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Bolívia

- Publicada em 13 de Agosto de 2020 às 20:19

Em meio a crises na saúde e na política, Bolívia estabelece data limite para eleições presidenciais

Adiamento das eleições tem sido a causa de protestos e fechamentos de estradas nas últimas semanas

Adiamento das eleições tem sido a causa de protestos e fechamentos de estradas nas últimas semanas


Luis GANDARILLAS/AFP/JC
O Senado boliviano aprovou, na madrugada desta quinta-feira (13), o projeto de lei de postergação das eleições, apresentado pelo Tribunal Eleitoral do país. A votação, que já tinha sido adiada de maio para agosto e depois para outubro devido à pandemia do novo coronavírus, agora foi confirmada pelo Parlamento e deve ocorrer em 18 de outubro - quase um ano depois da eleição original, anulada por suspeita de fraude.
O Senado boliviano aprovou, na madrugada desta quinta-feira (13), o projeto de lei de postergação das eleições, apresentado pelo Tribunal Eleitoral do país. A votação, que já tinha sido adiada de maio para agosto e depois para outubro devido à pandemia do novo coronavírus, agora foi confirmada pelo Parlamento e deve ocorrer em 18 de outubro - quase um ano depois da eleição original, anulada por suspeita de fraude.
"O dia 18 de outubro é o prazo máximo que o Tribunal Eleitoral tem para organizar as eleições gerais. Esse limite de tempo é de caráter inadiável, imutável e definitivo", afirmou o vice-presidente do Senado, Milton Barón. A presidente interina, Jeanine Añez, favorável à postergação, afirmou que promulgará a medida.
O adiamento tem sido a causa de protestos e fechamentos de estradas nas últimas semanas. Segundo a imprensa local, há mais de 70 pontos de bloqueio nas entradas das cidades, que têm provocado desabastecimento de alimentos, remédios e combustíveis.
Há, entretanto, versões contraditórias sobre o tema. Jeanine afirma que o Movimento ao Socialismo (MAS) - partido de Evo Morales, levado a renunciar em novembro - tem promovido os atos, impedindo a passagem de caminhões com insumos e oxigênio para hospitais que tratam pacientes com Covid-19.
Ao jornal The New York Times Antonio Viruez, chefe de emergências do hospital del Norte, de El Alto, disse que os manifestantes "não deixam as ambulâncias passarem, apedrejam-nas e ameaçam queimá-las". Já os organizadores dos protestos negam o bloqueio desses veículos e responsabilizam a presidente interina pelo aumento de casos do novo coronavírus, que está levando ao colapso os sistemas hospitalares de cidades como Santa Cruz de la Sierra e Cochabamba.
Corpos e caixões também estão sendo postos nas ruas, cercados por faixas e avisos dos familiares que afirmam a suspeita de que as mortes tenham sido causadas pela Covid-19. O ministro de Governo, Arturo Murillo, disse, no começo da semana, em entrevista à CNN, que "o politicamente correto seria meter bala", referindo-se à repressão aos manifestantes.
A isso, Evo respondeu, negando que as manifestações sejam violentas. O líder indígena afirma que "o governo ditatorial de Jeanine envia franco-atiradores para El Alto" e "prepara um novo golpe de Estado, que busca instaurar um governo de civis e militares". Em julho, o Ministério Público pediu a prisão de Evo por terrorismo.
Logo após a aprovação pelo Senado da nova data limite para as eleições, o ministro da Presidência, Yerko Núñez, disse que "agora não há nenhuma razão para a existência dos bloqueios de estradas, e os que estão mobilizados devem suspender as medidas de pressão".
Dentro do MAS, porém, há discordância sobre a data. Na liderança das intenções de voto, o candidato escolhido por Evo, Luis Arce, defende que a eleição ocorra o quanto antes, por conta do que considera uma má administração da pandemia pela presidência de Jeanine. Com ele, concorda o ex-presidente e também candidato Carlos Mesa, em segundo lugar na corrida eleitoral, segundo a pesquisa mais recente, do instituto Ciesmori.
Para o ex-vice-presidente Álvaro García Linera, refugiado, assim como Evo, em Buenos Aires, o adiamento interessa a Jeanine porque "sua estratégia é a de polarizar com o MAS, e, com isso, fazer com que sua intenção de voto cresça, tirando Mesa da disputa". "Ao MAS não interessa polarizar, porque estamos na frente, temos de focar em vencer no primeiro turno, porque aí evitamos que haja um voto útil anti-MAS no segundo", afirmou Linera à reportagem.
Jeanine havia se posicionado a favor de que o adiamento não tivesse de passar pelo Congresso. Porém, a pressão da oposição e de organismos internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), além da Igreja Católica e de uma missão enviada pela União Europeia (UE), instaram pela solução via Legislativo.
Preocupados com o aumento de violência no país, a Conferência Episcopal Boliviana, a UE e a ONU emitiram um comunicado no qual pediam às partes envolvidas "respostas efetivas a favor da vida e da defesa dos direitos humanos".
Ainda não se sabe, porém, se a nova data estabelecida para as eleições poderá acalmar os ânimos dos bolivianos. O tribunal eleitoral do país tem sugerido que pode desqualificar a candidatura de Arce, devido ao suposto envolvimento do ex-ministro da Economia de Evo em desvios do Fundo Indígena, órgão criado pela gestão anterior para financiar obras em comunidades.

Em cidade do interior, prefeito incentiva uso de dióxido de cloro contra a Covid-19

Enquanto o impasse sobre as eleições permanece, autoridades locais buscam outras soluções para a pandemia. Em Cochabamba, por exemplo, longas filas se formam em farmácias que vendem dióxido de cloro. Não há, entretanto, nenhuma evidência científica que comprove sua eficácia contra o coronavírus.
Em San José de Chiquitos, o próprio prefeito tem feito propaganda da substância, que segundo ele, curou seus familiares. "Tivemos 16 pacientes muito críticos que saíram da UTI por conta do dióxido de cloro. Também reduzimos a letalidade da Covid-19 com essa política", afirmou Germaín Caballero.
Na semana passada, o Parlamento boliviano aprovou o uso do dióxido de cloro, sob prescrição médica, no tratamento do coronavírus. O projeto de lei, entretanto, ainda não foi promulgado pelo Executivo.
Semelhante à água sanitária, o composto químico, que já foi falsamente vendido como "cura milagrosa para o autismo", sequer é considerado um medicamento. Sua ingestão ou administração pelo reto pode causar lesões no intestino, vômito, diarreia, desidratação, insuficiência renal e anemia, entre outros graves problemas de saúde.
Segundo a Universidade Johns Hopkins, a Bolívia contabiliza 95.071 infecções e 3.827 mortes até esta quinta-feira. Relatos da imprensa local, porém, alertam para uma possível subnotificação de casos, especialmente nessas cidades, em que há mais mortes do que o normal dentro de casas.