O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou, nesta quarta-feira (26), as negociações nas relações internacionais "com base na lei do mais forte", escalada protecionista e recursos ao unilateralismo, referências à medidas adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump - o republicano, no entanto, não foi mencionado diretamente pelo petista.
Lula discursou para negociadores (chamados sherpas) do Brics (bloco originalmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, recentemente ampliado para incluir Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Irã), em evento realizado em Brasília.
"Negociar com base na lei do mais forte é um atalho perigoso para a instabilidade e para a guerra", disse Lula. "O recurso ao unilateralismo solapa a ordem internacional. Quem aposta no caos e na imprevisibilidade se afasta dos compromissos coletivos que a humanidade precisa urgentemente assumir", afirmou o presidente.
"A atual escalada protecionista na área do comércio e investimentos reforça a importância de medidas que busquem superar os entraves da nossa integração econômica. Aumentar as opções de pagamento significa reduzir vulnerabilidade e custos", afirmou Lula.
Trump já ameaçou impor sobretaxa a produtos dos países do Brics caso o grupo tente enfraquecer o dólar com o desenvolvimento de uma moeda comum ou esforços para enfraquecer o dólar, a moeda padrão do comércio internacional.
O Itamaraty também nega que debates sobre uma moeda comum estejam na mesa, mas reforça a necessidade de aprofundar mecanismos que reduzam custos e priorizem moedas locais nas transações entre membros do bloco, em detrimento, portanto, do dólar.
A crítica velada a Trump também foi feita quando Lula tratou do tema da saúde, um dos pilares da presidência brasileira do Brics. Nos primeiros dias de volta à Casa Branca, Trump anunciou a saída dos EUA da Organização Mundial da Saúde (OMS) além de ter sido, durante o primeiro mandato criticado pela sua resposta à pandemia da Covid-19.
"A ausência de acordo no tratado sobre pandemias, mesmo após a Covid-19 e a pandemia mpox, atesta a falta de coesão da comunidade internacional diante de graves ameaças. Sabotar os trabalhos da OMS é um erro com serias consequências", afirmou Lula.
Folhapress