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Guerra na Ucrânia

- Publicada em 08 de Junho de 2022 às 16:59

Rússia propõe corredores marítimos para escoar grãos, mas Ucrânia teme ataque

Governo da Ucrânia se recusa a retirar as minas colocadas na região

Governo da Ucrânia se recusa a retirar as minas colocadas na região


Alexander NEMENOV/AFP/JC
Pressionada internacionalmente, a Rússia voltou a propor nesta quarta-feira (8) o estabelecimento de corredores marítimos para escoar toneladas de grãos bloqueadas na Ucrânia. A paralisia nas exportações de um dos maiores fornecedores mundiais de trigo tem levado à alta dos preços e acelerado a iminente crise alimentar.
Pressionada internacionalmente, a Rússia voltou a propor nesta quarta-feira (8) o estabelecimento de corredores marítimos para escoar toneladas de grãos bloqueadas na Ucrânia. A paralisia nas exportações de um dos maiores fornecedores mundiais de trigo tem levado à alta dos preços e acelerado a iminente crise alimentar.
O chanceler russo, Serguei Lavrov, disse que Moscou está disposta a garantir a segurança dos navios desde que Kiev se comprometa a retirar as minas colocadas nos portos. Ele falava de Ancara, onde teve uma reunião com seu homólogo turco, Mevlut Cavusoglu. A Turquia, a pedido da ONU, busca mediar tratativas sobre o assunto.
Lavrov chegou a dizer que as garantias foram dadas pelo próprio presidente russo, Vladimir Putin. Mas a proposta foi prontamente rechaçada por Kiev, que teme que os russos aproveitem o alívio da presença militar nos portos para atacar o território ucraniano, em especial Odessa, cidade portuária do país do Leste Europeu.
Oleg Nikolenko, porta-voz da chancelaria ucraniana, disse que as palavras de Lavrov são vazias. "A Ucrânia deixou clara a sua posição: é necessário ter equipamento militar para proteger a costa, além de uma missão da Marinha para patrulhar as exportações", afirmou. "A Rússia não pode usar corredores marítimos para atacar o sul da Ucrânia."
Mais cedo, Serguei Bratchuk, o porta-voz da administração regional de Odessa, também disse que o governo se recusa a retirar as minas colocadas na região. "A frota russa do mar Negro vai fingir uma retirada para a Crimeia e, enquanto desminamos o local para o acesso ao porto de Odessa, nos atacará ali", disse ele num aplicativo de mensagens.
A Turquia chamou a proposta dos corredores marítimos de razoável e pediu que os dois lados da guerra concordem. O país, que é membro da Otan, a aliança militar ocidental, mas também é próximo de Moscou, chegou a sediar uma negociação presencial entre delegações de Kiev e Moscou um mês após o início da invasão, que ultrapassa 100 dias.
Também não há consenso sobre o calibre que o governo turco tem para atuar como mediador. Serhii Ivaschenko, diretor da Associação de Produtores e Exportadores de Grãos da Ucrânia, disse durante uma conferência nesta quarta que a Turquia é uma força insuficiente no mar Negro para garantir a segurança das cargas, segundo relato da agência Reuters.
Antes do início do conflito, que eclodiu na última semana de fevereiro, a Ucrânia representava cerca de 12% das exportações globais de trigo e 15% das de milho. O presidente Volodimir Zelensky afirmou na segunda (7) que o país conta com cerca de 25 milhões de toneladas de grãos bloqueadas. No outono do Hemisfério Norte (primavera no Hemisfério Sul), esse número pode subir para 75 milhões, acrescentou.
A pressão para que a Rússia permita as exportações tem crescido.

Moscou volta a afirmar que retirada de sanções é contrapartida a exportações

O chanceler da Itália, Luigi Di Maio, voltou a afirmar nesta quarta que o bloqueio "significa condenar à morte milhões de crianças, mulheres e homens", especialmente em países da África e do Oriente Médio, grandes importadores da Ucrânia. "Esperamos sinais claros e concretos da Rússia", disse ele, durante entrevista coletiva em Roma.
O próprio governo italiano sente os impactos econômicos da guerra. Com pouquíssimos recursos energéticos, o país importa a maior parte do gás que consome, e 40% vem da Rússia. A Itália chegou a propor, em maio, um plano de paz para a guerra, com intermédio das Nações Unidas, tentando crescer sua atuação na frente diplomática.
O assunto chegou a gerar um "climão" no Conselho de Segurança da ONU nesta segunda, quando o presidente do Conselho Europeu, o belga Charles Michel, dirigiu-se diretamente para o embaixador russo Vassili Nebenzia para dizer que a Rússia era a única responsável pela iminente crise alimentar global. Nebenzia deixou o espaço na hora e, mais tarde, disse que os comentários foram "muito rudes".
A África também já buscou atuar diplomaticamente. O presidente do Senegal, Macky Sall, que também preside a União Africana (UA), esteve com Putin na semana passada. "Vim para pedir que (ele) esteja ciente de que nossos países, mesmo longe da guerra, são vítimas desta crise econômica", escreveu em uma rede social.
Após o encontro, o senegalês disse que Putin havia lhe dito estar disposto a facilitar a exportação de cereais ucranianos e também aberto a exportar trigo e fertilizantes russos para nações da África.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou nesta quarta que, para que os grãos russos voltem a circular no mercado internacional, será preciso que o Ocidente retire as sanções impostas a Moscou, mas acrescentou que não há conversas substanciais sobre o assunto por ora. Peskov também disse que qualquer conversa entre Putin e Zelensky terá de ser "muito bem preparada" antes.
No front da guerra, a Ucrânia admitiu que pode ser obrigada a recuar na cidade de Severodonetsk, palco de intensos combates há semanas. O governador regional, Serhii Haidai, disse em entrevista a um canal local, porém, que o recuo não equivaleria ao abandono definitivo da cidade industrial, localizada em Lugansk, no Donbass.
Moscou alega já ter controle de 97% do território da província de maioria étnica russa. "Há bombardeios por todas as partes, 24 horas por dia, e a Rússia concentra todas as suas forças na região", disse ele.
E um novo pacote de ajuda militar foi enviado a Kiev, desta vez pelo governo da Noruega. O Ministério da Defesa norueguês informou o envio de 22 obuses autopropulsados M109, além peças de reposição e munições. Disse ainda que já treinou soldados ucranianos na Alemanha para que saibam como usar o armamento pesado.