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Publicada em 25 de Abril de 2024 às 16:00

Imprecisão nos diagnósticos de gaúchos afetados pelo câncer compromete tratamento

Asssunto foi debatido na 3ª Edição Especial Global Fórum, promovido pelo Instituto Lado a Lado pela Vida, em Brasília

Asssunto foi debatido na 3ª Edição Especial Global Fórum, promovido pelo Instituto Lado a Lado pela Vida, em Brasília

Maria Amélia Vargas/Especial/JC
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Maria Amélia Vargas
Maria Amélia Vargas Repórter
De Brasília
De Brasília
Mais da metade dos gaúchos com câncer (66%) não chega a ter certeza sobre o estágio em que a doença se encontra quando são diagnosticados. Do total de 59,5 mil casos registrados em 2023, cerca de 8,6% estão nas fases mais graves da doença. Esses e outros dados foram apresentados durante a 3ª Edição Especial Global Fórum, promovido pelo Instituto Lado a Lado pela Vida, realizado nos dias 24 e 25 de abril, no Centro Internacional de Convenções do Brasil, em Brasília.
A imprecisão deste processo compromete gravemente as chances de recuperação e de sobrevida destes pacientes. Segundo Igor Morbeck, membro do comitê científico, são cinco os níveis de acometimentos da enfermidade, que vão desde a fase muito inicial, cuja chance de cura é de 100%, até o momento em que nada ou pouco tem a se fazer: “No estadiamento 0, a doença ainda não é invasiva, na categoria 1, os tumores invadiram de maneira bem restrita uma camada das células da pele ou de algum outro órgão. O estágio clínico 2 é um pouquinho mais avançado, mas ainda é um tumor com perspectiva altíssima de cura."
No entanto, na fase clínica 3, quando o tumor já tem invasão de linfonodos, as taxas de cura já são menores e muitas vezes precisa de combinação de tratamentos. “E o estágio clínico 4, infelizmente, é aquele que a gente vê na maioria da população brasileira, e são aqueles tumores metastáticos que não têm perspectiva de cura e cujos tratamentos são muitas vezes paliativos”, explica.
Para que esta realidade seja transformada, especialistas presentes no evento acreditam que os investimentos no segmento precisam ser melhor distribuídos pelos municípios. De acordo com outra pesquisa apresentada pelo Instituto Lado a Lado pela Vida - com base em dados do SIOPS, um instrumento de planejamento, gestão e controle social criado para garantir a transparência do Sistema Único de Saúde (SUS) -, Porto Alegre é a atual nona capital no ranking de investimento de atenção básica em 2023 (R$ 363,3 milhões sobre um total de R$ 19,3 trilhões). O Rio Grande do Sul, segundo o estudo, aplica menos de 40% dos recursos do Ministério da Saúde para esses fins.

Nesse sentido, o Assessor Técnico do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), Rodrigo Lacerda, afirma que os municípios acabam investindo 24% da sua receita própria na saúde. “Deveria ser 15%, caso houvesse um melhor monitoramento, estadiação e regulação. Não é simplesmente implementar o sistema, mas reorganizar todo o processo para que não o percamos nesse caminho”.

Uma das formas abordadas durante os debates para se evitar o pior cenário foi apresentada pela consultora Nacional de Doenças Crônicas Não Transmissíveis da Organização Panamericana de Saúde (OPAS/ OMS), Larissa Verissimo. Segundo a médica, o treinamento e investimento nos profissionais da atenção básica de saúde facilitaria o diagnóstico precoce. “A gente não tem um programa de fixação dos profissionais, então a rotatividade é muito grande. Essa coordenação e a definição de papeis é muito importante, não só para a rede, mas que trabalha nela”, destaca.
Na análise da tecnologista da Coordenação de Prevenção e Vigilância do Instituto Nacional de Câncer (Conprev/INCA), Marcia Sarpa de Campos Mello, uma dos principais focos deve ser a prevenção. “Nós temos diversos programas de sucesso implementados aqui no Brasil, como o Programa Nacional de Controle do Tabagismo, que fez com que nós tivéssemos uma redução de 43% da prevalência de fumantes no ano de 1989 para 15% em 2019”.

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