Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 09 de Junho de 2025 às 12:35

Projeto da FURG em São Lourenço do Sul estimula cultivo e consumo de plantas alimentícias não convencionais

Projeto PancPop, do campus da Furg em São Lourenço do Sul, trabalha na pesquisa das plantas alimentícias não convencionais

Projeto PancPop, do campus da Furg em São Lourenço do Sul, trabalha na pesquisa das plantas alimentícias não convencionais

Furg/Reprodução/Instagram/JC
Compartilhe:
Josimara Megiato
De Rio Grande, especial para o JC
De Rio Grande, especial para o JC
Um projeto de extensão da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), com sede no campus de São Lourenço do Sul, tem promovido a valorização das Plantas Alimentícias Não Convencionais (Pancs) como estratégia de geração de renda, preservação da biodiversidade e fortalecimento da agroecologia na Região Sul do RS. A iniciativa, batizada de PancPop, desenvolve ações com agricultores familiares, comunidades quilombolas, assentados da reforma agrária e consumidores interessados em alimentação saudável e diversificada.
Coordenado pela professora Jaqueline Durigon, o projeto vem ganhando destaque nas feiras livres de São Lourenço do Sul, onde é possível encontrar uma variedade cada vez maior de produtos oriundos de plantas até então pouco conhecidas do público em geral. São folhas, flores, raízes e rizomas como ora-pro-nóbis, araruta, açafrão-da-terra, inhame, capuchinha, tupinambo e celosia, entre outras, cultivadas com apoio técnico da universidade e vendidas diretamente ao consumidor.
 
“A pergunta que sempre fazemos é: essa planta está no café da manhã, no almoço ou na janta da maioria das pessoas? Se não está, é possível que seja uma panc”, explica Jaqueline. O conceito envolve espécies comestíveis que, por razões culturais ou mercadológicas, foram excluídas da alimentação cotidiana, apesar de seu alto valor nutricional e de cultivo simples.
O PancPop vai além do simples mapeamento de espécies, pontua a professora. A equipe trabalha com oficinas, cursos, caminhadas de reconhecimento, degustações em feiras e dias de campo para compartilhar conhecimentos com diferentes públicos — de estudantes e técnicos a consumidores. O objetivo é romper o preconceito histórico de que PANCs são "mato", “planta de pobre” ou alimentos a serem consumidos apenas em momentos de escassez, reforça Durigon.
“Essas plantas são muitas vezes superiores a hortaliças convencionais, tanto em nutrientes quanto em facilidade de cultivo. O projeto busca mostrar que elas podem ser inseridas na alimentação do dia a dia e ainda gerar renda para os agricultores”, afirma a coordenadora. Ela destaca que muitos agricultores já tinham conhecimento sobre as espécies, mas não se sentiam valorizados por isso. “Hoje, vemos o resgate desse saber tradicional como algo fundamental.”
O projeto começou oficialmente em 2018 e hoje conta com a participação de cerca de 25 pessoas diretamente envolvidas, entre professores, estudantes de graduação e pós-graduação, técnicos e agricultores. A produção do conhecimento é feita de forma colaborativa, unindo saberes científicos e populares. Pesquisas etnobotânicas com comunidades locais ajudam a identificar quais espécies eram ou ainda são utilizadas na alimentação, e a partir desses relatos, são feitos análises e testes para garantir a segurança e os benefícios nutricionais dos alimentos.
Além da pesquisa de campo, o PancPop mantém parcerias com instituições como a Embrapa Hortaliças, de Brasília, e outros núcleos acadêmicos no Brasil, o que amplia o alcance e a confiabilidade das informações. Um dos frutos desse trabalho já é visível: um livro com dados sobre 20 espécies de pancs identificadas na região de São Lourenço do Sul, contendo usos culinários, propriedades nutricionais e aspectos culturais.
A ampliação do cultivo também é uma meta estratégica. “Antes a gente fazia extrativismo, colhia na rua ou na mata. Agora temos áreas específicas de cultivo com essas espécies. Isso garante regularidade e volume para abastecer as feiras e aumentar o acesso da população a esses alimentos”, detalha Durigon.
A popularização das pancs, no entanto, ainda enfrenta desafios. Um deles é o desconhecimento dos consumidores. Para enfrentá-lo, o grupo intensifica ações educativas, com distribuição de folders, receitas, presença em feiras e até degustações para mostrar, na prática, como essas plantas podem ser saborosas e versáteis na cozinha. “O que buscamos é combater a monotonia alimentar. As pessoas comem as mesmas coisas o ano inteiro: arroz, feijão, tomate, alface... As PANCs abrem um mundo de possibilidades, tanto para quem produz quanto para quem consome”, reforça a professora.
A receptividade tem sido positiva. A partir das feiras de São Lourenço, o interesse por essas espécies cresce em outras cidades da Região Sul e de todo o estado. “Já nos convidaram para eventos, cursos e palestras em diversas regiões. Isso mostra que estamos no caminho certo”, conclui Jaqueline.

Notícias relacionadas