Após dois dias de chuva e fortes ventos em virtude de um ciclone extratropical, o clima foi ameno neste domingo (9). O sol que surgiu e a temperatura agradável permitiram que os concorrentes do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) chegassem cedo aos locais de prova durante o primeiro dia de aplicação do teste. No caso da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs), isso se traduziu em um movimento intenso a partir das 12h.
Grupos de estudantes e professores de cursinhos pré-vestibulares se aglomeravam próximos ao pórtico de entrada da universidade. Enquanto isso, grandes grupos de inscritos e alguns acompanhantes se concentravam diante dos prédios em que o exame seria aplicado. Em áreas de convivência, o movimento era mais disperso, com pessoas conversando, se alimentando e aproveitando o sol para aguardar a proximidade do horário de fechamento dos portões, que ocorreu às 13h.
Quem aproveitou a manhã foi o estudante Renan da Rosa Rocha, de 18 anos, que está concluindo o Ensino Médio no Instituto de Educação São Francisco da Zona Norte de Porto Alegre, mas que já participou do Enem como treineiro na edição de 2024. Com a expectativa de passar no curso de Direito, ele chegou por volta das 11h20min, para “dar uma respirada e espairecer”. Sua rotina de estudos foi puxada.
Renan da Rosa Rocha, de 18 anos, quer ingressar no curso de Direito após concluir o Ensino Médio
Ana Stobbe/Especial/JC
“Eu vou ao colégio pela manhã, trabalho à tarde e de noite dou uma estudada no que aprendi no colégio, reforçando mais a redação e as matérias que caem no Enem. Estou um pouco tranquilo, mas também um pouco nervoso. Estou com boas expectativas”, avaliou Renan.
A rotina de preparação para a prova também foi corrida para Cassiane Brandes Guedes, de 21 anos. A jovem deseja estudar Medicina ou buscar algum outro curso na área da saúde e está, atualmente, concluindo o curso técnico em Enfermagem.
“É bem mais complicado, mas estava fazendo um cursinho online, já que presencialmente não teria tempo. O que mais nos deixa nervosos nesse primeiro dia é a redação em si, já que não sabemos o tema. Mas a expectativa está boa. Fiquei nervosa no meu primeiro Enem. Agora, que é a segunda vez que faço a prova, já não tenho mais tanto nervosismo”, considerou Cassiane.
assiane Brandes Guedes, de 21 anos, está terminando o curso técnico em Enfermagem e deseja seguir na área da Saúde
Ana Stobbe/Especial/JC
Além de adolescentes e jovens adultos, pessoas já formadas buscam reiniciar os estudos em outra área. É o caso da técnica de enfermagem Carla Magalhães, de 44 anos, que atua no Hospital de Clínicas de Porto Alegre e no Hospital de Pronto Socorro (HPS). “Fiz o Enem na primeira prova (do exame, aplicada em 1998), quando estava no Ensino Médio. Depois, nunca mais tinha feito, até o ano passado”, explicou.
De acordo com ela, a escolha em fazer um curso de graduação se dá por uma vontade de mudar sua área de atuação, principalmente após ter criado seus dois filhos. Ela ainda não bateu o martelo quanto ao curso, mas orbita entre duas possibilidades: Psicologia ou Biologia. O retorno à sala de aula mais de 20 anos depois do Ensino Médio traz novos desafios durante a prova.
“Meu tempo é curtíssimo por trabalhar em dois empregos, então não fiz cursinho. Mas meu filho, que tem 26 anos, me ajuda a estudar. A redação é difícil e voltar a estudar na minha idade é bem difícil para rever muitas coisas. O Enem tem questões que nunca vi na escola. É mais fácil para os jovens de hoje do que para nós que estamos voltando a estudar”, analisou Carla.
Carla Magalhães, de 44 anos, deseja voltar a estudar
Ana Stobbe/Especial/JC
Com a proximidade do fechamento dos portões, a partir das 12h45min, o movimento passou a se intensificar próximo aos principais prédios da universidade. Faltando cinco minutos para a entrada aos locais de prova encerrar, jovens corriam em busca dos seus portões em um intenso desespero. Alguns não chegaram a tempo e choraram diante das portas fechadas, relatando confusões com o horário.
Ao longo da tarde, o campus seguirá movimentado. Mas, nesse momento, pelos pais de jovens que os aguardam terminar provas. Uma delas, Angelita Alves, de 43 anos, acompanhou seus três filhos: João, de 19 anos, que quer fazer História, Nicole, de 20 anos, que sonha em ser veterinária, e Alana, de 18 anos, que almeja cursar Direito.
O sentimento, nesse momento, é grande para ela. “O dia foi uma loucura, mas, ao mesmo tempo, é nostálgico estar aqui. Porque hoje eu faço Psicologia pelo Prouni graças ao Enem. É um sentimento bem gostoso de estar em movimento e de que, quem sabe, eles tenham um futuro melhor, com gosto pelo estudo e pelo saber, sem se perderem”, comentou Angelita.
Com os três filhos necessitando de acessibilidade para realizar a prova, ela avaliou positivamente a equipe que atende aos estudantes com necessidades especiais. “Pessoal foi muito atencioso e muito querido. Nem todo mundo tem paciência. Eles estavam muito preparados”, relatou.
Neste primeiro dia de Enem estão sendo aplicadas as provas de ciências humanas e linguagens. A redação, que também será realizada nesta tarde, teve como tema "Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira", conforme relatou o ministro da Educação, Camilo Santana, nas redes sociais. No domingo seguinte, dia 16 de novembro, será a vez dos exames de ciências da natureza e matemática.
As notas obtidas poderão ser utilizadas no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) para buscar uma vaga em universidades públicas brasileiras. Pela primeira vez, será possível utilizar os resultados das três edições mais recentes (2023, 2024 e 2025).