Morreu nesta terça-feira (2), aos 91 anos, o jornalista ítalo-brasileiro Demetrio Carta, mais conhecido como Mino Carta, referência na imprensa brasileira. A informação é da revista CartaCapital, veículo fundado por Carta em 1994.
Mino Carta também foi fundador do Jornal da Tarde, do Grupo Estado. Mino Carta foi diretor das revistas Quatro Rodas, Veja e IstoÉ. Nasceu em Gênova, na Itália, no dia 6 de setembro de 1933. A família de Carta chegou a São Paulo em agosto de 1946.
Ele cursou Direito na Universidade de São Paulo, mas não concluiu a graduação. Retornou à Itália em 1956, onde passou a trabalhar no jornal Gazetta del Popolo, de Turim. Voltou ao País na década seguinte. Enquanto diretor da Quatro Rodas, destacou-se e foi convidado pelo Estadão a assumir a edição do caderno de Esportes. A experiência valeu como base para o lançamento do Jornal da Tarde.
Mino Carta tornou-se expoente do jornalismo político durante a ditadura militar e irritou o regime na edição inaugural de Veja, em setembro de 1968, que trazia na capa uma ilustração com uma foice e um martelo. Em 1969, com o AI-5 em vigor, a revista expôs os casos de tortura do regime em matéria de capa. Carta foi próximo do general Golbery do Couto e Silva, ex-ministro da Casa Civil e arquiteto da abertura política do regime militar. Além da trajetória enquanto jornalista, é autor de três romances.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) declarou luto oficial de três dias no País pela morte de Carta. Em nota de pesar, Lula relembra o período que conheceu o jornalista, há quase cinco décadas. Confira, a seguir, a nota na íntegra:
Recebi com muita tristeza a notícia da morte de meu amigo Mino Carta, ocorrida na madrugada deste 2 de setembro. Ele fez história no jornalismo brasileiro: criou e dirigiu algumas de nossas principais revistas (Veja, Isto é, Quatro Rodas, Carta Capital, Jornal da Tarde, Jornal da República) e formou gerações de profissionais e, sobretudo, mostrou que a imprensa livre e a democracia andam de mãos dadas. Em meio ao autoritarismo do regime militar, as publicações que dirigia denunciavam o abuso dos poderosos e traziam a voz daqueles que clamavam pela liberdade.
Conheci Mino há quase cinquenta anos, quando ele, pela primeira vez, deu destaque nas revistas semanais para as lutas que nós, trabalhadores reunidos no movimento sindical, estávamos fazendo por melhores condições de vida, por justiça social e democracia. Foi ele quem abriu espaço para minha primeira capa de revista, na Istoé, em 1978. Desde então, nossas trajetórias seguiram se cruzando. Eu, como liderança política, ele, como um jornalista que, sem abdicar de sua independência, soube registrar as mudanças do Brasil. Vivemos juntos a redemocratização, as Diretas Já, as eleições presidenciais e as grandes transformações sociais das últimas décadas.
Estas décadas de convivência me dão a certeza de que Mino foi – e sempre será – uma referência para o jornalismo brasileiro por sua coragem, espírito crítico e compromisso com um País justo e igualitário para todos os brasileiros e brasileiras. Se hoje vivemos em uma democracia sólida, se hoje nossas instituições conseguem vencer as ameaças autoritárias, muito disso se deve ao trabalho deste verdadeiro humanista, das publicações que dirigiu e dos profissionais que ele formou.
Em sua memória, estou declarando três dias de luto oficial em todo o País.
À sua filha Manuela e a todos os seus familiares e os inúmeros amigos que construiu ao longo de sua vida, deixo um forte e carinhoso abraço.