"É de extrema importância que o tema da violência contra a mulher seja implementado no currículo das escolas do Rio Grande do Sul. Isso é o começo de uma mudança estrutural sem a qual não vamos conseguir dar contar na área da segurança pública. Precisamos trabalhar esse tema nas instituições de ensino e criar uma cultura diferente daqui para frente". A afirmação foi feita pela promotora de Justiça e coordenadora do Centro de Apoio Operacional Criminal e de Acolhimento às Vítimas (Caocrim) do Ministério Público do Rio Grande do Sul, Alessandra da Cunha, que nesta quarta-feira (28) participou do Tá na Mesa da Federasul que discutiu o tema "RS Contra o Feminicídio". "Infelizmente o lugar mais inseguro para uma mulher é a sua própria casa", destaca.
Para Alessandra da Cunha, a violência contra a mulher é uma grave violação dos direitos humanos, que persiste de forma alarmante em todo o País e no Rio Grande do Sul - inclusive no interior do Estado. "Precisamos ampliar e fortalecer as redes de enfrentamento à violência contra a mulher, especialmente nas áreas mais afastadas do território gaúcho", ressalta.
A delegada da Polícia Civil, Tatiana Bastos, diretora do Departamento Estadual de Proteção a Grupos Vulneráveis, disse que a base dos crimes de violência doméstica, familiar e afetiva estão relacionadas ao machismo. Mais de 90% dos casos de feminicídio íntimos ocorrem dentro de um contexto familiar. "Temos uma violência estrutural que tem como base o machismo, o sexismo e um padrão de comportamento típico de um sistema que chamamos de "patriarcal antigo", comenta.
De acordo com Tatiana Bastos, os agressores de mulheres se sentem legitimados. A delegada destaca que os casos de feminicídio consumados no Estado ocorreram com uso de arma branca (50%), arma de fogo (26,67%) e outros tipos de agressão (23,33%). A maioria dos agressores (50%) tinha antecedentes policiais por violência contra mulheres. Em 90% dos casos de agressão, o autor foi o companheiro ou ex-companheiro da vítima.
De acordo com o secretário estadual de Segurança Pública, Sandro Caron, o crime mais difícil de combater é aquele que acontece dentro dos lares - seja a violência doméstica, contra crianças ou idosos. "A única forma de impedir o crime de feminicídio é as autoridades da segurança pública ficarem sabendo antes. Infelizmente, nos dez casos de abril, não havia uma situação de ocorrência em relação aos parceiros (agressores)", acrescenta. Caron destaca que a maior dificuldade do trabalho policial é a subnotificação de violência doméstica. O secretário da Segurança Pública diz que é necessário uma rede de apoio muito afinada - não só na área da saúde, mas também na família e amigos. "Existe um ditado: em briga de marido e mulher não se mete a colher. Essa frase não pode existir mais e toda a agressão contra a mulher tem que ser levada ao conhecimento da polícia", destaca.
Tatiana Bastos, delegada de Polícia, destaca que os casos de feminicídio consumados no Estado ocorreram com uso de arma branca
TÂNIA MEINERZ/JC