Com a situação crítica já conhecida pela comunidade e correndo contra o tempo para preservar e iniciar a reconstrução de sua estrutura, a Plataforma de Atlântida terá um final de ano recheado de estudos sobre sua situação para que, em 2026, se inicie o projeto de revitalização ou demolição do espaço. Essa é a previsão do prefeito de Xangri-lá, Celso Barbosa. Ele explica que estão sendo orçados dois laudos, um ambiental e outro estrutural, para entender o que pode e deve ser feito para recuperar um dos principais cartões postais do Litoral Norte.
O laudo ambiental deverá ficar a cargo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), enquanto a análise da estrutura a prefeitura negocia com duas empresas particulares. Em outubro de 2023, dois dias após ser totalmente interditada, mais uma parte da construção desabou por conta dos fortes temporais que atingiram o Estado.
Antes do episódio, o Ministério Público Federal (MPF) abriu um processo, chamou a Associação dos Usuários da Plataforma Marítima da Atlântida (Asuplama) e o município, e foi feita uma reunião. Posteriormente, a Secretaria do Patrimônio da União (SPU) entrou na jogada. O prefeito explica o desenrolar: “Assinamos um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para contratar uma empresa e fazer um laudo técnico da plataforma. Contratamos a Ufrgs e o laudo demorou bastante, porque era difícil de ser feito. Mas foi perfeito, dizia exatamente o que ia cair, e por isso não nos surpreendeu”.
Hoje, conforme Barbosa, a estrutura está sob responsabilidade da SPU, enquanto o município deve demarcar e sinalizar as áreas de perigo no entorno. No entanto, apesar de se tratar de uma prioridade da pasta, não há previsão de início das obras, que dependem da elaboração do projeto.
“Já fomos procurados por empresas privadas de grande porte que têm interesse em fazer uma parceria público-privada com o município. Estamos no aguardo para definir o que se pode fazer”, projeta o prefeito, que prevê a preservação da estrutura que ainda está de pé, baseado no primeiro laudo da Ufrgs.
Existe, ainda, uma divergência entre o poder público e os antigos gestores da plataforma, a Asuplama. Barbosa entende que a associação "se fechou e não tinha condições financeiras para manutenção", infere.
Por outro lado, o presidente da organização, José Luís Rabadan, relata que ao longo dos 53 anos de existência do espaço e da associação o município jamais ofereceu ajuda ou aportou verbas. Ele cita exemplos desde o final da década de 1990. “O braço sul caiu entre 1997 e 1998 e nos pegou de surpresa. Começamos a fazer reforçar a plataforma e conseguimos estabelecer uma estrutura que durante um bom tempo ofereceu persistência. Todas essas modificações foram feitas com a verba da associação. Na época protocolamos cartas na prefeitura solicitando apoio, mas nunca tivemos”, conta.
"De 2015 para cá sofremos com ressacas muito fortes. Vínhamos num plano de recuperação estrutural da plataforma. Que tinha sido dividido em cinco, seis fases, e uma das ressacas simplesmente arrancou todas as muretas da plataforma. Não tínhamos dinheiro. Na época tentei ajuda de novo com o município, mas existe um entrave grande para passar dinheiro do público para o privado", completa.
Ele também relembra que a previsão de vida útil do espaço era de 30 anos, e perdurou por quase o dobro do tempo. No final do século passado, o número de associados chegou a 1.500 pessoas. Hoje, são cerca de 15 pessoas.
Rabadan ainda expôs uma rusga com a prefeitura. “Quando caiu, o Celsinho foi a público dizer que ofereceu ajuda e a plataforma jamais pegou o dinheiro que estava reservado. Tudo jogo de palavras”, acusa. “Estávamos pedindo, na época, R$ 800 mil. Aí ele disse que disponibilizou R$ 2 milhões para a associação, que não quis pegar o dinheiro”, completa.
Agora, ele explica que a associação se manifestou como incapaz de aportar recursos para a plataforma e se ausentou da possibilidade de retomar a gestão. Barbosa, por outro lado, aponta que a SPU garante que não devolverá a posse à Asuplama por conta da ingerência do local. As partes claramente divergem entre suas versões.