Em entrevista exclusiva ao Jornal do Comércio, o diretor-geral do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), Mauricio Loss afirmou que o departamento fatura quase R$ 1 bilhão de reais anualmente, e que nos próximos 5 anos serão investidos R$ 500 milhões em melhorias no sistema de prevenção contra enchentes em Porto Alegre, que vem sendo bastante criticado desde o início da tragédia que assola o Rio Grande do Sul.
Leia a seguir o posicionamento do diretor sobre estas e outras questões que envolvem o Departamento Municipal de Água e Esgotos.
Jornal do Comércio - Qual a capacidade de investimento anual que o Dmae tem hoje?
Mauricio Loss - O Dmae fatura aproximadamente R$ 900 milhões de reais por ano. Esse recurso tem que ser destinado, tanto para investimentos quanto para contratos de manutenção. O departamento tem mais de 500 contratos, como por exemplo, contratos com fornecedores de produtos químicos para o tratamento da água, manutenções de redes fluviais e os próprios contratos de manutenção das casas de bombas. Temos a previsão de investir nos próximos cinco anos aproximadamente R$ 500 milhões entre novas casas de bombas e novas redes de macrodrenagem e microdrenagem porque entendemos que a região precisa.
Mauricio Loss - O Dmae fatura aproximadamente R$ 900 milhões de reais por ano. Esse recurso tem que ser destinado, tanto para investimentos quanto para contratos de manutenção. O departamento tem mais de 500 contratos, como por exemplo, contratos com fornecedores de produtos químicos para o tratamento da água, manutenções de redes fluviais e os próprios contratos de manutenção das casas de bombas. Temos a previsão de investir nos próximos cinco anos aproximadamente R$ 500 milhões entre novas casas de bombas e novas redes de macrodrenagem e microdrenagem porque entendemos que a região precisa.
JC - Em setembro de 2018, o engenheiro do Dmae Marcos Goulart Machado alertou sobre possibilidade de falhas das casas de bombas de número 17 e 18. Quando tu assumiste em 2023 essa informação chegou até a tua pessoa?
Loss - Não chegou, é só ver no processo. Primeiro que, em 2018, quando isso aconteceu, ainda existia o DEP (Departamento de Esgotos Pluviais), isso não era responsabilidade do DMAE. Além disso, o processo foi encerrado em 2019. O primeiro erro grave foi este, na gestão anterior do extinto DEP nada foi feito. Quando o DMAE incorporou o DEP, estes engenheiros não alertaram sobre os problemas antes das chuvas de 2023. O processo só foi reaberto após a ocorrência dessas chuvas no ano passado. Em nenhum momento ele passou por mim ou pelo prefeito.
JC - O processo chegou ao conhecimento do público através do deputado estadual Matheus Gomes (PSOL). Durante sua fala, o deputado coloca que boa parte da tragédia que assolou o RS poderia ter sido evitada com a execução de reformas “simples”. Concorda com essa fala?
Loss - Esses projetos que trariam melhorias às casas de bombas não são um simples erguer de paredes como fala o deputado, até porque que eu saiba ele não é engenheiro. Se o DMAE tivesse simplesmente erguido uma parede, aquela parede não teria durado cinco segundos. É necessário se fazer um cálculo estrutural, um dimensionamento e construir uma parede robusta com bastante ferro. É algo que requer um projeto, não é simplesmente colocar um tijolo. De 29 novembro até 1° de maio não se teve tempo hábil para corrigir isso.
JC - Esse primeiro alerta dos engenheiros do Dmae em 2018 foi feito em novembro e só em janeiro obteve-se uma resposta do departamento. Vale ressaltar que essa resposta foi devolvida com uma pergunta. Depois desse “bate-papo”, o processo ficou 4 anos parado. Por que houve tanta lentidão? Não teria sido mais fácil fazer uma reunião presencial?
Loss - Não chegou, é só ver no processo. Primeiro que, em 2018, quando isso aconteceu, ainda existia o DEP (Departamento de Esgotos Pluviais), isso não era responsabilidade do DMAE. Além disso, o processo foi encerrado em 2019. O primeiro erro grave foi este, na gestão anterior do extinto DEP nada foi feito. Quando o DMAE incorporou o DEP, estes engenheiros não alertaram sobre os problemas antes das chuvas de 2023. O processo só foi reaberto após a ocorrência dessas chuvas no ano passado. Em nenhum momento ele passou por mim ou pelo prefeito.
JC - O processo chegou ao conhecimento do público através do deputado estadual Matheus Gomes (PSOL). Durante sua fala, o deputado coloca que boa parte da tragédia que assolou o RS poderia ter sido evitada com a execução de reformas “simples”. Concorda com essa fala?
Loss - Esses projetos que trariam melhorias às casas de bombas não são um simples erguer de paredes como fala o deputado, até porque que eu saiba ele não é engenheiro. Se o DMAE tivesse simplesmente erguido uma parede, aquela parede não teria durado cinco segundos. É necessário se fazer um cálculo estrutural, um dimensionamento e construir uma parede robusta com bastante ferro. É algo que requer um projeto, não é simplesmente colocar um tijolo. De 29 novembro até 1° de maio não se teve tempo hábil para corrigir isso.
JC - Esse primeiro alerta dos engenheiros do Dmae em 2018 foi feito em novembro e só em janeiro obteve-se uma resposta do departamento. Vale ressaltar que essa resposta foi devolvida com uma pergunta. Depois desse “bate-papo”, o processo ficou 4 anos parado. Por que houve tanta lentidão? Não teria sido mais fácil fazer uma reunião presencial?
Loss- Eu não acho ético eu falar sobre a conduta da gestão anterior. Eu entendo que houve um erro sim, mas como a gente não sabe os motivos eu acho que não seria ético apontar os erros do passado e incriminar alguém.
JC - Três das quatro maiores cheias da história do Guaíba aconteceram nos últimos nove meses. Isso já não foi suficiente para atestar que eram necessárias mudanças e aperfeiçoamentos no sistema de proteção e drenagem?
JC - Três das quatro maiores cheias da história do Guaíba aconteceram nos últimos nove meses. Isso já não foi suficiente para atestar que eram necessárias mudanças e aperfeiçoamentos no sistema de proteção e drenagem?
Loss - Realmente, querer que um sistema lá de 1970 (muro da Mauá) tenha uma estanqueidade de 100% é impossível. A gente estava desenvolvendo um novo sistema de trilhos para que fosse mais fácil fechar as comportas. Só que tudo é demorado. Estamos falando de uma comporta extremamente grande e pesada. O fato é que o sistema foi submetido a uma grande prova agora, algo que nunca havia acontecido. A maior cheia anterior no sistema era de 3,46 metros e agora tivemos 5,35 metros. Providenciaremos a troca das comportas num curtíssimo prazo. Ficou constatado que, principalmente, aquelas comportas lá da Castelo Branco precisam ser mais robustas.
JC - Quais as mudanças práticas que vamos ver nos próximos meses? Quais as prioridades?
Loss - A substituição dessas comportas que se mostraram mais frágeis, o reparo das casas de bombas, principalmente essas apontadas pelo processo interno, e na questão de diques. Alguns diques precisam ser reconstruídos e outros precisam ter suas cotas elevadas.
JC - O DMAE admite que houve falha no sistema que deveria evitar a inundação de Porto Alegre?
Loss - A falha é relativa. O fato é que as casas de bombas têm problemas desde a sua concepção. As casas de bombas 17 e 18 da avenida Mauá foram construídas em 1974. Então a gente poderia pegar todos os prefeitos de 1974 para cá e perguntar o porquê que não foram feitas as correções. Esse projeto tem sim suas falhas; todo o sistema de proteção contra as cheias tem suas falhas e precisamos fazer as correções necessárias. Agora, o sistema protegeu Porto Alegre, sim . Ele fez com que as águas avançassem de maneira mais lenta, permitindo que as pessoas saíssem em suas casas e preservassem sua vida. Claro que muitas perderam seus bens, mas pelo menos, o bem mais importante que é a vida foi preservado.
JC - A fusão do DMAE com o DEP foi um erro? O DMAE tem capacidade para assumir todas as funções?
Loss - Entendo que não foi um erro, muito pelo contrário. Tenho plena convicção de que se esta catástrofe tivesse acontecido ainda sobre a gestão do DEP, com a precariedade que existia, a tragédia teria sito muito maior.
JC - Sobre o Humaitá, por que a água não baixou ainda em comparação com outros bairros? Há uma reclamação que a região foi “esquecida”, como vê essa situação?
Loss - Há uma angústia dos moradores assim como é a nossa angústia. Nós queremos restabelecer a normalidade o mais rápido possível, não só no Humaitá, mas em toda cidade. O Humaitá e o 4° Distrito como um todo, são protegidos por um dique, então a água só sai pelas casas de bombas ou pelas comportas. A casa de bombas número cinco está funcionando há pelo menos uma semana e as comportas 12 e 14 que já estão abertas. Na quarta-feira (22), nós abrimos a comporta de número 11. No entanto, a casa de bombas número cinco, infelizmente não tem dado uma vazão suficiente e a comporta de número 14 também não. Nós já fizemos tudo que estava ao nosso alcance até o momento, mas nossa equipe de técnicos está quebrando a cabeça para buscar soluções.
JC - Sobre o Humaitá, por que a água não baixou ainda em comparação com outros bairros? Há uma reclamação que a região foi “esquecida”, como vê essa situação?
Loss - Há uma angústia dos moradores assim como é a nossa angústia. Nós queremos restabelecer a normalidade o mais rápido possível, não só no Humaitá, mas em toda cidade. O Humaitá e o 4° Distrito como um todo, são protegidos por um dique, então a água só sai pelas casas de bombas ou pelas comportas. A casa de bombas número cinco está funcionando há pelo menos uma semana e as comportas 12 e 14 que já estão abertas. Na quarta-feira (22), nós abrimos a comporta de número 11. No entanto, a casa de bombas número cinco, infelizmente não tem dado uma vazão suficiente e a comporta de número 14 também não. Nós já fizemos tudo que estava ao nosso alcance até o momento, mas nossa equipe de técnicos está quebrando a cabeça para buscar soluções.
JC - A região foi “esquecida”?
Loss - De modo algum, porque, há pelo menos uma semana, a casa de bombas dali está funcionando. Está comprovado que não há negligência do poder público em relação a isso.
JC - É possível dar uma previsão de retorno a normalidade?
Loss - Dar uma previsão eu ainda não consigo, mas de fato estamos trabalhando para restabelecer normalidade.