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Publicada em 03 de Junho de 2025 às 10:56

Apesar de aval do Ibama, prefeito de São José do Norte mantém preocupações com exploração de titânio

Licença de instalação de mina de titânio foi comunicada pela Rio Grande Mineração em reunião com o prefeito de São José do Norte, Neromar Guimarães (c)

Licença de instalação de mina de titânio foi comunicada pela Rio Grande Mineração em reunião com o prefeito de São José do Norte, Neromar Guimarães (c)

Prefeitura de São José do Norte/Divulgação/JC
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Lívia Araújo
Lívia Araújo Repórter
Mesmo após a emissão da Licença de Instalação (LI) por parte do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o prefeito de São José do Norte, Neromar Guimarães (União), reafirma suas preocupações em relação ao projeto de mineração de titânio liderado pela empresa Rio Grande Mineração S.A. (RGM) e que tem uma estimativa de investimentos de até R$ 1,7 bilhão.
Mesmo após a emissão da Licença de Instalação (LI) por parte do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o prefeito de São José do Norte, Neromar Guimarães (União), reafirma suas preocupações em relação ao projeto de mineração de titânio liderado pela empresa Rio Grande Mineração S.A. (RGM) e que tem uma estimativa de investimentos de até R$ 1,7 bilhão.
Segundo o prefeito, a posição da gestão municipal é de cautela, especialmente no que diz respeito à segurança hídrica e socioambiental do município.
Durante um encontro realizado em 27 de maio, representantes da RGM estiveram no gabinete do prefeito para comunicar oficialmente a emissão da LI pelo Ibama. Estiveram presentes também a secretária municipal de Meio Ambiente, Sabrina Azevedo, e o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Sustentável, Danubio Roig. Embora o licenciamento seja federal e não passe pela esfera municipal, o Executivo de São José do Norte mantém sua posição crítica ao projeto.
Em entrevista ao Jornal do Comércio, o prefeito detalhou sua principal preocupação: a possibilidade de contaminação do lençol freático, que é a principal fonte de abastecimento de água potável da população. “São José do Norte tem um lençol freático muito aflorante, muito próximo à superfície. E, obviamente, que uma draga trabalhando ali vai interferir nesse lençol. Meu maior medo é a contaminação da água”, disse.
Guimarães reconhece a competência técnica do Ibama e a necessidade de confiar em seus pareceres, mas afirma que ainda não se sente convencido de que não há riscos. “Não sou biólogo, sou professor de português. Então meu conhecimento é limitado. Mas o que ouvi dos técnicos ainda não me deu segurança. Por isso mantenho minhas reservas”, reiterou.
A desconfiança de parte da comunidade não é recente. Na década de 1990, um projeto semelhante, o então chamado Projeto Bojuru, de propriedade da empresa Paranapanema, foi arquivado após forte pressão de grupos ambientalistas. O temor era justamente o impacto sobre os recursos hídricos. Anos depois, a RGM adquiriu os direitos minerários da Paranapanema, da Rio Tinto e da Amazônia Mineração, retomando a proposta, agora na área do Retiro, e que finalmente recebeu a chancela do Ibama em 2025.
Mesmo com o potencial de geração de tributos e compensações financeiras para o município, ainda não há estimativas claras por parte da prefeitura sobre o quanto será revertido em benefícios diretos à população. “Sabe-se que será um investimento grande, mas não temos clareza sobre quanto disso chega efetivamente ao município. Nem os produtores têm noção de quanto minério há em suas propriedades. É tudo muito nebuloso ainda”, disse o prefeito.
Guimarães ressalta que o projeto de mineração é uma decisão do governo federal e que o município tem pouca margem de interferência. Ainda assim, afirma que continuará acompanhando cada etapa do processo e exigindo transparência, responsabilidade ambiental e a participação da sociedade nas decisões.
O diretor de relações institucionais da RGM, Raffaele Cameli, sustenta que "o Bojuru e toda essa área da costa do Rio Grande do Sul já tinha sido pesquisada por as empresas anteriores, como a Paranapanema. Agora, a LI se deu só no chamado Retiro Central". O fato de a maior parte da área ser coberta por espécies arbóreas como o pinus, considerada invasora, diz Cameli, "nos favoreceu muito. Não existe a supressão de vegetação nativa", pontuou. 
Cameli ainda defende que "ter conseguido essa LI nos dá muita segurança. A gente sabe que o Ibama é muito rigoroso, esse projeto foi exaustivamente analisado. Recebemos inúmeras visitas, houve uma audiência pública, depois uma reunião pública, ou seja, o Ibama teve o cuidado de tomar todas as precauções para que fôssemos agraciados com a LI", concluiu.
Colaborou Josimara Megiato, de Rio Grande

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