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Publicada em 16 de Junho de 2025 às 19:40

Catolicismo cai mais de 15% no Rio Grande do Sul desde o inicio do século

Mesmo assim, Estado ainda abriga 14 dos 20 municípios mais católicos do Brasil

Mesmo assim, Estado ainda abriga 14 dos 20 municípios mais católicos do Brasil

TÂNIA MEINERZ/JC
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Gabriel Margonar
Gabriel Margonar
A identidade religiosa dos gaúchos vem passando por mudanças significativas ao longo deste século. Segundo o Censo Demográfico de 2022, divulgado no inicio deste mês pelo IBGE, a proporção de católicos no Rio Grande do Sul caiu de 76,4%, em 2000, para 60,6% na atualidade, totalizando um decréscimo de 15,8%. A retração confirma uma tendência observada no restante do País e da América Latina: o catolicismo, antes dominante, perde espaço em um cenário religioso cada vez mais plural.
A identidade religiosa dos gaúchos vem passando por mudanças significativas ao longo deste século. Segundo o Censo Demográfico de 2022, divulgado no inicio deste mês pelo IBGE, a proporção de católicos no Rio Grande do Sul caiu de 76,4%, em 2000, para 60,6% na atualidade, totalizando um decréscimo de 15,8%. A retração confirma uma tendência observada no restante do País e da América Latina: o catolicismo, antes dominante, perde espaço em um cenário religioso cada vez mais plural.
"Essa queda não é surpreendente dentro da linha histórica. O catolicismo esteve no centro do processo de colonização e, até meados do século passado, era praticamente unânime. Mas, a partir dos anos 1980, o cenário começa a mudar", contextualiza Emerson Giumbelli, professor de Antropologia da Ufrgs e pesquisador do campo religioso. Segundo ele, a redução está ligada a uma combinação de fatores: mudança de valores, perda de influência institucional, surgimento de espiritualidades menos convencionais e crescimento de outras religiões, como a evangélica.
Apesar da queda, o catolicismo segue unânime como a principal filiação religiosa no Estado, sobretudo no Interior. Cidades como Montauri (98,3%), Centenário (97,8%), União da Serra (96,7%) e Nova Boa Vista (96,2%) estão, inclusive, entre as 20 mais católicas do Brasil. São municípios pequenos, com forte coesão comunitária, onde a Igreja ainda ocupa papel central na vida social.
"Ainda existem regiões em que a religiosidade é muito enraizada e sofre menos as pressões do mundo contemporâneo. É nesses locais que se observa uma menor adesão às transformações que ocorrem nos grandes centros urbanos", aponta Giumbelli.
Esse contraste aparece com nitidez em Porto Alegre. Na Capital, apenas 54,5% da população se declara católica. O número de pessoas sem religião chega a 15,6%, superando até mesmo os evangélicos, que somam 12,3%. "É nas metrópoles que as mudanças acontecem mais rapidamente. Há maior exposição à diversidade religiosa, mais acesso à crítica institucional e, muitas vezes, uma vivência da fé que se dá fora dos moldes tradicionais", afirma o pesquisador.
Esse avanço, no entanto, em alguns casos é mais tímido no Estado do que em outras partes do Brasil. Taylor Aguiar, também pesquisador da Ufrgs, diz que o crescimento evangélico no Estado (de 18%, em 2010, para 21,4% atualmente) surpreendeu pela modéstia. "Esperava-se uma adesão maior entre as juventudes, especialmente na Região Metropolitana. Mas, em Porto Alegre, os evangélicos somam apenas 13%, enquanto, no Brasil como um todo, o número chega a 26,9%", observa.
Segundo ele, o campo evangélico gaúcho tem características próprias. "Aqui não houve, pelo menos não na mesma magnitude, um fenômeno de evangelização através do pentecostalismo nas periferias urbanas como em outros estados. A maioria dos evangélicos gaúchos pertence a igrejas históricas, como a Luterana, muitas vezes associadas a comunidades de origem europeia." Um exemplo é Arroio do Padre, onde 88% da população se declara evangélica — quase todos luteranos.
Aguiar ressalta que o Censo, embora essencial, tem limitações: depende da autodeclaração e não capta nuances importantes. "Muitos jovens frequentam igrejas como a Brasa Church, voltadas ao público urbano, mas que não se fixam como denominações formais. Na hora de responder ao Censo, essas pessoas acabam se encaixando em outras categorias ou até dizem que não têm religião", analisa.
O mesmo ocorre, segundo ele, com as religiões de matriz africana e o espiritismo, que crescem de forma subnotificada. Ainda assim, o Rio Grande do Sul lidera o País em proporção de praticantes da umbanda e do candomblé, com 3,2% da população, e mantém uma presença expressiva de espíritas (2,9%), frente à média nacional de 1,8%.
"O que vemos é uma reorganização profunda do campo religioso, e o Rio Grande do Sul reflete isso com suas próprias singularidades", avalia Giumbelli. "As igrejas podem perder fiéis, mas a religiosidade não desaparece. Ela se transforma", finaliza.
 

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