na região Nordeste, é considerada a primeira a receber este reconhecimento no Estado no ramo. A Associação dos Produtores de Erva Mate de Machadinho (Apromate) solicitou o pedido de reconhecimento de Indicação Geográfica em 2023 para Machadinho, e a agroindústria recebeu a IG em fevereiro deste ano, com o selo de Indicação de Procedência (IP).
A IP, de acordo com informações do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), é o nome geográfico de um país, cidade, região ou uma localidade de seu território que se tornou conhecido como centro de produção, fabricação ou extração de determinado produto. "Para nós é um avanço ter uma certificação de qualidade. Além de que, para mim, mesmo sendo uma agroindústria pequena, é um privilégio poder botar no mercado a primeira erva-mate com IG no estado do Rio Grande Sul. Então, para a gente é muito bom isso", conta o proprietário da agroindústria Barbaquá Machadinho, Alcir da Fonseca.
A agroindústria se destaca por produzir erva-mate através do sistema Barbaquá, um processo que utiliza a secagem das folhas de erva-mate. "O meu produto se destaca porque é artesanal, feito como os índios faziam antigamente. Nós temos só três agroindústrias no Rio Grande do Sul que têm licença para fazer esse tipo de erva-mate. Ela fica levemente defumada naturalmente pelo processo de secagem. A gente leva 24 horas secando. Ela dá um chimarrão com espuma melhor, o que torna o sabor diferenciado", explica Alcir, que criou a agroindústria em 2022.
Alcir aprendeu o método de produção com seu pai, que produzia há anos, porém sem estar de acordo com a legislação adequada para a comercialização. O produtor conta que trabalha lado a lado com sua esposa e seu filho, e juntos produzem cerca de 120 quilos por dia. O produto ganhou maior destaque após ser exportado para a Alemanha. "A Barão (empresa de erva-mate) exportava para a Alemanha e eu tenho uma boa amizade com o dono. E esse pessoal (da Barão) nos apresentou a eles e começamos a negociar. Fora do País eles dão um valor muito diferenciado no que é feito artesanal e a gente investiu no que eles queriam, num pacote de qualidade", conta. Os produtos estão expostos na banca 52 e são vendidos a R$ 25 e R$ 15, conforme a gramagem e a textura.