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Publicada em 23 de Maio de 2025 às 12:25

Fotojornalista Sebastião Salgado morre aos 81 anos

Fotógrafo enfrentava problemas decorrentes de uma malária que adquiriu nos anos 1990

Fotógrafo enfrentava problemas decorrentes de uma malária que adquiriu nos anos 1990

INA FASSBENDER/AFP/JC
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Um dos maiores fotojornalistas em atividade no mundo e expoente da atividade no Brasil, Sebastião Salgado faleceu aos 81 anos. A notícia foi confirmada pelo Instituto Terra, do qual Salgado era fundador. "Com imenso pesar, comunicamos o falecimento de Sebastião Salgado, nosso fundador, mestre e eterno inspirador", diz a nota da entidade.
Um dos maiores fotojornalistas em atividade no mundo e expoente da atividade no Brasil, Sebastião Salgado faleceu aos 81 anos. A notícia foi confirmada pelo Instituto Terra, do qual Salgado era fundador. "Com imenso pesar, comunicamos o falecimento de Sebastião Salgado, nosso fundador, mestre e eterno inspirador", diz a nota da entidade.
Ele enfrentava problemas decorrentes de uma malária que adquiriu nos anos 1990, relatou à Folha um amigo próximo. O artista vivia em Paris. Em uma abertura recente de uma mostra na Normandia, no norte da França, Salgado já estava abatido. Os remédios que o artista tomava deixaram de funcionar nos últimos anos, ainda segundo relato de pessoas próximas.
Salgado deixa a esposa Lélia, os filhos Juliano e Rodrigo, e os netos Flávio e Nara.
No anúncio ndo falecimento, o Instituto Terra lamenta a passagem do seu fundador e salienta o impacto do trabalho de Salgado seja na fotografia seja em suas ações ambientais. "Sebastião foi muito mais do que um dos maiores fotógrafos de nosso tempo. Ao lado de sua companheira de vida, Lélia Deluiz Wanick Salgado, semeou esperança onde havia devastação e fez florescer a ideia de que a restauração ambiental é também um gesto profundo de amor pela humanidade. Sua lente revelou o mundo e suas contradições; sua vida, o poder da ação transformadora", diz a nota.
Vida dedicada à fotografia e ao meio-ambiente
Sebastião Ribeiro Salgado Júnior nasceu em 1944 na pequena Aimorés, no interior de Minas Gerais. Ele começou a estudar Direito, mas logo mudou para Economia, área na qual obteve um mestrado pela Universidade de São Paulo. Ativista de esquerda, mudou-se para a França em 1969, fugindo da ditadura no Brasil.
Funcionário da Organização Internacional do Café, o brasileiro viajava com frequência para a África, onde começou a fotografar depois de experimentar uma câmera que sua mulher havia comprado em 1970.
"Percebi que instantâneos me davam mais prazer do que relatórios financeiros", confessou.
Um humanista, Salgado dedicou seu olhar às injustiças do mundo, tendo fotografado a mineração e levantes sociais, como a Revolução dos Cravos, em Portugal, em inconfundíveis imagens em preto e branco que aliavam beleza e compromisso.
A consagração veio no final dos anos 1980 com uma série de imagens em preto e branco de Serra Pelada, local de mineração de ouro na Amazônia que atraiu 50 mil trabalhadores que acalentavam o sonho de ficar ricos. Suas fotos davam a impressão de que o garimpo era um formigueiro humano.
Ele também ficou conhecido como um dos principais defensores da preservação ambiental com suas fotografias da Amazônia. Em 1996, suas lentes testemunharam uma das maiores ocupações na história do MST, o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra. O resultado foi o celebrado livro "Terra", editado pela Companhia das Letras.
Para o editor Luiz Schwarcz, publisher da Companhia das Letras, a morte de Salgado representa uma "grande perda". "Era um perfeccionista, realmente. Além da amplitude, era muito preocupado com aspectos gráficos."
Durante um evento no Palácio do Planalto nesta sexta, por ocasião da visita do presidente de Angola, João Lourenço, ao Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu um minuto de silêncio pela morte de Salgado. "Certamente, se não o maior, um dos maiores e melhores fotógrafos que o mundo já produziu", disse.
A ministra da Cultura, Margareth Menezes, disse que a morte de Salgado "é muito impactante, muito triste". "Fica um legado de humanidade, respeito pelo próximo e preocupação com o meio ambiente", lamentou.

A Academia de Belas Artes da França, da qual Salgado era membro, descreveu o fotógrafo como uma "grande testemunha da condição humana e do estado do planeta", em comunicado em que anunciou a sua morte.
De Ruanda à Guatemala, passando por Indonésia e Bangladesh, o brasileiro documentou fomes, guerras, êxodos e exploração trabalhista no Terceiro Mundo com o olhar empático e imparcial "de alguém que vem da mesma parte do mundo", como ele costumava dizer. Seu universo esteticamente elegante era também uma celebração das mais belas paisagens e ao mesmo tempo um alerta sobre a necessidade de protegê-las diante da emergência climática.
Salgado recebeu prêmios de prestígio, incluindo o Príncipe das Astúrias e o Prêmio Internacional da Fundação Hasselblad, e foi tema do documentário indicado ao Oscar de Wim Wenders "O Sal da Terra", sobre suas viagens a lugares remotos como o Círculo Polar Ártico e Papua Nova Guiné, que inspiraram seu livro "Gênesis", lançado em 2013.

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