Em um novo capítulo do escândalo de suposta corrupção envolvendo a irmã do presidente Javier Milei, Karina, um juiz federal da Argentina proibiu que meios de comunicação publiquem gravações feitas dentro da Casa Rosada.
O caso que marca o pior momento do governo do ultraliberal começou há quase duas semanas, quando áudios atribuídos ao diretor à época da Andis (Agência Nacional para Pessoas com Deficiência), Diego Spagnuolo, apontam que a irmã do presidente se beneficiaria do suposto esquema de propinas ao lado de seu assessor mais próximo, Eduardo Lule Menem.
Karina cobraria 3% da propina paga pela Drogaria Suizo Argentina - empresa responsável pela distribuição os medicamentos. Spagnuolo, que era advogado pessoal de Milei e próximo ao presidente, foi demitido da agência.
Tanto o ex-diretor da Andis quanto os sócios da empresa tiveram celulares apreendidos após diligências da polícia à pedido da Justiça e do Ministério Público. A Suizo Argentina tem ligação tanto com Lule quanto com seu primo, Martín Menem, que é presidente da Câmara dos Deputados.
O escândalo dos áudios se difundiu rapidamente no país - diferentes levantamentos apontam que mais de 90% dos argentinos ao menos ouviram falar do caso- e colou nos irmãos Milei a suspeita de corrupção. Sem oferecer uma versão contundente para se defender, o governo se viu paralisado pela expectativa de novos vazamentos.
Na última sexta-feira, além das gravações atribuídas a Spagnuolo, dois novos arquivos foram publicados pelo canal de steaming Carnaval, que havia divulgado as primeiras mensagens do ex-diretor.
Neles, uma voz que seria de Karina cobra empenho dos presentes em uma reunião, sem fazer menção às denúncias de Spagnuolo. "Não podemos entrar na briga. Temos de estar unidos", diz a primeira gravação. "Na verdade, eles não precisam estar aqui 24 horas por dia. Entro às 8h da manhã e saio às 11h da noite da Casa Rosada", diz o segundo arquivo.
O jornalista que divulgou as gravações afirmou que o arquivo completo tem quase uma hora de duração. O círculo íntimo do governo, que culpa a oposição pelos vazamentos, se fechou ainda mais e marcou uma reunião de emergência.
Em sua conta na rede social X, o porta-voz da Casa Rosada, Manuel Adorni, afirmou que as conversas privadas de Karina e outros funcionários foram gravadas, manipuladas e divulgadas para pressionar o Executivo. Para ele, a gravação foi ilegal e tem o objetivo de desestabilizar o país às vésperas das eleições legislativas nacionais (26 de outubro) e na província de Buenos Aires (próximo dia 7).
Na decisão, o juiz Alejandro Maraniello sustenta "que o direito à liberdade de expressão deve ceder às graves repercussões que a divulgação dos áudios de Karina poderia acarretar". "Tal situação configura danos difíceis ou impossíveis de reparar posteriormente", avalia.
Agências