A China assegurou nesta quarta-feira (21) que não registrou uma única morte por Covid-19 na terça-feira, depois de alterar os critérios para definir os óbitos provocados pelo coronavírus, apesar de um surto de infecções no país, que deixa hospitais cheios, prateleiras das farmácias vazias e crematórios lotados. Para o epidemiologista chinês Eric Feigl-Ding, da ONU, o fim das restrições sanitárias pelo governo asiático é o motivo da "explosão nos serviços funerários".
Em novembro, a China decidiu acabar com a política de confinamentos, quarentenas e testes em larga escala para conter o coronavírus. O país seguia desde 2020 uma política de tolerância zero com a Covid, com restrições severas. A estratégia possibilitou a proteção das pessoas com comorbidades e aquelas sem esquema de vacinação completo.
Mas o governo acabou, sem aviso prévio, com a maioria das medidas, em um momento de crescente irritação da população, com protestos históricos, e de impacto considerável para a economia. O número de casos disparou desde então, o que provoca o temor de uma taxa de mortalidade elevada entre os idosos, em particular os mais vulneráveis.
Segundo o epidemiologista, chefe da Força-Tarefa Covid no Instituto de Sistemas Complexos de New England, cofundador da Rede Mundial de Saúde e membro de um comitê de especialistas sobre Covid da ONU, informações recebidas de hospitais e funerárias chinesas dão conta de que estariam usando refrigeradores para conservar os corpos que esperam na fila. "É um professor renomado, confiável e com fontes na China", confirma o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Alexandre Naime.
"O tempo de duplicação do vírus na China pode não ser mais de dias, mas de horas", afirmou Feigl-Ding. "As consequências econômicas globais (...) serão feias", alerta. Um estudo sobre o fim do programa "Covid zero na China", publicado na revista especializada Nature, prevê até um milhão de chineses mortos nos próximos meses. Um relatório da Universidade de Hong Kong estima número parecido.
Além do afrouxamento das restrições sanitárias, Naime, da SBI, atribui a "catástrofe chinesa" à resistência de idosos à vacinação e à utilização da primeira geração de imunizantes, ainda não adaptada à variante Ômicron. A China vacinou 89% da população com duas doses, mas apenas 57% receberam o reforço, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Naime aposta no "surgimento de variantes mais transmissíveis", mas descarta nova onda de mortes no Brasil e no mundo porque "a população global está muito mais bem imunizada do que a chinesa".
"Nossa lição é dar as doses de reforço. Na China, será redução de danos", diz.
Nesta quarta-feira, o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou que a entidade está "muito preocupada" a respeito de como a situação da Covid-19 se desenvolve na China, "com crescentes relatos de doença grave". Durante entrevista coletiva, Tedros disse que a OMS continua a apoiar os esforços de Pequim para vacinar pessoas de mais risco pelo país e que continuará a oferecer seu apoio para cuidados clínicos e a proteção do sistema de saúde local.
O que epidemiologista chinês na ONU disse no Twitter?
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