A recuperação dos acervos atingidos pelas enchentes do Rio Grande do Sul pode levar até cinco anos, considerando a experiência de outros países que vivenciaram o mesmo. Cerca de 10 mil caixas de documentos do Departamento de Arquivo Geral (DAG), da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), estão congelados para facilitar o processo de restauração - que entra em uma nova fase com a mudança de espaço.
“No primeiro momento, todo material foi retirado do prédio e optamos pela técnica do congelamento. Os documentos ficam todos ensacados e congelados dentro de contêineres frigoríficos, em uma temperatura de 20 graus negativos”, explica a diretora do DAG, Débora Flores. O procedimento evita a proliferação de mofo e fungos que deformam a tinta e o papel, o que faz com que a equipe tenha mais tempo para fazer o restante do processo de recuperação.
Dessa forma, o trabalho realizado no Centro de Convenções passa a ocupar o Espaço Transdisciplinar de Ensino de Pesquisa e Extensão, chamado de Espaço multiuso. O ambiente conta com quatro contêineres que funcionam como câmaras frias, para abrigar os documentos, além de dois contêineres com a função de estufa, equipados com ar-condicionado.
Cerca de 50 pessoas, entre servidores do DAG, terceirizados, voluntários e bolsistas, participam da linha de montagem. Após o descongelamento dos documentos, processo que é feito de forma gradual, acontece a higienização. Concluída esta etapa, será feita a secagem com três métodos: estufa natural, estufa de circulação de ar e liofilizador.
Após secos, os arquivos vão para o setor de preparo, onde se deslocam um dos outros e passam para a Comissão Permanente de Avaliação de Documentos (Cpad), que faz uma triagem de acordo com a prioridade de digitalização. O objetivo, segundo Débora, é recuperar o acervo e auxiliar outras universidades e acervos atingidos no Estado. Atualmente, o espaço já recebe um acervo pequeno do município de Dona Francisca, próximo do Rio Jacuí.
Nesta semana, uma comitiva do Arquivo Nacional esteve na universidade para conferir o trabalho realizado. O órgão destinou R$ 1 milhão para aquisição de materiais de consumo, recurso que se soma ao R$ 1,5 milhão do Ministério da Educação (MEC).
Ao menos 283 instituições de cultura foram atingidas pelas enchentes, conforme um levantamento da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac). Entre os mais atingidos estão os museus, as bibliotecas e as casas de cultura. Em Santa Maria, no entanto, a inundação ocorreu, no dia 30 de abril, em razão de um córrego, e os documentos ficaram submersos por um dia, diferentemente dos acervos de Porto Alegre. O nível da água no local chegou a 2 metros.