Enquanto as tropas de Vladimir Putin provocam o que o Exército ucraniano chamou de "situação extremamente tensa" no Leste do país, alarmes falsos e uma série de ataques com drones levaram o gosto da guerra para o território russo nesta terça-feira.
Em uma ação de escopo inédito, hackers invadiram servidores de rádios e TVs de cerca de uma dúzia de cidades e divulgaram uma mensagem de ataque com míssil iminente. "Atenção, atenção. Um alerta aéreo foi emitido. Todos devem ir a abrigos agora. Atenção, atenção. Ameaça de míssil", dizia uma voz feminina com sirenes ao fundo em diversos vídeos captados nas redes sociais - em locais diversos, como a Crimeia e Ufa, nos Urais.
Na península anexada da Ucrânia em 2014, uma TV regional mostrou o símbolo de um homem correndo e a mensagem "Todos para o abrigo agora". Não houve registro de pânico, contudo. Segundo a mídia estatal russa, os ucranianos são os culpados. O coletivo de hackers Anonymous reivindicou a autoria do ataque em nome do país invadido, mas há poucos detalhes sobre como foi atingido tal nível de sofisticação.
Já na vida real, houve uma interrupção do tráfego aéreo pela manhã em um raio de 200 km em torno do aeroporto de Pulkovo, em São Petersburgo. A agência de notícias RIA-Novosti, citando uma fonte anônima, afirmou que o motivo foi o avistamento de um objeto não identificado, talvez um drone, e que caças foram enviados para tentar elucidar o caso - sem sucesso.
Mais tarde, o Ministério da Defesa afirmou que tudo não passou de um exercício de defesa aérea coordenado com a agência civil de aviação do país. Mesmo que essa versão seja verdadeira, causou espanto tal medida drástica ser tomada sem aviso prévio aos passageiros.
Segundo o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, Putin foi informado sobre a disrupção sobre São Petersburgo, cidade natal e berço político do presidente. A interrupção durou uma hora e acabou por volta das 12h (6h em Brasília), com diversos voos tendo dado meia-volta segundo sites de monitoramento aéreo.
O episódio, que ecoa a recente crise dos óvnis devido à interceptação de um balão chinês sobre os Estados Unidos, coloca em perspectiva a percepção russa da guerra. O Kremlin busca de todas as maneiras, na mídia estatal que controla, pintar um quadro controlado de uma "operação militar especial".