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Guerra na Ucrânia

- Publicada em 30 de Junho de 2022 às 20:03

Rússia deixa ilha da Cobra, ícone da resistência ucraniana

Moskva, que tomou ilha no início da guerra, acabou afundado por ucranianos, na maior perda naval russa

Moskva, que tomou ilha no início da guerra, acabou afundado por ucranianos, na maior perda naval russa


/Handout/Russian Defence Ministry/AFP/JC
Em mais um episódio da Guerra da Ucrânia engolfado pelo conflito de versões, a Rússia abandonou na madrugada desta quinta (30) a estratégica e simbólica ilha da Cobra, no noroeste do mar Negro.
Em mais um episódio da Guerra da Ucrânia engolfado pelo conflito de versões, a Rússia abandonou na madrugada desta quinta (30) a estratégica e simbólica ilha da Cobra, no noroeste do mar Negro.
Estratégica porque, minúscula (quase três vezes menor que o Vaticano, menor Estado do mundo) e a meros 35 km a leste da fronteira da Ucrânia e da Romênia, a foz do rio Danúbio, ela é um ponto de controle de tráfego marítimo importante. Simbólica porque, quando foi tomada pelos russos no primeiro dia da guerra, 24 de fevereiro, a guarnição de 13 ucranianos lá baseada famosamente disse por rádio a um dos navios inimigos para ir "se f..." antes de ser capturada.
A frase virou um ícone da resistência ucraniana, romantizada por Kiev: os soldados, que o governo achou por dias que estavam mortos, viraram heróis nacionais. Um concurso foi promovido para criar um selo em homenagem ao episódio. A embarcação xingada, o cruzador Moskva, acabou afundado na maior perda naval russa do conflito, em abril.
Segundo o Ministério da Defesa da Rússia, a evacuação foi "um gesto de boa vontade". "A fim de organizar um corredor humanitário de grãos como parte da implementação de acordos conjuntos com participação da ONU, a Rússia decidiu deixar suas posições", afirmou a pasta.
As forças russas deixaram a ilha em dois barcos pequenos. Moscou diz que a agora Kiev precisa retirar as minas da região para organizar a exportação de mais de 20 milhões de toneladas de grãos represadas em Odessa, seu maior porto no mar Negro.
A história pode até ser verdadeira, mas soa estranha. Nas últimas semanas, os russos haviam sofrido ao menos dois ataques na ilha com mísseis e drones. Um rebocador russo foi afundado. As ações acabaram repelidas, mas mostravam o contínuo foco no local. A Marinha da Ucrânia foi aniquilada, mas a proximidade da costa permitiu a Kiev ataques com mísseis e com veículos não tripulados. Nesta quinta, a imprensa ucraniana confirmou a retirada russa e disse que havia relatos de que os invasores queimaram instalações no local, embora nada falasse de acordo sobre grãos.
Depois, as Forças Armadas disseram que a recaptura da ilha da Cobra era resultado de um renovado ataque com mísseis, que teria expulsado os russos. Novamente, apesar de a base na ilha estar bem protegida por sistemas antiaéreos, a versão pode ser real.
Por ora, o fato é que a Rússia perdeu um ponto de apoio importante caso tente controlar a costa do mar Negro. Este era um dos objetivos presumidos dos russos, segundo inadvertidamente revelou um general em abril, após a conquista do corredor terrestre entre o Donbass (leste) e a Crimeia anexada em 2014.
O corredor está estabelecido, mas o foco da guerra russa hoje é no Donbass, com avanços para a tomada dos 5% da província de Lugansk em mãos de Kiev e preparativos para algo ainda mais complexo, devido a fatores de terreno, que é capturar os 40% remanescentes da vizinha Donetsk ucraniana. O controle do mar Negro, que de resto é total pelos russos na sua porção norte, não é essencial para Moscou neste momento. Mas, caso quisesse conquistar Odessa e o resto da costa, a ilha era um ponto de controle bastante importante.
Voltando ao campo do simbolismo, a saída russa, seja por expulsão ou voluntária, é uma rara boa notícia para Kiev nas últimas semanas, e será devidamente comemorada. Quanto ao suposto acordo, é bom lembrar que a retirada de minas de Odessa também pode ser vista como um meio de facilitar um desembarque anfíbio futuro.
 
Folhapress
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