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Publicada em 12 de Outubro de 2025 às 19:25

Gaúchos ficam cautelosos após intoxicações por metanol

Venda de bebidas após a contaminação por metanol reduziu consideravelmente, segundo comerciantes

Venda de bebidas após a contaminação por metanol reduziu consideravelmente, segundo comerciantes

EVANDRO OLIVEIRA/JC
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Marcus Meneghetti
O último fim de semana chegou no Rio Grande do Sul com um caso confirmado de intoxicação por ingestão de metanol em bebidas adulteradas, seis casos em investigação e quatro descartados pela Secretaria Estadual da Saúde (SES). Os efeitos da intoxicação – como cegueira, danos cerebrais e até a morte – não impediram os gaúchos de se divertirem em bares, boates ou mesmo nas calçadas de Porto Alegre. No entanto, muitos boêmios mudaram os hábitos, substituindo os destilados pela cerveja.
O último fim de semana chegou no Rio Grande do Sul com um caso confirmado de intoxicação por ingestão de metanol em bebidas adulteradas, seis casos em investigação e quatro descartados pela Secretaria Estadual da Saúde (SES). Os efeitos da intoxicação – como cegueira, danos cerebrais e até a morte – não impediram os gaúchos de se divertirem em bares, boates ou mesmo nas calçadas de Porto Alegre. No entanto, muitos boêmios mudaram os hábitos, substituindo os destilados pela cerveja.
A substituição faz sentido, porque, até sexta-feira (10), o Estado havia registrado a intoxicação por metanol de um porto-alegrense que consumiu bebida alcoólica destilada durante uma viagem a São Paulo. Outros seis casos suspeitos seguem em investigação nos municípios de Bento Gonçalves, Torres, Novo Hamburgo, Passo Fundo, Viamão e Porto Alegre. Este outro caso investigado na Capital envolve um paciente de Roraima.
O barman que prepara os drinques na copa do Boteko Andradas, Jonathan Miraber, relatou que o estabelecimento localizado no Centro da Capital costuma vender entre 15 e 20 caipirinhas nos finais de semana. “Só que, neste fim de semana, preparei apenas uma”, o funcionário acredita que a diminuição pode estar relacionada aos casos de intoxicação por metanol.
O sócio proprietário do Boteko República, Elton Dellazari, contou que dois clientes comentaram sobre o assunto no domingo (12) ao chegarem ao estabelecimento localizado na Rua da República, na Cidade Baixa. “Tem pessoas que, antes de almoçar, bebem uma caipirinha, uma dose de vodca ou cachaça. Mas, hoje, eles já não beberam. Em geral, as pessoas com mais idade ficam mais preocupadas. Às vezes, eles perguntam: tem nota fiscal dessa bebida? Essa foi a pergunta que me fizeram neste domingo”, contou o dono do Boteko – onde os clientes vão não só para beber, mas também para fazer refeições.
Diante do questionamento dos clientes, Dellazari afirma sem hesitar que só compra bebidas de fornecedores oficiais. “Compramos tudo com nota fiscal. Outros fornecedores até passam para oferecer as bebidas por um preço mais acessível. Às vezes, pela metade do preço. Mas a gente prefere os canais oficiais”, pondera.
Aliás, a preocupação com a adulteração das bebidas destiladas não ficou circunscrita aos boêmios. O proprietário da Trinca Tarbarcaria, André Fernando Piovesani, não notou nenhuma mudança de comportamento na sua clientela, mas, mesmo assim, questionou os fornecedores sobre as bebidas.
Temos os mesmos fornecedores há bastante tempo. Perguntei sobre a procedência das bebidas, se eles também têm nota fiscal, essas coisas. Desse jeito, conseguimos saber qual é a fonte da bebida. E, se acontecer qualquer coisa, a fiscalização pode bater na origem”, refletiu Piovesani – que acredita que os seus clientes não pararam de consumir destilados justamente por conhecerem o cuidado que o estabelecimento mantém na hora de adquirir seus produtos.
Talvez, a consciência dos apreciadores de destilados tenha ficado mais tranquila após a chegada ao Rio Grande do Sul do primeiro lote do antídoto fomepizol, utilizado no tratamento de intoxicações por metanol. O Ministério da Saúde distribuiu 1500 ampolas do medicamento – cujas doses de 1,5ml são raras e caras – a 11 Estados que registraram ocorrências suspeitas ou confirmadas.
Segundo a SES, o medicamento bloqueia uma enzima do fígado chamada álcool desidrogenase, responsável por transformar o metanol em uma substância extremamente tóxica: o ácido fórmico. Essa transformação é o que faz com que os sintomas iniciais – como dor abdominal, visão turva, confusão mental e náusea – evoluam para algo mais grave. Além do fomepizol, o etanol farmacêutico é utilizado no tratamento. 

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