Entidades oftalmológicas de todo o País estão realizando a campanha “De olho nos olhinhos”, uma iniciativa multiplataforma para chamar a atenção sobre a importância da realização de exames em crianças de zero até os cinco anos. O objetivo é prevenir doenças oculares, mas principalmente o retinoblastoma, doença que, de acordo com o Ministério da Saúde, no Brasil tem 400 novos casos todo ano.
A mobilização, que ocorre até o dia 12 de outubro, está sendo encabeçada no Estado pela Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Sul (Sorigs). A iniciativa começou em 2021, quando Lua Leifert, filha do jornalista Tiago Leifert, foi diagnosticada com retinoblastoma aos 11 meses de idade. Segundo o jornalista, a família, que demorou para procurar ajuda por falta de conhecimento sobre a causa, resolveu ir a público para disseminar a informação.
“A nossa campanha visa a conscientização dos pais de trazer as crianças entre 6 a 12 meses para fazer o exame. Depois o ideal seria fazer exame de fundo de olho anualmente, porque é assim que se faz o diagnóstico da doença”, destacou o oftalmologista Ramiro Borges Rodrigues, associado da Sorigs e especialista em Oncologia ocular na Santa Casa de Porto Alegre e no Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
O retinoblastoma é um tumor intraocular maligno que ocorre com mais frequência na infância. Ele tem origem nas células da retina e a maioria dos casos são diagnosticados antes dos 5 anos de idade.
Segundo o especialista, a doença tem como o principal sintoma a Leucocoria, uma alteração que é notada quando o olho aparece "branquinho" em fotografias. O estrabismo é outro sintoma que, apesar de não ser sinônimo de retinoblastoma, o ideal é que pacientes jovens com olhos desalinhados sejam examinados para descartar a doença. Além disso, dificuldade na visão ou cegueira podem ser indicativos, mas, devido a pouca idade dos pacientes, esse sintoma pode ser difícil de diagnosticar.
O médico explica que o principal método de tratamento para o retinoblastoma é a quimioterapia, que proporciona uma chance maior de preservação do globo ocular. No entanto, em casos mais severos, um dos tratamentos possíveis é a retirada do tumor, que implica na remoção do globo ocular, e pode causar sequelas como a perda da visão. Além disso, caso não seja tratada, a doença pode levar o paciente à óbito - mesmo que em apenas 3% dos casos.
É por isso que Rodrigues exalta a importância do diagnóstico precoce. Segundo dados do Ministério da Saúde, cerca de 50% dos casos são diagnosticados tardiamente, o que reduz as chances de cura e obriga a necessidade de intervenção cirúrgica.
“O que muda é o desfecho. Se a doença tivesse sido diagnosticada seis meses, um ano antes, o paciente faria quimioterapia, conseguiria tratar e ter uma boa sobrevida e também talvez até preservasse o globo”, destacou.
O especialista também afirma que não existe prevenção da doença. Ela ocorre de forma hereditária, ou é desenvolvida ao acaso, por conta de uma mutação genética da célula. Isso faz com que o diagnóstico precoce seja um caminho essencial para tratar a doença.
Apesar disso, vale exaltar que trata-se de uma doença rara. Segundo Rodrigues, o retinoblastoma tem uma incidência muito baixa, com aproximadamente 8 mil casos por ano globalmente.
Mesmo assim, Rodrigues destaca a importância da campanha. Segundo ele, muitos pais, por falta de informação, não têm o costume de levar seus filhos para o oftalmologista, o que pode resultar na falta de diagnóstico de inúmeras doenças oculares.
“Não é incomum atender pacientes com 10, 12 anos que nunca foram no oftalmo. Aí já perdeu toda essa janela de possível tratamento. A campanha visa alertar os pais para levarem seus filhos para fazer diagnóstico precoce do retinoblastoma, mas também de outras doenças nos olhos, como estrabismo, catarata congênita, até às vezes tem uma diferença de grau importante que pode vir a não desenvolver a visão de algum dos olhos”, destacou.