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Publicada em 05 de Setembro de 2025 às 00:25

Mais de 3% das escolas gaúchas tiveram o calendário suspenso por violência

Na capital, a Escola Morro da Cruz fechou as portas após a vice-diretora ser agredida por uma mãe e uma aluna

Na capital, a Escola Morro da Cruz fechou as portas após a vice-diretora ser agredida por uma mãe e uma aluna

EMEF Morro da Cruz/Divulgação/JC
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Gabriel Margonar
Gabriel Margonar
Em 2023, 3,2% das escolas do Rio Grande do Sul interromperam o calendário escolar devido a episódios de violência. O índice, abaixo da média nacional de 4,1%, coloca o Estado na décima posição entre os menores percentuais, mas revela um cenário de tensão que resultou em mortes, agressões a professores e ameaças de ataques. Os dados fazem parte do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025, que reúne levantamentos nacionais e alerta que, embora os ataques extremos ganhem repercussão, as violências cotidianas - físicas, patrimoniais e simbólicas - também fragilizam o ambiente de ensino.
Em 2023, 3,2% das escolas do Rio Grande do Sul interromperam o calendário escolar devido a episódios de violência. O índice, abaixo da média nacional de 4,1%, coloca o Estado na décima posição entre os menores percentuais, mas revela um cenário de tensão que resultou em mortes, agressões a professores e ameaças de ataques. Os dados fazem parte do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025, que reúne levantamentos nacionais e alerta que, embora os ataques extremos ganhem repercussão, as violências cotidianas - físicas, patrimoniais e simbólicas - também fragilizam o ambiente de ensino.
O documento mostra que 4,4% das escolas gaúchas relataram lesão corporal, frente a 5,6% da média nacional. Casos de roubo ou furto ocorreram em 6,7% das instituições do Estado, contra 8,1% no Brasil. O assédio sexual foi mencionado em 2,1% das unidades gaúchas, próximo ao índice nacional de 2,5%. Já o bullying se consolidou como o problema mais disseminado: dois terços das escolas brasileiras relataram episódios em 2023, com taxa de 64,3% no Rio Grande do Sul.
Nos últimos meses, casos concretos confirmaram a gravidade da situação. Em agosto, prefeituras de Novo Hamburgo e Estância Velha suspenderam as aulas após ameaças de ataque. Na capital, a Escola Municipal Morro da Cruz fechou as portas depois que a vice-diretora foi agredida por uma mãe e por uma aluna. Em julho, um adolescente de 16 anos invadiu a Escola Municipal Maria Nascimento Giacomazzi, em Estação, armado com um facão, matando um aluno de 9 anos, ferindo duas colegas e uma professora. Em abril, em Caxias do Sul, uma docente da Escola João de Zorzi foi esfaqueada por três alunos durante uma aula de inglês.
Para o professor Fernando Seffner, da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), os dados confirmam que a escola tem sido atravessada por dinâmicas externas de violência. “Com 47 milhões de alunos na educação básica no Brasil, é natural que conflitos existam. O problema é quando eles escalam para a violência”, afirma. Ele lembra que a diversidade dentro da sala de aula - racial, religiosa, de gênero, entre outras - é, por óbvio, positiva, mas também gera tensões.
“A escola muitas vezes reflete disputas do território. Em bairros de Porto Alegre como Vila Jardim e Bom Jesus, instituições ficam entre áreas de facções. Já houve diretora que precisou negociar com traficantes para manter a segurança”, relata.
O pesquisador ressalta que a violência não é exclusividade da rede pública. “Escolas privadas também enfrentam casos graves, mas eles muitas vezes não chegam à imprensa porque envolvem famílias influentes”, diz. Outro ponto é a falta de profissionais para mediação. “Hoje é raro encontrar psicólogos ou assistentes sociais nas escolas. Metade dos professores é temporária, o que dificulta vínculos com a comunidade escolar e a percepção de sinais que poderiam evitar situações graves”, continua.
Seffner alerta ainda para o papel das redes sociais na radicalização de conflitos, tópico que recentemente ganhou grande notoriedade através da série britânica 'Adolescência'. “Jovens rechaçados encontram na internet grupos que reforçam discursos de ódio. Isso amplia a chance de tragédias. Precisamos discutir a regulação das plataformas.” Para ele, a violência escolar resulta de um conjunto de fatores: “é como um acidente de avião, em que vários elementos se somam até a tragédia”, finaliza.
Em nota, a Secretaria Estadual da Educação informou que o Núcleo de Cuidado e Bem-Estar Escolar atua na prevenção da violência e na promoção de uma cultura de paz. Ainda, citou ações como a formação de facilitadores em práticas restaurativas para 6,6 mil estudantes e professores, a atuação de quase 2 mil comissões CIPAVE+ (Comissão Interna de Prevenção a Acidentes e Violência Escolar), além da contratação de psicólogos e assistentes sociais para apoio técnico.

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