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Publicada em 30 de Agosto de 2025 às 07:14

Morre Luis Fernando Verissimo, aos 88 anos

Escritor marcou a história do Estado com personagens que fazem parte da literatura de todo o Brasil

Escritor marcou a história do Estado com personagens que fazem parte da literatura de todo o Brasil

BOULEVARD FILMES/DIVULGAÇÃO/JC
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Morreu neste sábado (30), o escritor gaúcho Luis Fernando Veríssimo, aos 88 anos. A informação foi confirmada por familiares ao portal G1.
Morreu neste sábado (30), o escritor gaúcho Luis Fernando Veríssimo, aos 88 anos. A informação foi confirmada por familiares ao portal G1.
Luis Fernando Veríssimo, filho do também escritor Érico Veríssimo, marcou a história do Rio Grande do Sul com personagens que fazem parte da literatura de todo o Brasil. Entre eles, estão o detetive Ed Mort, o Analista de Bagé, as Cobras e a Família Brasil.
Veríssimo enfrentava problemas de saúde, e estava se recuperando de um acidente vascular cerebral desde 2021. Em uma entrevista exclusiva para o Jornal do Comércio em 2020, o cronista apresentava movimentos e falas mais pausadas.
Ele era cardíaco e diabético. Na época, tinha saído, não fazia muito, da UTI. Lidava com a situação do fim da vida com o mesmo humor afiado, típico de seu perfil cronista. “Penso muito na morte", havia dito, "já nem leio mais os obituários de jornais com medo de encontrar meu nome".
Os atos de despedida será realizados no Salão Júlio de Castilhos da Assembleia Legislativa a partir das 12h deste sábado. 

Luis Fernando Veríssimo

É complexo definir quem era Luis Fernando Verissimo, devido à extensão de seu trabalho, e a pluralidade de seus textos. Além de escritor, trabalhou com roteiros de teatro e cinema e era músico, tendo sua paixão o Jazz.
Segundo o portal Itaú Cultural, sua história começa em 1936, em Porto Alegre. Verissimo viveu dos sete aos nove anos nos Estados Unidos, em função do trabalho do pai, retornando ao Brasil em 1953. Volta a Porto Alegre em 1956, e trabalha na Editora Globo, e posteriormente no jornal Zero Hora, no qual teve sua primeira coluna diária. O Popular foi a primeira reunião desses textos, publicada em 1973. Desde lá colaborou para vários veículos, como Jornal do Brasil, Veja e Estado de S. Paulo. As crônicas eram o foco de sua literatura. 
Luis Fernando Verissimo esteve na inauguração da estátua do pai na Renner em 2017 | FREDY VIEIRA/JC
Luis Fernando Verissimo esteve na inauguração da estátua do pai na Renner em 2017 FREDY VIEIRA/JC
Definido pelo doutor em letras e especialista no autor, Flavio Loureiro Chaves, ao mesmo tempo que Verissimo renovou a herança linguística do pai, também se desgrudou da figura paterna. “Erico é um escritor panorâmico, caudaloso, capaz de escrever um livro importantíssimo de 2 mil páginas. Luis Fernando é um minimalista, um depurador das palavras. E os dois foram superlativos nas suas categorias."
Vendeu, em estimativas, mais de 5 milhões de livros. Depois do Popular, publicou crônicas como A mesa voadora e O Suicida, e romances como O Jardim do Diabo e Os Espiões. Em seu repertório há também novelas como Gula - O clube dos anjos e Borges e os Orangotangos. Também trabalhou com contos, cartuns, quadrinhos e ensaios. Suas obras foram adaptadas para teatros, cinemas e televisão.
No fim de sua vida, o núcleo mais próximo de Luis Fernando acabou mesmo sendo a família. Deixou de legado três filhos: Fernanda, a filha mais velha, que mora com o marido, Mariana e Pedro, o mais novo. Era casado com Lucia desde 1963.

Literatura

Os mais de 5 milhões de livros vendidos vinham de sua "toca", como chamava uma das peças da casa, onde escrevia as colunas de jornal que publicava.
"Não sou um cara que tem a piada pronta na ponta da língua. Meu humor não é espontâneo. É uma coisa mais pensada, uma técnica." Essa fala foi dada pelo escritor ao Valor em 2012 e reflete o caráter de sua literatura.
Escritor foi homenageado pela Imperadores do Samba em 2014 | JO?O MATTOS/ARQUIVO/JC
Escritor foi homenageado pela Imperadores do Samba em 2014 JO?O MATTOS/ARQUIVO/JC
O humor era o foco. Em sua crônica Os Obrigados, por exemplo, agradeceu às suas artérias coronárias, “Por esta prorrogação sem morte súbita”, que já traduz o humor por vezes afiado de seus textos. Agradeceu por ver a copa de 2002, com participação do Brasil, deixando explícito duas de suas maiores paixões: viajar, e futebol. Este último, também presente em sua literatura, que ia desde o esporte à política.
Em texto pela Academia Brasileira de Letras, Carlos Nejar o descreveu como "cronista maior do humor desta República". Luis Fernando Verissimo, ao contrário do pai, descreveu, parecia não acompanhar a arte literária, até surgir como um excepcional cronista, que descrevia a realidade cotidiana com “olhar irônico e sábio”.
Para a coluna Valor, porém, não dizia ser alguém dotado de humor. Pelo contrário: "minha vocação é mais para o deprimido do que para o humorístico". Definiu o humor como um estilo, que pode tratar qualquer assunto, sério ou não. Porém, também explorou outros. Possui, inclusive, sete livros com roteiros de viagens.

Televisão

Sua literatura foi adaptada às telas. Um exemplo é sua antologia com roteiro de Jorge Furtado e Guel Arraes, ainda em 1994 na TV Globo, com base em uma de suas obras. Já conhecido por ilha das flores, em 1989, mas antes das premiações por O Homem que copiava, de 2003, Furtado mesmo sugeriu o nome do especial, “Comédias da Vida Privada”.
Sobre seus textos, achava que quando vão à TV, é impossível prever se serão duradouros ou não. Seu satírico detetive Ed Mort "parece que ficou muito confuso e cancelaram a série logo depois da estreia", disse na época. 

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