A quarta-feira foi um dia de grande mobilização em Buenos Aires, dentro e fora do Congresso argentino, em função do debate sobre a descriminalização do aborto até a 14ª semana de gravidez. Enquanto grupos feministas saíram às ruas vestidos de verde (cor escolhida para representar essa reivindicação), os chamados grupos pró-vida também se posicionam para ir às ruas.
Na parte da tarde, dentro da Câmara dos Deputados, a previsão era de uma disputa acirrada, em uma sessão que iria até a madrugada desta quinta-feira. Segundo levantamento da imprensa local, os grupos contrários ao aborto lideravam por uma diferença pequena. Pela última atualização, o placar estaria em 126 contra o procedimento e 123 a favor, com cinco deputados indecisos.
Caso a proposta passe pela Câmara, deverá ir ao Senado, que tem maioria peronista, mas de um peronismo mais conservador. Ainda assim, as vozes pró-aborto são muito otimistas. "O voto dos deputados é importante, porque, historicamente, responde à voz das ruas. E as ruas estão pressionando muito a favor. Se passar por eles, é difícil que o Senado barre", acredita a escritora e ativista Claudia Piñeiro.
Os que se posicionam contra também estão em ampla campanha. Membros da Igreja se reuniram com parlamentares conservadores nos últimos dias, e ativistas pró-vida mandaram fetos de plástico dentro de caixões a congressistas para pedir o voto pelo "não".
Apesar de o Executivo contar com vários expoentes do "não", como o próprio presidente Mauricio Macri e sua vice, Gabriela
Michetti, ambos defendem que uma decisão parlamentar a favor da lei não deva ser vetada. Ou seja, se passar também entre os senadores, já terá ganho. "Não vetarei a decisão dos congressistas", garante Macri.
A Argentina entraria, então, para um pequeno grupo de países da América Latina que liberam o aborto por decisão autônoma da mulher, sem necessidade de passar por cortes, até a 14ª semana de gravidez. Apenas Uruguai e Cuba têm legislações semelhantes.
A lei em votação não se limita a legalizar o aborto e inclui um pacote de medidas de acompanhamento à gravidez vulnerável e de assistência a gestantes adolescentes, além de exigir que uma lei já existente, de educação sexual, seja reformada e, de fato, cumprida - até hoje, ela era uma espécie de letra morta, não respeitada por colégios religiosos.