As cheias no Rio Grande do Sul são pontos de atenção para doenças como leptospirose, hepatite A, tétano, doenças diarreicas agudas e infecções respiratórias. A leptospirose, especificamente, já causou, segundo último boletim da Secretaria de Saúde do Estado, 3.658 casos notificados e 242 confirmados, além de 15 óbitos. Porém, conforme alerta o Centro Estadual de Vigilância em Saúde do Rio Grande do Sul (Cevs-RS), a doença pode ficar retida na lama ou em locais contaminados mesmo após diminuição das águas.
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A doença é causada, segundo o comunicado publicado pelo Cevs, por exposição direta ou indireta à urina de animais contaminados pela bactéria leptospira. Isso inclui lama, lixo e demais detritos. O quadro clínico pode ocorrer a partir do contato da pele, mesmo íntegra, por longos períodos, pela penetração a partir de lesões ou ainda mucosas, boca, olhos ou afins.
Segundo a chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica do Cevs, Roberta Vanacôr, o órgão recomenda que "ao retornar para suas casas, as pessoas procurem estar de botas e luvas plásticas e roupas longas para evitar o contato da pele com a lama. Caso isso ocorra, que procure higienizar imediatamente."
Por esse motivo, mesmo durante a limpeza, a Cevs indica, em seu Guia Rápido para Riscos e Cuidados Após as Enchentes, que o indivíduo envolvido cubra cortes ou arranhões com bandagens à prova d’água; não ande descalço; use luvas e sapatos impermeáveis; evite nadar, tomar banho ou ingerir água que possa estar contaminada com água da enchente.
O documento lista a maneira ideal de realizar a limpeza para cada caso. Para retirada da sujeira, em geral, usa-se água sanitária (hipoclorito de sódio a 2,5%), e sua concentração varia conforme a finalidade. Ressalta-se que não se utilize saneantes caseiros ou sem procedência, e nunca misture saneantes por conta própria.
Sintomas de leptospirose e como proceder
"No caso específico da leptospirose, a gente vêm trazendo muito essa questão de que a pessoa não deve negligenciar os sintomas. Os primeiros sintomas são muito semelhantes a qualquer caso viral e bacteriano", explica Roberta. Por isso, independente se o indivíduo teve contato com lama e do quadro clínico, é fortemente recomendado que, se acometido por esses indícios, procure o médico o mais rápido possível. É preconizado, porém, que não seja realizada automedicação, já que é possível ser outra doença.
A leptospirose, conforme Roberta, possui um curso clínico curto entre a data de início de sintomas e potenciais agravamentos. Sendo esses sintomas a febre, ou até mesmo sensação febril, dor de cabeça, dor muscular (principalmente panturrilhas), falta de apetite, náuseas/vômitos. Os sintomas surgem normalmente de cinco a 14 dias após a contaminação, podendo chegar a 30 dias.
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A profissional também ressalta que o tratamento independe da confirmação laboratorial. Atualmente, o resultado é dado de forma clínica epidemiológica e os remédios são oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Deve-se ressaltar que a incidência está sendo muito maior que o comum no pico das cheias. Na semana de início das enchentes foram registradas 36 ocorrências totais. Duas semanas depois, o número notificado foi cerca de 15 vezes maior, totalizando 563. Na mesma semana aconteceu o pico de óbitos, seis pessoas. Os números arrefeceram, mas ainda são altos. Somente nesse menor período, até o momento, há 629 ocorrências, entre notificações e óbitos.