O aumento da passagem de ônibus para R$ 7,40 em Gravataí, em vigor desde sábado (19), é oriundo de um desequilíbrio no caixa que vem desde a pandemia. “Como todo ano os custos sobem e a receita está diminuindo, estamos na contramão de um sistema autossustentável”, destaca o secretário de Parcerias Estratégicas, Projetos e Captação de Recursos do município, Guilherme Ósio. Ele atuou como secretário de Mobilidade Urbana na definição da nova tarifa.
Com 0,80 passageiros para cada quilômetro rodado, os valores arrecadados já não são suficientes para bancar o funcionamento das frotas e a prefeitura precisa arcar, desde 2022, com 40% dos custos da operação. “Hoje, se o usuário fosse pagar integralmente, a taxa passaria dos R$ 11,00”, diz Ósio. Antes da pandemia, o sistema era 100% equilibrado e bancado pela tarifa pública.
Ainda em 2022, o secretário destaca que começou a se discutir um novo marco para o transporte, que prevê algumas alterações e revisões da Política Nacional de Mobilidade Urbana. No entanto, o processo que tramita entre Senado e Câmara Federal ainda não avançou. A expectativa é que sejam aportadas receitas alternativas e acessórias pelo governo federal que, consequentemente, reduziriam o valor das passagens.
Enquanto o auxílio não chega, o cenário de desequilíbrio está posto. De acordo com Ósio, as duas principais causas para o aumento da passagem, em proporções diferentes, são o preço do diesel, que subiu em cerca de 80% desde 2019, e o custo com funcionários, que atinge os cofres em menor escala. “Até o ano passado, o sistema de transporte entrava numa cadeia de serviços que tinha uma desoneração da folha, o que auxiliava no equilíbrio econômico-financeiro. A partir desse ano, de forma gradual, isso já tem sido alterado”, detalha. O planejamento é que a reoneração seja 100% estabelecida até 2027.
Ademais, em comparação com os dados de maio de 2019 para maio de 2025, são 30% a menos de passageiros pagantes em circulação. Trata-se, segundo o secretário, de uma mudança cultural da população. Além dos impactos da pandemia, como a crescente do home office no País, há o impacto dos aplicativos de transporte, notório há mais de uma década, analisa.
O próximo passo em Gravataí está na definição do novo sistema de ônibus, através de uma concessão pública. O contrato vigente, com a Sociedade de Ônibus Gigante (Sogil), vence em 2026. Para o processo, foi contratada a Fundação de Estudos de Pesquisa (FIP), vinculada à Universidade de São Paulo (USP), para fazer uma série de avaliações do sistema.
“Uma das etapas que eles estão executando neste momento, e ainda não está finalizada, é o levantamento dos desequilíbrios do contrato atual”, conta Ósio. “Também pedimos que avaliassem a composição da frota. Sabemos que tem linhas deficitárias, podemos trabalhar com um veículo um pouco menor para reduzir o custo. Essa otimização e ajuste fino só dá para fazer no novo contrato, não tem como fazer isso no atual, que é de 2006 (renovado em 2016)”, completa. A expectativa é que o edital seja publicado até o final deste ano e, no semestre seguinte, haja a concorrência.