Porto Alegre,

Publicada em 11 de Agosto de 2025 às 19:03

Enchentes trazem prejuízos ao ensino no Vale do Taquari

Em Cruzeiro do Sul, município devastado em 2024 pelo Rio Taquari, 200 dos 747 alunos migraram para outras escolas da região

Em Cruzeiro do Sul, município devastado em 2024 pelo Rio Taquari, 200 dos 747 alunos migraram para outras escolas da região

Prefeitura Cruzeiro do Sul/Divulgação/Cidades
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Larissa Britto
Larissa Britto Repórter
Na segunda reportagem da série que trata sobre a educação em cidades do Rio Grande do Sul, é a vez de falar sobre localidades que foram atingidas pelas cheias. É o caso do município de Cruzeiro do Sul, localizado a cerca de 120 quilômetros de Porto Alegre, no Vale do Taquari, apresentou uma queda de 48% nos índices de alfabetização da rede municipal entre os anos de 2023 e 2024. Os dados são da Pesquisa Alfabetiza Brasil, estudo realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep) e publicado em julho pelo Ministério da Educação (MEC). A cidade foi uma das mais devastadas pela enchente histórica que atingiu o estado em maio de 2024, o que refletiu na alfabetização dos alunos cruzeirenses.
Na segunda reportagem da série que trata sobre a educação em cidades do Rio Grande do Sul, é a vez de falar sobre localidades que foram atingidas pelas cheias. É o caso do município de Cruzeiro do Sul, localizado a cerca de 120 quilômetros de Porto Alegre, no Vale do Taquari, apresentou uma queda de 48% nos índices de alfabetização da rede municipal entre os anos de 2023 e 2024. Os dados são da Pesquisa Alfabetiza Brasil, estudo realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep) e publicado em julho pelo Ministério da Educação (MEC). A cidade foi uma das mais devastadas pela enchente histórica que atingiu o estado em maio de 2024, o que refletiu na alfabetização dos alunos cruzeirenses.
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Em 2023, os índices de alfabetização no município eram de 68,2%. Já em 2024 somente 35,2% dos alunos entre o primeiro e terceiro ano do ensino fundamental eram considerados alfabetizados. Posteriormente às enchentes, cerca de 200 dos 747 alunos deixaram de estudar no município, visto que duas das cinco escolas de ensino fundamental da rede municipal foram severamente destruídas. O Mapa Único do Plano Rio Grande aponta que, à época, o município decretou situação de calamidade, já que 4,7 mil habitantes foram atingidos, representando 41,4% da população, assim como 3 mil dos 6,6 mil endereços da cidade.

As escolas de ensino fundamental Passo de Estrela e Antônio Domingos Ciceri Filho deverão ser reconstruídas com aporte do governo federal, de acordo com a secretária de Educação Roselene Marmitt. Além disso, a escola Jacob Sehn foi reconstruída através de investimentos feitos por uma empresa privada de Santa Catarina, que aplicou cerca de R$ 1 milhão, e hoje atende 375 alunos no bairro Glucostark.

Para incentivar os alunos que ainda não foram plenamente alfabetizados, a secretária diz que será empregada a formação continuada aos docentes, a fim de aprimorar suas habilidades no espaço escolar. “Os incentivos além do nosso trabalho e dedicação, assim como o apoio aos professores, não vão ser possível. Porque, em questões financeiras, o município trabalha no limite. A Secretaria de Educação só consegue manter o que tem”, pontua. Os investimentos na educação em 2024 foram de R$ 15,3 milhões, representando 28,2% do orçamento público. Para este ano, conforme informações da prefeitura, os investimentos previstos são de R$ 21 milhões, ou 29% do orçamento público.
De acordo com Roselene, o objetivo da gestão municipal para os próximos anos é estabelecer o turno integral nas escolas que serão reconstruídas, a fim de dedicar-se exclusivamente às dificuldades dos estudantes. “Nesse quesito de turno integral, no próximo ano nós pretendemos aumentá-lo. Porque agora as escolas não têm espaço físico adequado. Hoje somente em uma escola nós poderíamos ampliar para o turno integral”, afirma. Já neste ano a secretaria ampliou o seu quadro de servidores. Dessa forma, a administração poderá auxiliar e orientar os 60 professores da rede nas propostas e metodologias a serem aplicadas em sala de aula.
Parte da infraestrutura das escolas começou a ser recuperada para receber os alunos | Prefeitura Cruzeiro do Sul/Divulgação/Cidades
Parte da infraestrutura das escolas começou a ser recuperada para receber os alunos Prefeitura Cruzeiro do Sul/Divulgação/Cidades


Na cidade de Taquari, a cerca de 58 quilômetros de Cruzeiro do Sul, a situação é semelhante. Em 2023, 49,6% dos alunos das seis escolas de ensino fundamental foram alfabetizados. Em 2024, porém, o MEC registrou somente 13,2% dos 2 mil alunos alfabetizados. O número é um dos piores do Rio Grande do Sul, segundo o MEC,

No entanto, a Secretaria de Educação do município aponta um avanço no aprendizado escolar, opondo-se aos dados da Pesquisa Alfabetiza Brasil, do Inep. Segundo dados do Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Rio Grande do Sul (Saers) de 2023, 78% dos alunos dos anos iniciais de Taquari estavam alfabetizados. Esse índice evoluiu em 1% em 2024, ou seja, passou para 79%, período em que o investimento na educação municipal foi de mais de R$ 27,6 milhões. Após ser questionada sobre o baixo índice apresentado pela pesquisa nacional, a secretária Maristel Charão, que assumiu a pasta em janeiro, contestou a discrepância do dado publicado pelo Ministério da Educação.

Apesar disso, a secretária avalia que a qualidade da educação está progredindo no município desde 2021. “Avançamos bastante no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e chegamos em 2023 com 6,1 pontos. Temos também os dados de 2025 do Compromisso Nacional Criança Alfabetizada (CNCA) e avançamos o ciclo I. Nós temos 37% das crianças no nível de aprendizado adequado e 28% no nível intermediário, ultrapassando os 60%. No ciclo II nós já temos 76% das crianças em um nível adequado”, explica.
O CNCA garante a alfabetização de todas as crianças do Brasil até o final do segundo ano do ensino fundamental, além de recuperar aprendizagens de alunos do terceiro, quarto e quinto ano afetados pela pandemia. Dentre as propostas do CNCA, destaca-se a promoção e a equidade educacional, sendo considerados aspectos regionais, socioeconômicos, étnico-raciais e de gênero. Além disso, de acordo com o MEC, a iniciativa promove a colaboração entre os entes federativos e o fortalecimento das formas de cooperação entre estados e municípios.

Desde 2022, a gestão municipal implantou o turno integral em três escolas em turmas de primeiro e segundo ano do ensino fundamental. Para as turmas em que não há este período letivo complementar, foi estabelecido um contraturno semanal a fim de desenvolver projetos diferenciados e recomposição de aprendizagem. De acordo com a Secretaria de Educação de Taquari, o investimento para a pasta em 2025 é de R$ 19,4 milhões, representando 28% do orçamento municipal. Por meio deste recurso, será possível implantar o turno integral a todos os 687 alunos dos anos iniciais a partir da conclusão das obras de uma nova escola de ensino fundamental, prevista para ser entregue até o fim do ano.

A secretária reforça que o município investe em formação continuada dos 246 professores tanto da educação infantil, como da educação básica. “Este ano nós priorizamos alguns projetos, como a educação socioemocional, que consiste em vir um tutor nas escolas para fazer essa atividade com as famílias e com os professores. Também priorizamos dois trabalhos, o projeto Leia e o Educa-me, onde um é voltado à leitura e o outro à educação ambiental”, diz.

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