Um ano após enfrentar uma das maiores catástrofes ambientais e humanitárias da sua história, Pelotas intensifica investimentos para combater o déficit histórico de drenagem urbana e reforçar a proteção contra cheias. Em maio de 2024, cerca de 100 mil moradores — quase um terço da população — estiveram em áreas de risco em decorrência das enchentes que afetaram diversos bairros da cidade, como Balsa, Simões Lopes e Laranjal.
Na época, medidas emergenciais foram necessárias. Barreiras de contenção feitas com sacos de areia, saibro e cascalho foram erguidas para conter a força das águas da Lagoa dos Patos e do Canal São Gonçalo. Casas de bombas também foram instaladas em pontos estratégicos para tentar mitigar os danos. No Laranjal, bairro litorâneo e um dos mais impactados, a situação evidenciou a necessidade urgente de reforçar a infraestrutura existente.
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Agora, o cenário ainda é de reconstrução e busca por soluções duradouras. Entre os investimentos em andamento, destaca-se o projeto de elevação da cota do dique de proteção do Laranjal para quatro metros, utilizando recursos estaduais de R$ 25 milhões, anunciados em fevereiro deste ano. A expectativa é que essa obra aumente a capacidade de contenção contra novas elevações do nível da água.
Além disso, a Prefeitura e o Serviço Autônomo de Saneamento de Pelotas (Sanep) estão realizando a limpeza e o aprofundamento dos canais de drenagem, como o da Avenida Espírito Santo, para ampliar a vazão das águas. Conforme o diretor-presidente do Sanep, Ellemar Wojahn, ações simultâneas estão em curso para atacar diferentes frentes de vulnerabilidade.

Contenção emergencial em Pelotas em maio do ano passado foi feita com sacos de areia, saibro e cascalho
Matheus Cabistany/Divulgação/JC
“Estamos melhorando o sistema de drenagem do Laranjal. O bairro tem um dique de proteção, mas, em uma enchente como a do ano passado, ele foi insuficiente. Ainda assim, há um sistema que protege contra cheias de até certo porte”, explicou Wojahn. Segundo ele, estão sendo investidos cerca de R$ 3 milhões em limpeza dos maiores canais e R$ 12 milhões na modernização da casa de bombas Farroupilha, outra estrutura vital para o escoamento de águas pluviais no município.
Essas iniciativas, no entanto, são apenas parte da resposta de Pelotas para um problema estrutural que se agravou com a crise climática. A gestão municipal também anunciou, no final de março, novos investimentos de R$ 56,2 milhões por meio do Novo PAC, Programa de Aceleração do Crescimento, do governo federal. O pacote contempla a construção de novas redes e travessias de drenagem pluvial na cidade, além da elevação do dique da Estrada do Engenho, no bairro Navegantes, para quatro metros — padrão estabelecido como cota de segurança.
De acordo com a prefeitura, as obras visam solucionar problemas crônicos de alagamentos, especialmente em áreas como o Areal Fundos. A proposta é, progressivamente, reduzir a vulnerabilidade urbana às inundações e aumentar a resiliência da infraestrutura frente a eventos climáticos extremos, que tendem a se tornar mais frequentes e severos.
O diretor do Sanep reforça que os desafios são grandes, mas a prioridade é clara: “Estamos, aos poucos, atacando esses problemas históricos de alagamentos com obras de drenagem. Não é possível resolvê-los de uma vez, mas gradativamente estamos enfrentando”.
As marcas deixadas pela enchente de 2024 ainda estão vivas na memória da população de Pelotas. Mas, com planejamento, investimentos e obras estruturantes, a cidade busca um futuro mais seguro e menos vulnerável às forças da natureza.
Colaborou Lívia Araújo