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Publicada em 12 de Julho de 2025 às 18:10

Brasil pode ganhar fôlego com reação global a tarifas de Trump

Presidente americano alega barreiras comerciais "injustas" e leva pânico ao mercado global com elevação de taxas

Presidente americano alega barreiras comerciais "injustas" e leva pânico ao mercado global com elevação de taxas

AFP
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Claudio Medaglia
Claudio Medaglia Repórter
O Brasil pode ganhar novo espaço de negociação frente às tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos, após a ampliação das medidas para atingir também o México e a União Europeia. A análise é de especialistas ouvidos pelo Jornal do Comércio, que apontam uma possível articulação entre os países afetados como caminho para forçar uma revisão da estratégia adotada por Donald Trump.
O Brasil pode ganhar novo espaço de negociação frente às tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos, após a ampliação das medidas para atingir também o México e a União Europeia. A análise é de especialistas ouvidos pelo Jornal do Comércio, que apontam uma possível articulação entre os países afetados como caminho para forçar uma revisão da estratégia adotada por Donald Trump.
Primeiro alvo da nova ofensiva tarifária, o Brasil foi atingido por uma alíquota de 50% sobre exportações ao mercado americano, sob justificativa de desequilíbrio comercial — um argumento rebatido por técnicos do Itamaraty e entidades empresariais, que apontam desvantagem para o País nas relações de troca. Agora, com o anúncio de tarifas de 30% também para México e União Europeia, cresce a resistência internacional às ações unilaterais de Washington.
Segundo o professor Paulo Visenti, professor de Política Internacional na Ufrgs, o número de países descontentes com as medidas adotadas por Trump pode favorecer uma articulação coordenada em torno de uma reação comum.
Com a União Europeia, com o México, a China já sinalizou, a Rússia também deve sinalizar. Não esqueçam que Japão e Coreia do Sul também acabam de sofrer taxações e estão muito desgostosos com essa situação”, avalia.
Para ele, o cenário é favorável à construção de uma frente de cooperação internacional, que funcione como contrapeso à pressão americana.
É um número muito grande de países que pode vir a acertar algum tipo de cooperação entre eles e, com isso, fazer os Estados Unidos recuarem.
As medidas de Trump, segundo analistas, refletem uma estratégia de pressão coordenada por interesses geopolíticos e eleitorais. A economista Zeina Latif, da Gibraltar Consulting, avalia que a decisão do americano representa uma ruptura deliberada nos diálogos que já estavam acontecendo, com o objetivo de reposicionar os termos de negociação de forma mais vantajosa para os EUA.
É uma forma de jogar fora as conversas e começar de novo. Uma tática para forçar concessões”, disse.
Apesar disso, ironizou: “Mas até que está barato”, ao comparar os 30% aplicados a México e UE com os 50% direcionados ao Brasil.
A União Europeia teria sido alvo das tarifas por adotar regulamentações rígidas e incentivar a produção local, o que, segundo Trump, prejudica empresas americanas. Já no caso do México, a justificativa da Casa Branca se baseia em supostas falhas no combate ao tráfico de fentanil na fronteira — apesar de o país ser historicamente um dos principais parceiros comerciais dos EUA.
Para Visenti, a medida contra o México tem motivação estratégica. Desde a criação do Nafta, diversas empresas americanas instalaram fábricas no lado mexicano da fronteira — as chamadas maquiladoras — buscando reduzir custos com mão de obra. Agora, a tentativa de Trump é forçar o retorno da produção ao território americano.
A ideia do Trump é tentar fazer com que as empresas se transfiram novamente para dentro dos EUA”, afirma.
No caso europeu, além das queixas comerciais, pesa também a tensão geopolítica. Visenti lembra que o apoio da União Europeia à Ucrânia no conflito com a Rússia aumentou a pressão sobre os países do bloco, e que Trump tenta empurrar maiores custos de defesa e reconstrução para os aliados.
A Europa é concorrencial com os Estados Unidos. Ele quer que a Europa fique pagando os custos de defesa e que muitas dessas empresas de capital americano voltem para os EUA”, argumenta o professor.
A leitura de especialistas em comércio internacional converge para a hipótese de que as medidas têm menos a ver com desequilíbrios comerciais reais e mais com a construção da imagem de Trump como defensor da indústria e do emprego nos EUA — uma mensagem central de sua pré-campanha à reeleição. O risco, no entanto, é de retaliações e novas disputas na Organização Mundial do Comércio (OMC), com impacto direto sobre exportadores, cadeias produtivas integradas e relações diplomáticas.
Apesar das manifestações de protesto e dos pedidos de revisão, o governo americano sinalizou que não pretende recuar, a menos que seus parceiros revejam práticas consideradas “injustas”, como cotas, incentivos e barreiras regulatórias.
No Brasil, setores afetados pelas tarifas vêm cobrando uma atuação firme — ainda que diplomática — por parte do governo federal para tentar reverter ou ao menos mitigar os efeitos da medida. Com o isolamento americano aumentando, cresce também a expectativa de que o País encontre, na articulação com outros atingidos, um caminho para se reposicionar na disputa.

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