Porto Alegre,

Publicada em 14 de Julho de 2025 às 11:56

Startup de Rio Grande adapta tecnologia agrícola para prevenir enchentes urbanas

Modelo de operação da tecnologia Hydra prevê que os municípios sejam os responsáveis pelo uso do sistema

Modelo de operação da tecnologia Hydra prevê que os municípios sejam os responsáveis pelo uso do sistema

EVANDRO OLIVEIRA/JC
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Josimara Megiato
Uma startup de Rio Grande está adaptando uma tecnologia originalmente desenvolvida para o agronegócio com o objetivo de auxiliar no enfrentamento das cheias em áreas urbanas. A GreenNext foi uma das 113 empresas contempladas com recursos do edital da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs), viabilizado pelo Fundo do Plano Rio Grande. Ao todo, mais de R$ 14,4 milhões, dos quais R$ 1,5 milhão é voltado para 15 empresas da metade Sul do RS, serão destinados a soluções voltadas à resiliência climática e prevenção de desastres. 
Uma startup de Rio Grande está adaptando uma tecnologia originalmente desenvolvida para o agronegócio com o objetivo de auxiliar no enfrentamento das cheias em áreas urbanas. A GreenNext foi uma das 113 empresas contempladas com recursos do edital da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs), viabilizado pelo Fundo do Plano Rio Grande. Ao todo, mais de R$ 14,4 milhões, dos quais R$ 1,5 milhão é voltado para 15 empresas da metade Sul do RS, serão destinados a soluções voltadas à resiliência climática e prevenção de desastres. 
Com investimento de aproximadamente R$ 130 mil, a GreenNext vai implementar o sistema Hydra, um conjunto de tecnologias que inclui sensores, estações meteorológicas e dispositivos de automação para o controle remoto de bombas de escoamento de água. A iniciativa será testada em uma cidade ainda a ser definida pelo governo estadual, com previsão de conclusão do projeto em fevereiro de 2026.
 
De acordo com Victor Botelho, sócio e diretor de projetos da empresa, o sistema já é utilizado no meio rural para gestão de recursos hídricos, especialmente em áreas de cultivo de arroz. No campo, a tecnologia tem contribuído para a economia de energia e a racionalização do uso da água. Agora, com adaptações, será aplicada no meio urbano.
“O sistema Hydra é composto por três equipamentos principais: o Hydra NVL, que monitora o nível de canais; o Hydra HDS, com estações meteorológicas inteligentes; e o Hydra Active, que permite o acionamento remoto de bombas”, explica Botelho. Segundo ele, um dos principais objetivos é possibilitar a retirada mais rápida da água em situações de cheia, especialmente quando o acesso físico às estações de bombeamento é comprometido.
No caso das cidades, o sistema precisou ser adaptado para transmitir dados em intervalos menores — a cada cinco minutos — para responder de forma mais eficiente às alterações nos níveis de água. No meio rural, esse intervalo é de 30 minutos. “A gente já tinha a tecnologia consolidada no campo, mas foram necessárias alterações no envio e no tratamento dos dados para se adequar às exigências do ambiente urbano”, afirma Botelho.
Em 2023, a GreenNext já havia doado três equipamentos ao município de Rio Grande, que foram instalados em pontos estratégicos como a Ponte dos Veículos, a Granel Química e a Refineria Riograndense. A ação ajudou a Prefeitura e a Defesa Civil no monitoramento de áreas de risco durante períodos de cheia. A atuação automatizada dos equipamentos poderá, no futuro, permitir que bombas sejam acionadas remotamente sem intervenção humana, evitando atrasos em momentos críticos.
O projeto prevê, além da entrega dos equipamentos, treinamento para equipes municipais e suporte técnico contínuo. Segundo Botelho, essa relação próxima com o poder público local será fundamental para ajustar o sistema às realidades de cada localidade. “Por mais que o produto já exista, cada cidade tem características específicas. Por isso, o acompanhamento técnico e a troca com quem está na ponta do processo são importantes para o aprimoramento contínuo da solução”, diz.
A GreenNext surgiu em 2020, no Centro de Convergência de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), a partir da união de estudantes e profissionais das áreas de engenharia química e automação. Inicialmente voltada ao setor agropecuário, a empresa passou por programas de aceleração e recebeu investimentos de fundos privados. Com o novo projeto, a expectativa é consolidar também sua atuação no setor público municipal.
Segundo Botelho, a visibilidade trazida pelo edital da Fapergs tem gerado novas oportunidades. “Essa validação nos permitiu dialogar com outras prefeituras e pensar em ampliar a aplicação da tecnologia. Já temos negociações em andamento com municípios da região sul, como Rio Grande, Pelotas e Santa Vitória do Palmar”, revela.
A proposta, além de buscar eficiência no combate a enchentes, também pretende contribuir com a modernização da gestão de infraestrutura urbana. A ideia é que, no futuro, o sistema possa gerar históricos de dados para subsidiar decisões estratégicas em períodos críticos, como em eventos de chuva extrema. “A base de operação continua sendo as bombas, mas o que o sistema oferece é o suporte tecnológico para que essas estruturas possam ser utilizadas no momento certo, de forma automática, e com base em informações confiáveis e atualizadas em tempo real”, diz Botelho.
O modelo de operação prevê que os municípios sejam os responsáveis pelo uso do sistema, com a GreenNext atuando como fornecedora e prestadora de serviços. “O nosso papel é garantir que o equipamento funcione adequadamente e permaneça em boas condições. O impacto final será percebido pela população por meio das ações mais rápidas e eficientes da gestão pública”, finaliza.

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