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Internacional

- Publicada em 02 de Setembro de 2021 às 19:41

Taleban renova ofensiva contra último bolsão de resistência no Afeganistão

Rebeldes do Vale do Panjshir resistem a ceder terreno ao grupo

Rebeldes do Vale do Panjshir resistem a ceder terreno ao grupo


SAHEL ARMAN/AFP/JC
Enquanto a montagem do governo taleban no Afeganistão entra na fase final, o grupo desistiu de conversar e renovou a ofensiva contra o último bolsão de resistência contra si, o vale do Panjshir. Localizado a cerca de 100 km a noroeste de Cabul, o vale concentra as forças remanescentes do Exército do governo derrubado de Ashraf Ghani, que caiu ante o grupo fundamentalista islâmico no dia 15 de agosto.
Enquanto a montagem do governo taleban no Afeganistão entra na fase final, o grupo desistiu de conversar e renovou a ofensiva contra o último bolsão de resistência contra si, o vale do Panjshir. Localizado a cerca de 100 km a noroeste de Cabul, o vale concentra as forças remanescentes do Exército do governo derrubado de Ashraf Ghani, que caiu ante o grupo fundamentalista islâmico no dia 15 de agosto.
Nas duas últimas semanas, o Taleban tentou convencer os rebeldes a se entregar, prometendo negociações pacíficas. Ciosa da história de violência do grupo com as tribos daquela região, que nunca se rendeu aos talebans quando eles governaram de 1996 a 2001, a chamada Frente Nacional de Resistência do Afeganistão declinou.
"Nós começamos as operações depois que as negociações com o grupo armado local fracassaram", disse o porta-voz principal do Taleban, Zabihullah Mujahid. Como é usual nesses casos, sob baixo escrutínio de mídia, ambos os lados disseram que houve pesadas baixas entre as forças inimigas. O Taleban diz que conseguiu entrar no vale por uma de suas passagens de montanha, o que a Frente nega.
O grupo do Panjshir é liderado pelo ex-vice-presidente Amrullah Saleh e por Ahmad Massoud, filho do ícone da resistência contra o primeiro governo taleban, o comandante Ahmad Shah Massoud. "Leão de Panjshir", Massoud pai foi morto em um atentado suicida em que falsos repórteres esconderam explosivos numa câmera de TV, dois dias antes do 11 de setembro de 2001.
Por ter apoiado a Al-Qaeda, executora dos ataques, o Taleban foi derrubado a bombas pelo governo dos EUA, dando início à mais longa guerra norte-americana - encerrada pelo governo Joe Biden com a caótica retirada finalizada na segunda-feira (30).
O vale talvez tivesse caído após a morte de Massoud, mas as engrenagens da história se colocaram em marcha e mudaram tudo: no dia 13 de novembro de 2001, as forças da Aliança do Norte, os rebeldes de então, entraram em Cabul apoiadas pelos ataques ocidentais.
Massoud filho quer repetir a história, mas as condições objetivas parecem mais complexas. Diferentemente do que aconteceu nos anos 1990, quando tinha dificuldades com as tribos do norte do país, desta vez o Taleban começou sua conquista final justamente por lá - com a óbvia exceção do Panjshir.
Enquanto isso, o Taleban finaliza a montagem de seu governo. Diferentes membros do grupo afirmaram que o anúncio oficial seria nesta sexta-feira, após as orações tradicionais. A principal dúvida recai sobre a presença de líderes de governos anteriores, como o ex-presidente Hamid Karzai e o ex-chanceler Abdullah Abdullah, na composição da nova gestão.
Ela deverá ser um misto de shura, o conselho tribal que foi a base do primeiro e falimentar governo do Taleban, e a estrutura de ministérios legada pela ocupação ocidental. O líder supremo será o mulá Haibatullah Akhundzada, 60 anos presumidos, que nunca é visto em público.
O equivalente a presidente, por sua vez, deverá ser o mulá Abdul Ghani Baradar, que passou anos preso no Paquistão e que chefiava a delegação negociadora do Taleban em Doha, tendo costurado o acordo de paz com Donald Trump em 2020.
Vários cargos já estão preenchidos interinamente, mas só por homens ligados ao grupo. Isso levou a um corajoso protesto de mulheres em Herat, cidade no oeste do país. Algumas dezenas foram às ruas para pedir que o Taleban garanta a inclusão feminina no novo governo e em cargos da administração pública.
O grupo ficou conhecido pela brutalidade no trato com as mulheres na década de 1990, virtualmente as isolando da vida pública - apenas algumas profissionais de saúde podiam atender outras mulheres, e não havia escolas para meninas.
Isso decorre de uma visão literal da lei islâmica, a sharia. Agora, o Taleban tenta se mostrar moderado e diz que irá aceitar mulheres em todos os lugares e sem obrigá-las novamente a se cobrir com burcas, a túnica de corpo inteiro tradicional da etnia do grupo, a pashtun.
A questão é que, ao mesmo tempo, afirma que essa liberdade ocorrerá sob preceitos da sharia. "Queremos que os talibãs aceitem falar conosco", disse Basira Taheri, uma das organizadoras do ato, à agência France Presse.
Em Cabul, há alguns sinais de normalização da vida em curso. Os técnicos do Qatar que estão trabalhando para reabrir o aeroporto da capital, palco da desesperada retirada final de mais de 122 mil pessoas, dizem que voos domésticos estarão liberados nesta sexta-feira (3).
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