Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 24 de Agosto de 2025 às 17:44

Morre o pianista gaúcho Miguel Proença aos 86 anos

Pianista faleceu na última sexta-feira (22)

Pianista faleceu na última sexta-feira (22)

Dudu Leal/Divulgação/JC
Compartilhe:
Agências
Familiares, alunos e admiradores despediram-se do pianista Miguel Proença neste domingo (24), em cerimônia na Sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro, onde foi diretor. Com renome internacional, o pianista gaúcho faleceu na sexta-feira (22), aos 86 anos. Ele estava internado desde junho no Hospital São Vicente, na Gávea, no Rio de Janeiro. Proença teve falência múltipla de órgãos.
Familiares, alunos e admiradores despediram-se do pianista Miguel Proença neste domingo (24), em cerimônia na Sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro, onde foi diretor. Com renome internacional, o pianista gaúcho faleceu na sexta-feira (22), aos 86 anos. Ele estava internado desde junho no Hospital São Vicente, na Gávea, no Rio de Janeiro. Proença teve falência múltipla de órgãos.
Nascido em Quaraí, na fronteira com o Uruguai, o músico ganhou o mundo à frente de um piano. Foi um dos grandes porta-vozes da música erudita brasileira na Europa, Ásia e América do Norte. Lecionou na Alemanha e no Rio de Janeiro e deu enorme contribuição para a música erudita brasileira.
Proença chegou a concluir o curso de Odontologia pela PUCRS, mas nunca exerceu essa profissão. Iniciou seus estudos de piano na terra natal, com a professora Carmem Vidal Pozzer, tendo sido aluno, também, de Natho Henn, em Porto Alegre. Fez cursos de aperfeiçoamento na Escola de Hannover e na Escola Superior de Música de Hamburgo, na Alemanha.
Em Porto Alegre, foi o diretor-musical do Teatro do Sesi, entre os anos 1999 e 2008No período em que dirigiu o Teatro, Miguel Proença foi o responsável pela aquisição de dois pianos Steinway & Sons, considerado o  melhor piano do mundo. Os instrumentos foram perdidos em 2013, quando as águas do Arroio Feijó tomaram conta do teatro. 
Além de todo o virtuosismo e sensibilidade de suas interpretações, Miguel deixou um legado fundamental, sendo o pianista que mais gravou música brasileira erudita para o piano, de nomes como Alberto Nepomuceno, César Guerra-Peixe, Edino Krieger, Ernesto Nazareth, Oscar Lorenzo Fernández, Radamés Gnattali e Heitor Villa-Lobos, obra sintetizada na coletânea Piano Brasileiro, lançada em 2005 e que deu origem ao projeto Piano Brasil, que percorreu diversas cidades brasileiras. Proença também promovia ensaios abertos, concertos para crianças e a famosa série Concertos Sesi.
Mesmo radicado no Rio de Janeiro, Proença vinha regularmente ao Estado. Em 2007, realizou uma apresentação gratuita no aniversário de 10 anos do Teatro do Sesi.  Neste mesmo ano, recebeu da Câmara Municipal de Porto Alegre o título honorífico de Cidadão Integração de Porto Alegre. Quando recebeu o título, disse que a homenagem vinha ao encontro do que sempre desejou: integrar-se com o público e com a música. "Integração sempre foi um grande objetivo, talvez o maior de minha vida", afirmou.
Proença tocou com a Ospa em 2004, e, em 2008, o pianista, em apresentação no Sesi a convite do Instituto Chega de Violência, cedeu toda a renda para os organismos ligados à Secretaria da Segurança Pública. Ele também esteve em 2008 em Rio Grande e Pelotas, cidades escolhidas para encerrar a tournée do Projeto Piano Brasil IV, uma das mais bem sucedidas iniciativas da música erudita brasileira nos últimos anos.
Em 2019, Proença festejou seus 80 anos com um recital no Theatro São Pedro. Nesse ano esteve à frente da Fundação Nacional de Artes (Funarte), uma das fundações mais importantes de fomento à arte no Brasil através de prêmios e editais, cargo que deixou durante a turbulenta política cultural do ex-presidente Jair Bolsonaro. 
Proença é saudado por críticos nacionais e estrangeiros. Doutor em Música pela Escola Superior de Música de Hannover, faz parte do corpo docente do Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Atuou em todos os estados brasileiros e diversos países da Europa, Ásia e Américas, como camerista e solista. Como camerista fez duos com Salvatore Accardo, Jean-Pierre Rampal, Leonard Rose, Paul Tortelier, Arto Noras, Janos Starker, entre outros. Lançou inúmeros CDs de repertório internacional.  
Atuou como um autêntico promotor cultural, ao organizar festivais de música, como o de Cascavel, no Paraná. Foi diretor da Sala Cecília Meireles, diretor da Escola de Música Villa-Lobos do Rio de Janeiro e Secretário de Cultura daquele estado. Foi professor titular do Conservatório Brasileiro de Música e técnico em Assuntos Culturais do MEC e solista da Orquestra Sinfônica Nacional. Em reconhecimento aos seus méritos foi agraciado com a Comenda da Ordem de Rio Branco, concedido pela Presidência da República.   Periodicamente apresentava-se em recitais pela Europa (Londres, Madri, Stuttgart, Viena, Praga, Lisboa, Roma), América do Sul (Montevidéu, Lima, Quito, Assunção), Ásia (Japão, Iraque) e África (Dakar).
Miguel Proença gravou 16 discos de música nacional, realizando um trabalho profundo de pesquisa e dando a conhecer inúmeras obras inéditas de compositores brasileiros de grande valor.  
O pianista era irmão do  ex-presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Renan Proença (falecido em 2022). Deixa os filhos Paulo, Daniel e Laura.

Notícias relacionadas