O presidente eleito da Bolívia, Rodrigo Paz, de centro-direita, afirmou em seu discurso de vitória que o seu governo terá como prioridade a recuperação econômica e a reabertura do país ao exterior após duas décadas de domínio do Movimento ao Socialismo (MAS), o partido que teve em Evo Morales sua principal figura.
Com tom de reconstrução e promessa de diálogo, Paz se apresentou como o símbolo de uma nova geração política disposta a romper com os extremos ideológicos que dividiram a Bolívia na última década. "A ideologia não dá de comer. O que dá de comer é o direito ao trabalho, instituições fortes e segurança jurídica", afirmou ele a apoiadores, minutos após a confirmação de sua vitória sobre Jorge "Tuto" Quiroga no segundo turno da eleição presidencial.
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O presidente eleito buscou adotar um tom conciliador e prometeu um governo de unidade. "Vamos governar com todos os homens e mulheres, os melhores homens e mulheres que queiram ajudar a pátria", disse, enfatizando que pretende incluir diferentes setores políticos e regionais em sua administração. Ele terá ao seu lado o vice Edman Lara, um ex-capitão da polícia de 39 anos, que ajudou a alavancar a popularidade do senador.
Paz ainda criticou o clima de hostilidade que marcou a política boliviana nos últimos anos. "Não podemos permitir que o insulto e o ódio sejam parte do exercício democrático na Bolívia", disse. Com todas as urnas apuradas, Paz obteve 58,5% dos votos, contra 41,4% de Quiroga, segundo o órgão eleitoral boliviano.
A gestão do atual presidente, Luis Arce, foi marcada pelos embates constantes com Evo, seu sucessor e antigo padrinho político que agora vive como foragido da Justiça em um bunker no coração da produção de coca. Em entrevista à Folha, Arce acusou Evo de fazer um pacto com a direita para destruir o governo.
O presidente eleito, por sua vez, disse que o país inicia uma nova etapa política marcada pela esperança, o trabalho e a reconciliação. Segundo ele, a "Bolívia respira ventos de mudança e de renovação. "Temos um só objetivo: precisamos seguir adiante, mas também abrir a Bolívia ao mundo, retomar um papel", disse, sinalizando interesse em fortalecer as relações internacionais do país.
O novo presidente encerrou seu discurso com um apelo à fé. "Deus, a família e a pátria são a base da visão que temos em relação ao nosso compromisso com toda a Bolívia". E concluiu: "Vou trabalhar todas as horas que Deus me der para transformar este país".
O próximo presidente deverá governar, a partir de 9 de novembro, com um país em grave crise econômica, com a falta de investimento em exploração de gás resultando em recessão, inflação alta, escassez de dólares e falta de combustíveis.
Paz planeja cortar gastos públicos considerados supérfluos, estimando um total de US$ 1,5 bilhão em cortes. Ele argumenta que, ao reduzir a gordura da administração e investir em infraestrutura e serviços básicos, a economia poderá se recuperar de forma menos dolorosa.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva parabenizou Paz pela vitória e afirmou ter reiterado "a prioridade do governo brasileiro no relacionamento com a Bolívia, com a qual compartilhamos extensa fronteira, mas também uma relação de amizade e respeito". "O presidente eleito pode contar com o meu compromisso de seguir trabalhando em benefício de nossas relações bilaterais e de cooperação em temas de interesse mútuo. A Bolívia é parceira fundamental do Brasil na construção de uma América do Sul mais integrada, justa e solidária", completou.
Folhapress