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TURISMO

- Publicada em 25 de Janeiro de 2023 às 16:05

Grupos de chineses somem do turismo internacional

Em 2020, 20 milhões deixaram o país, enquanto em 2019 número havia sido de 154 milhões

Em 2020, 20 milhões deixaram o país, enquanto em 2019 número havia sido de 154 milhões


WANG ZHAO/AFP/JC
Quem estava acostumado a viajar ao exterior antes da pandemia de Covid-19 e retomou o hábito recentemente tem percebido uma mudança nos pontos turísticos estrangeiros: a ausência dos grupos de chineses. Era comum vê-los em massa, com câmeras e celulares registrando as cenas das viagens. A expectativa é que, a partir de agora, com a reabertura da China, a população oriental volte a circular pelo mundo.
Quem estava acostumado a viajar ao exterior antes da pandemia de Covid-19 e retomou o hábito recentemente tem percebido uma mudança nos pontos turísticos estrangeiros: a ausência dos grupos de chineses. Era comum vê-los em massa, com câmeras e celulares registrando as cenas das viagens. A expectativa é que, a partir de agora, com a reabertura da China, a população oriental volte a circular pelo mundo.
"A China está se abrindo, vemos isso com bons olhos, embora receber turistas chineses no Brasil é mais para viagens de negócios. Mas os chineses viajando pelo mundo impactam nos números, e isso nos deixa muito felizes", avalia João Augusto Machado, vice-presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens no Rio Grande do Sul (Abav-RS). "As restrições de Covid para nós, brasileiros, caíram, são poucos os lugares que têm uma coisa ou outra. Mas há restrição de chineses. Caindo isso, talvez, estejamos mais próximos de uma retomada integral", acrescenta Machado.
O administrador de empresas de Porto Alegre André Luiz Souza Dias visitou, em dezembro, a Espanha, e percebeu a diferença. “Quando fui, em 2018, para Los Angeles e para São Francisco, reparei que tinha muitos chineses por lá. Agora, no ano passado, quando fui para Barcelona, reparei poucos, o que parecia ter eram estudantes, inclusive, acabamos fazendo amizade com uma chinesa. Tudo indica que o número menor de chineses tem a ver com a restrição do país em relação à Covid”, interpreta.
A situação gera menos filas em pontos turísticos, mas afeta a economia de locais que estavam acostumados a recebê-los. O Brasil não é um roteiro preferido pelos orientais, então a retomada não deve significar tanto impacto interno. Conforme um levantamento do Ministério do Turismo, entre 2020 e 2021, o Brasil registrou a chegada de 2,9 milhões de turistas internacionais. Em 2021, os Estados Unidos (132,2 mil) foi o principal emissor de turistas para o Brasil.
O país norte-americano historicamente ocupava o segundo lugar, atrás da Argentina que, em 2021, caiu para a terceira posição (67,3 mil). Já o Paraguai foi o segundo país a enviar mais turistas ao Brasil (132,1 mil). Juntos, Estados Unidos e Paraguai representam mais de um terço dos visitantes que desembarcaram nas terras verde-amarelas. A China não está nem na lista das 10 origens que mais visitam o Brasil, mas isto poderia mudar na atual conjuntura. 
"Considerando o momento de crise no turismo chinês, uma política adequada e inovadora para o recebimento de turistas de parte do Brasil talvez pudesse incentivar o País como um destino mais frequente da massa de turistas chineses", percebe o cientista político e professor do curso de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs), Augusto Oliveira, que acompanha os assuntos políticos e econômicos chineses desde a última década, considerando a crescente relevância do país no cenário internacional.
Segundo ele, a China estabeleceu um conjunto de medidas de distanciamento social dos mais rigorosos no planeta, acompanhado da vacinação em massa da população com os imunizantes produzidos no próprio país. No final do ano passado, as medidas mais drásticas de distanciamento social deixaram de ser adotadas, bem como as viagens locais e internacionais passaram a ser autorizadas. A liberação da circulação de pessoas provocou uma rápida escalada de infecções pela Covid-19, o que fez o governo estimar que 80% da população chegou a ser contaminada.
"Em que pese a preocupação internacional com a gestão da Covid-19 na China, a situação mais aguda após a reabertura no país foi ultrapassada em condições controladas, quando comparadas ao que ocorreu em outros países nos últimos anos. Os reflexos da pandemia ainda são sentidos na China, seja com a observação de um crescimento econômico abaixo das expectativas e das tendências históricas, seja com a recente notícia de redução da taxa de natalidade da população chinesa acima da expectativa", aponta o professor. 
O papel da China no turismo mundial, conforme Oliveira, é muito relevante e foi duramente impactado pela Covid-19. "De acordo com dados do Banco Mundial, o número de turistas e outros viajantes que deixaram a China em 2020 foi de 20 milhões, enquanto em 2019 havia sido de 154 milhões. Para efeito de comparação, os turistas e outros viajantes que deixaram os Estados Unidos no mesmo período caiu para 60 milhões em 2020, de 174 milhões em 2019", expõe. 
A professora da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Maria Carolina Rosa Gullo, doutora em Economia, ressalta que as restrições atrapalharam, inclusive, a rotina de envio de estudantes chineses para buscarem conhecimento em países mais desenvolvidos em áreas que interessem ao governo. Isso, agora, deve voltar a ser uma prioridade. "O que, por certo, vai impactar nas principais universidades mundo afora. Essa é uma prática chinesa, como foi com a Coreia do Sul, de apostar no turismo da busca do saber para fazer efeito multiplicador", destaca, prevendo ainda a necessidade de um trânsito maior de negócios daqui para frente. 

Como está o cenário no país asiático

As políticas relativas ao turismo recentemente adotadas pela China englobam a liberação de restrições de voos e a dispensa da realização de quarentena para os passageiros que chegam ao país, sendo requerido apenas um teste PCR, realizado antes do embarque. No entanto, os Estados Unidos e outros países que são destinos frequentes dos turistas chineses, especialmente na União Europeia, impuseram testes de Covid obrigatórios no desembarque de chineses nos países. Embora a União Europeia tenha recomendado essas medidas aos países membros, a decisão final cabe a cada país em particular. A retomada das viagens internacionais chinesas é aguardada com expectativa pelo setor de turismo dos países europeus, mas essas medidas sanitárias especiais parecem criar tensões com o governo chinês, o que pode prejudicar uma retomada mais rápida.