Diante da crise climática que já assola e atingirá com maior frequência o Rio Grande do Sul, a profissão de meteorologista desponta como uma das principais demandas do mercado de trabalho. Apesar disso, entre as instituições de ensino superior gaúchas, apenas duas oferecem a graduação: a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e a Universidade Federal de Pelotas (Ufpel). Ambas com poucos interessados em cursar e com baixos índices de conclusão.
De acordo com a coordenadora do curso na UFSM, Simone Ferraz, é necessário o dobro da oferta para suprir a necessidade de um “mercado aquecido”. Do total de 20 alunos que ingressam no curso por ano, apenas 40% se formam na graduação implementada em 2005 na UFSM. Da área de ciências exatas e com a base curricular voltada para física e matemática, o maior contato com a meteorologia em si vem, portanto, a partir da segunda metade do percurso, quando o número de desistências por turma já é significativo.
No mais, a coordenadora avalia uma falta de noção dos estudantes sobre a possibilidade de empregos a curto prazo na área. Ela entende que é necessário um processo de apresentação e conscientização de carreiras menos populares no momento de escolha dos jovens, que começa no ensino médio.
A universidade, inclusive, tem a capacidade de receber um quantitativo de alunos muito maior, e por isso Simone não julga como necessária a abertura de novos cursos ao redor do Estado, afinal, a procura segue baixa. No entanto, ela acredita que, com as frequentes catástrofes naturais, o interesse e a adesão de alunos aumente.
A Ufpel incluiu esta opção de graduação em 1979. Os dados da instituição são ainda menos animadores: dos 20 ingressos por ano, se formam de três a quatro, uma média de 20%. A professora da faculdade e conselheira da Câmara de Agronomia do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea), Eliana Klering, entende que “o mercado precisa de mais profissionais e também é muito importante que ele entenda porquê”. O destaque está para a vasta gama de atuação, que transita pela “meteorologia agrícola até a parte de interação oceano-atmosfera, muito importante em razão das mudanças climáticas”, explica.
No setor agrícola, é notável uma crescente nas contratações de profissionais do clima, segundo Eliana. “A área agrícola se beneficia imensamente da produção de alimentos. É toda focada na adequação das épocas para plantio e colheita”. Ela também defende a necessidade de mais atuantes: “Nosso papel está principalmente nos eventos extremos, para garantir a segurança da sociedade”. Faz parte do trabalho elaborar estudos e previsões, fornecidos para as autoridades no momento da tomada de decisão. As defesas civis também estão investindo nos profissionais para precaução e contenção de danos.
Na enchente de maio de 2024, a equipe da Ufpel operou por 28 dias seguidos no combate às cheias. Segundo a professora estadual, a previsão concreta de que as precipitações atingiriam aquela magnitude — choveu cerca de 500 mm em algumas regiões; quantidade estava prevista para quatro meses — chegou às mãos do poder público com dez dias de antecedência.
Diante deste cenário, a meteorologista espera uma relação de proximidade entre academia e governos. “Devemos, tanto nós, como universidade, assim como o poder público, trocar informações de maneira mais eficiente. Já temos algumas iniciativas, inclusive aqui no Estado, mas vejo ainda como iniciativas pontuais frente à crise que devemos passar nos próximos anos”. Ainda que o diálogo esteja evoluindo, Eliana acredita que seja a passos curtos.
Tanto a UFSM quanto a Ufpel possuem, também, pós-graduação e mestrado na área. Em Santa Maria, há ainda o doutorado e, a partir deste ano, a especialização. Ambas as graduações duram oito semestres, ou quatro anos, e trabalham com laboratórios e visitas técnicas para manter o contato com as tecnologias do meio. Questionada pela reportagem, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) informa que "não existe nenhuma proposta deste curso para o momento". A Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs) não retornou o contato até o fechamento desta matéria, às 18h desta segunda-feira (7).