A região de Machadinho, situada no Noroeste do Rio Grande do Sul, foi reconhecida em fevereiro deste ano com a Indicação Geográfica (IG), do tipo Indicação de Procedência (IP), pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) devido à produção de erva-mate. O produto se destaca tanto pela produção artesanal, pois é feito através do sistema Barbaquá, um processo que utiliza a secagem das folhas de erva-mate, assim como pelo cultivar Cambona 4 (um tipo de variedade de erva-mate), que torna o sabor do produto mais suave e faz produção feita na região única, a ponto de ganhar a IG.
A solicitação foi feita em 2023 pela Associação dos Produtores de Erva-Mate de Machadinho (Apromate). Segundo a entidade, o principal motivo foi a busca por valorização e proteção do produto e de sua origem, bem como o reconhecimento da qualidade e das características diferenciadas da erva-mate produzida naquela área.
Desde 1912 a região ganhou notoriedade pela produção de erva-mate, momento em que foi descoberta pelos descendentes italianos que estavam em busca da exploração dos ervais da mata nativa, denominados de "ouro verde". Atualmente, o Noroeste gaúcho produz cerca de 2,5 mil toneladas de erva-mate por ano, e parte de sua produção é exportada para 10 países, especialmente para o Uruguai e países europeus, segundo a presidente da Apromate, Selia Felizari.
Em 1998, a cultivar Cambona 4 foi descoberta por um produtor local que cultivava em sua propriedade uma ervateira matriz de sementes e industrializava artesanalmente o sistema Barbaquá. "Ele notou que a erva-mate produzia um sabor mais suave e se diferenciava, também, no crescimento com relação às outras ervas que ele havia plantado. Então, ele trouxe essa informação para a indústria de erva-mate Cambona, que na época era administrada pela cooperativa, e a partir daí foram feitos testes de DNA dessa cultivar para verificar", conta a presidente. Em 2014, o cultivar foi registrado no Ministério da Agricultura, considerada a primeira de erva-mate do Rio Grande do Sul e a segunda do Brasil da folha.
Atualmente, há 400 produtores ativos na região, distribuídos entre os municípios de Barracão, Cacique Doble, Machadinho, Maximiliano de Almeida, Paim Filho, Sananduva, Santo Expedito do Sul, São João da Urtiga, São José do Ouro e Tupanci do Sul. Segundo Selia, há 350 hectares de plantação na região, o que resulta em aproximadamente R$ 3 milhões em produção, divididos àqueles que produziram no ano, e 40% deste valor é destinado às suas despesas. Ela ressalta que a produção agrega valor às propriedades, assim como gera renda aos municípios através de empregos.
Além de Machadinho, apenas os municípios de Seberi e Mato Castelhano, nas regiões Norte e Noroeste do estado, têm autorização para fabricar erva-mate a partir do sistema Barbaquá, conforme as normas para fabricação de erva-mate publicadas em portaria da Secretaria Estadual da Saúde (SES/RS).
Para incentivar os produtores da região que ainda não cultivam a ervateira, Selia diz que há um programa de plantio com mais de 20 anos, que visa distribuir mudas aos produtores, assim como a difusão de tecnologias com o sistema agroflorestal Cambona 4. "A erva=mate é intercalada com outras árvores de espécies nativas. Então, essas espécies frutíferas nativas, que também atraem bastante aves, que são as que mais buscam as sementes de erva-mate e também de outras dessas outras espécies nativas que foram implantadas. Então, o sistema agroflorestal Cambona 4, que é o sistema onde se produz a erva-mate juntamente com o plantio de outras espécies nativas", explica.