Uma startup de Rio Grande está adaptando uma tecnologia originalmente desenvolvida para o agronegócio com o objetivo de auxiliar no enfrentamento das cheias em áreas urbanas. A GreenNext foi uma das 113 empresas contempladas com recursos do edital da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs), viabilizado pelo Fundo do Plano Rio Grande. Ao todo, mais de R$ 14,4 milhões, dos quais R$ 1,5 milhão é voltado para 15 empresas da metade Sul do RS, serão destinados a soluções voltadas à resiliência climática e prevenção de desastres.
Com investimento de aproximadamente R$ 130 mil, a GreenNext vai implementar o sistema Hydra, um conjunto de tecnologias que inclui sensores, estações meteorológicas e dispositivos de automação para o controle remoto de bombas de escoamento de água. A iniciativa será testada em uma cidade ainda a ser definida pelo governo estadual, com previsão de conclusão do projeto em fevereiro de 2026.
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De acordo com Victor Botelho, sócio e diretor de projetos da empresa, o sistema já é utilizado no meio rural para gestão de recursos hídricos, especialmente em áreas de cultivo de arroz. No campo, a tecnologia tem contribuído para a economia de energia e a racionalização do uso da água. Agora, com adaptações, será aplicada no meio urbano.
“O sistema Hydra é composto por três equipamentos principais: o Hydra NVL, que monitora o nível de canais; o Hydra HDS, com estações meteorológicas inteligentes; e o Hydra Active, que permite o acionamento remoto de bombas”, explica Botelho. Segundo ele, um dos principais objetivos é possibilitar a retirada mais rápida da água em situações de cheia, especialmente quando o acesso físico às estações de bombeamento é comprometido.
No caso das cidades, o sistema precisou ser adaptado para transmitir dados em intervalos menores — a cada cinco minutos — para responder de forma mais eficiente às alterações nos níveis de água. No meio rural, esse intervalo é de 30 minutos. “A gente já tinha a tecnologia consolidada no campo, mas foram necessárias alterações no envio e no tratamento dos dados para se adequar às exigências do ambiente urbano”, afirma Botelho.
Em 2023, a GreenNext já havia doado três equipamentos ao município de Rio Grande, que foram instalados em pontos estratégicos como a Ponte dos Veículos, a Granel Química e a Refineria Riograndense. A ação ajudou a Prefeitura e a Defesa Civil no monitoramento de áreas de risco durante períodos de cheia. A atuação automatizada dos equipamentos poderá, no futuro, permitir que bombas sejam acionadas remotamente sem intervenção humana, evitando atrasos em momentos críticos.
O projeto prevê, além da entrega dos equipamentos, treinamento para equipes municipais e suporte técnico contínuo. Segundo Botelho, essa relação próxima com o poder público local será fundamental para ajustar o sistema às realidades de cada localidade. “Por mais que o produto já exista, cada cidade tem características específicas. Por isso, o acompanhamento técnico e a troca com quem está na ponta do processo são importantes para o aprimoramento contínuo da solução”, diz.
A GreenNext surgiu em 2020, no Centro de Convergência de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), a partir da união de estudantes e profissionais das áreas de engenharia química e automação. Inicialmente voltada ao setor agropecuário, a empresa passou por programas de aceleração e recebeu investimentos de fundos privados. Com o novo projeto, a expectativa é consolidar também sua atuação no setor público municipal.
Segundo Botelho, a visibilidade trazida pelo edital da Fapergs tem gerado novas oportunidades. “Essa validação nos permitiu dialogar com outras prefeituras e pensar em ampliar a aplicação da tecnologia. Já temos negociações em andamento com municípios da região sul, como Rio Grande, Pelotas e Santa Vitória do Palmar”, revela.
A proposta, além de buscar eficiência no combate a enchentes, também pretende contribuir com a modernização da gestão de infraestrutura urbana. A ideia é que, no futuro, o sistema possa gerar históricos de dados para subsidiar decisões estratégicas em períodos críticos, como em eventos de chuva extrema. “A base de operação continua sendo as bombas, mas o que o sistema oferece é o suporte tecnológico para que essas estruturas possam ser utilizadas no momento certo, de forma automática, e com base em informações confiáveis e atualizadas em tempo real”, diz Botelho.
O modelo de operação prevê que os municípios sejam os responsáveis pelo uso do sistema, com a GreenNext atuando como fornecedora e prestadora de serviços. “O nosso papel é garantir que o equipamento funcione adequadamente e permaneça em boas condições. O impacto final será percebido pela população por meio das ações mais rápidas e eficientes da gestão pública”, finaliza.