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Publicada em 25 de Agosto de 2025 às 20:18

Fortalecimento da extrema direita foi consequência de portas abertas a refugiados, diz Merkel

Passados 10 anos, Angela diz que não se arrepende de ter aberto as fronteiras

Passados 10 anos, Angela diz que não se arrepende de ter aberto as fronteiras

OTAN/DIVULGAÇÃO/JC
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Agências
Perto do aniversário de dez anos da decisão histórica de abrir as fronteiras da Alemanha a refugiados, Angela Merkel declarou que seu ato provocou o fortalecimento da AfD, o partido de extrema direita do país. Em entrevista à emissora pública ARD, que estreia documentário sobre o tema nesta segunda-feira (25), a ex-premiê declarou que não se arrepende. "Isso certamente fortaleceu a AfD. Mas seria motivo para eu não tomar uma decisão que considero importante, correta, sensata e humana?"
Perto do aniversário de dez anos da decisão histórica de abrir as fronteiras da Alemanha a refugiados, Angela Merkel declarou que seu ato provocou o fortalecimento da AfD, o partido de extrema direita do país. Em entrevista à emissora pública ARD, que estreia documentário sobre o tema nesta segunda-feira (25), a ex-premiê declarou que não se arrepende. "Isso certamente fortaleceu a AfD. Mas seria motivo para eu não tomar uma decisão que considero importante, correta, sensata e humana?"
Em 2015, em plena crise de refugiados na Europa, Merkel fez um discurso marcado pela frase "Wir schaffen das" ("Vamos conseguir") ao sinalizar que abriria as fronteiras do país a milhares de refugiados no auge da crise humanitária provocada pela guerra da Síria. A opção de expulsá-los estava fora de cogitação, ela afirmou ao programa.
Merkel acredita que, naquele momento, muitas pessoas na Alemanha não queriam que seus valores sobre a dignidade humana "fossem traídos". "Elas estavam felizes e apoiaram os refugiados." Quase meio milhão de estrangeiros foram admitidos com flores e garrafas de água nas estações de trem, mas a lua de mel não durou muito.
Episódios de violência provocados por imigrantes logo ganharam destaque no noticiário. Em 2016, um tunisiano, que teve seu pedido de asilo negado, roubou um caminhão e invadiu um mercado de Natal no centro de Berlim matando 13 e ferindo dezenas. O atentado foi reivindicado pelo Estado Islâmico.
Dez anos depois, a AfD, que à época era uma sigla nanica, hoje concorre em popularidade com a CDU do atual premiê, Friedrich Merz. Em alguns levantamentos, já até supera o partido do político conservador.
"Hoje sabemos claramente que não conseguimos alcançar o objetivo que ela tinha em mente à época", declarou Merz sobre Merkel no mês passado. Números divulgados também nesta segunda apontam para o contrário. Em 2024, 64% dos admitidos em 2015 estavam empregados e 5% eram autônomos, o que deixava o quadro próximo à taxa geral da Alemanha, de 70%. Outras estatísticas, como contribuição à previdência e recebimento de benefícios sociais, também demonstram adaptação crescente ao país.
A percepção pública, no entanto, é outra. Discursos políticos imputam a imigrantes o custo crescente na área de habitação, por exemplo, mas os dados, de novo, vão em outra direção: em distritos com maior fluxo de refugiados os aluguéis sobem menos. Pesquisas mostram também que a xenofobia aumentou nas regiões que menos receberam imigrantes.

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