Clima de tensão continua entre o governo dos Estados Unidos e as principais universidades do país. Entre ameaças de cortes de financiamento à pesquisas, e a recente ofensiva de Donald Trump, que mira entrada de estudantes internacionais na Universidade de Harvard. No início do mês, em ordem executiva, o presidente proibiu a universidade de matricular alunos estrangeiros. Entre justificativas estão "a preocupação com supostas ameaças a segurança nacional, que incluiriam manifestações contra a política externa do país, discriminação, violência no campus e envolvimento com países adversários".
As declarações da administração norte-americana causam sentimento de insegurança geral entre a comunidade acadêmica. Em Harvard, atuais estudantes internacionais temem perder seus vistos para conclusão do diploma; os recém formados, a autorização de permanência para trabalho de até dois anos; e calouros, que sejam impossibilitados de entrar no país no próximo ano letivo, em agosto.
O movimento de barreiras à Harvard começou no início do ano, quando Trump enviou uma série de exigências para manter o financiamento federal às maiores e mais renomadas universidades dos EUA. Entre as exigências estavam o fim de ações pela diversidade na admissão de estudantes, e reformas amplas no corpo docente para refletir linha ideológica do Executivo - que foram prontamente recusadas por Harvard.
Trump então declarou o congelamento de US$ 2,2 bilhões do financiamento de Harvard, medida respondida com uma ação judicial pela universidade, sob o argumento de ter violado os direitos constitucionais da universidade e ter colocado em risco sua independência acadêmica.
Internacionalização e Política Anti-imigração
Cerca de 27,2% dos alunos da universidade são de fora dos Estados Unidos. Ao todo, são 6.793 alunos de mais de 140 países - a maior parte é de chineses e indianos, que cursam graduação ou pós. Deste número, 160 são brasileiros. Para o professor e vice-coordenador de Relações Internacionais da Pucrs, João Jung, o ataque do Executivo aos estudantes faz parte de uma política nacionalista, que procura valorizar tudo que é americano e 'proteger' o país de influências externas, que seriam ameaças à soberania e ao desenvolvimento federal.
"O pouco mais de 50% dos estudantes internacionais (chineses e indianos) muitas vezes voltam para os seus países de origem após a formatura com um capital intelectual e social adquirido nos Estados Unidos, para ajudar no desenvolvimento e na ascensão da China e da Índia, países que são vistos como competidores", adiciona Jung.
Em documento oficial, a Casa Branca declara: "o FBI há muito tempo alerta que adversários estrangeiros se aproveitam do fácil acesso ao ensino superior norte-americano para roubar informações, explorar a pesquisa e o desenvolvimento e divulgar informações falsas", além disso, acusa Harvard de receber mais de US$ 150 milhões da China - e que em troca, a universidade teria hospedado membros paramilitares do Partido Comunista Chinês e feito parcerias para pesquisas que poderiam promover a modernização militar da China.
Jung explica que a proibição da internacionalização em Harvard seria extremamente prejudicial financeiramente e academicamente. O professor afirma que grande parte da receita da universidade vem da matrícula de estudantes externos, que pagam mais que os nativos. Também, que o intercâmbio entre instituições é crucial para rankings acadêmicos e a manutenção da qualidade de ensino, e que o país poderia perder acordos internacionais.
"Tradicionalmente, existia um bom montante orçamentário para pesquisa no país, que ajudava, inclusive, a desenvolver pesquisas em países emergentes ou subdesenvolvidos, como é o caso do nosso País. O Brasil e os EUA têm uma série de acordos científicos em termos diversos: energia, militares, acadêmicos. Isso tende cortar a uma parte dessas relações que são importantes para as relações bilaterais entre os países", explica.
Entenda os processos de Harvard à administração dos EUA
Há dois processos atualmente: um focado nos estudantes internacionais, e outro no investimento federal à Universidade. Em abril, Harvard recebeu do governo norte-americano uma lista de solicitações que mudariam diversos aspectos internos da instituição. Harvard rejeitou os pedidos, o que foi seguido por retaliação do governo Trump, que declarou suspensão de mais de US$2,2 bilhões em investimento. A universidade contestou a medida, e recebeu nos dois meses seguintes cerca de 950 ordens de congelamento na concessão de bolsas de pesquisa, aproximadamente US$ 2,4 bilhões. O governo iniciou o bloqueio de verbas de financiamento federal de Harvard em 5 de maio. Em 2 de junho, a universidade entrou com uma moção para julgamento até o início de setembro, com pedido de urgência. Em 21 de julho, os dois lados serão ouvidos em audiência.
Em maio, a administração federal dos Estados Unidos afirmou que iria interromper a possibilidade de Harvard aceitar estudantes internacionais. Em resposta, Harvard entrou com ordem judicial contra a medida, e a juíza Allison Burroughs a bloqueou temporariamente. No início deste mês, Trump assinou um decreto presidencial de efeito imediato que barrava a entrada no país de qualquer estrangeiro que tentasse matricular-se na Universidade.
Em maio, a administração federal dos Estados Unidos afirmou que iria interromper a possibilidade de Harvard aceitar estudantes internacionais. Em resposta, Harvard entrou com ordem judicial contra a medida, e a juíza Allison Burroughs a bloqueou temporariamente. No início deste mês, Trump assinou um decreto presidencial de efeito imediato que barrava a entrada no país de qualquer estrangeiro que tentasse matricular-se na Universidade.