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Publicada em 10 de Fevereiro de 2024 às 15:21

Mudanças climáticas, adaptação do mosquito e dinâmica de circulação do vírus podem estar por trás do aumento de casos de dengue

Porto Alegre, no momento, apresenta 911 casos de dengue notificados e 51 confirmados; aumento de dez vezes em um ano

Porto Alegre, no momento, apresenta 911 casos de dengue notificados e 51 confirmados; aumento de dez vezes em um ano

CRISTINE ROCHOL/DIVULGAÇÃO/CIDADES
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Thiago Müller
Thiago Müller
O município de Porto Alegre, no momento, apresenta 911 casos de dengue notificados e 51 confirmados. A infestação, segundo a Vigilância da Saúde do município, é considerada preocupante. No ano passado, nesse mesmo período, o levantamento era 95 notificados e 5 confirmados. A nível estadual, são cerca de 6,8 mil notificados e 3,2 mil confirmados. Em comparação com 2023, quando se registraram 991 casos notificados e 134 confirmados no mesmo período, o aumento é de cerca de sete vezes para notificações e 23 vezes para confirmações.
O município de Porto Alegre, no momento, apresenta 911 casos de dengue notificados e 51 confirmados. A infestação, segundo a Vigilância da Saúde do município, é considerada preocupante. No ano passado, nesse mesmo período, o levantamento era 95 notificados e 5 confirmados. A nível estadual, são cerca de 6,8 mil notificados e 3,2 mil confirmados. Em comparação com 2023, quando se registraram 991 casos notificados e 134 confirmados no mesmo período, o aumento é de cerca de sete vezes para notificações e 23 vezes para confirmações.
Há uma conjunção de fatores que, juntos, ocasionaram esse aumento, que incluem mudanças no clima, permanência do vírus na região do Rio Grande do Sul e adaptação do mosquito ao frio, estiagem e ambiente urbano.
Para medir essa infestação, o município utiliza, majoritariamente, armadilhas do mosquito para inferir o Índice Médio de Fêmeas Adultas de Aedes aegypti (IMFA). Dos últimos 46 bairros vistoriados, 42 estão em alerta crítico de IFMA. Ainda, foram coletadas 1118 fêmeas em 444 armadilhas das 864 vistoriadas, representando 51,38% das armadilhas positivas para o mosquito.
O Infodengue, programa em parceria entre FGV e Fiocruz, relata picos a cada três anos, todos entre abril e maio. Em 2019, o maior número de casos estimados em uma semana havia sido 139 em todo a cidade. Em 2022, já eram cerca de 1080 casos, representando aumento de sete vezes. No ano passado, o pico foi de 960.
Segundo a diretora da Vigilância em Saúde de Porto Alegre, Evelise Tarouco, 2024 é um ano inédito, no sentido de ter iniciado o ano com casos de dengue. Para ela, “casos em geral começavam pelo período do carnaval, no final de fevereiro e março”, explica.
Segundo o biólogo e pesquisador Walter Orlando Beys da Silva, o aumento vem da mudança da dinâmica de circulação do vírus no Rio Grande do Sul. Segundo ele, entre 2020 e 2021, a proliferação de doenças que tinham o mosquito como vetor eram, na maioria, advindas de estados com foco de infecção. Isso desacelerava o ciclo de transmissão interna no RS. Hoje, o ciclo de transmissão é sustentado dentro da região. "Pessoas que são infectadas aqui começam a transmitir através da picada pra outras pessoas, é uma questão de progressão geométrica", explica.
Soma-se a isso a questão climática: segundo o especialista, o mosquito tende a ter a proliferação menor nas temperaturas mais frias. Mas, com o tempo, passou-se a ter invernos com temperaturas mais amenas e maior períodos de calor. “Tudo isso aumenta a proliferação do vetor, mas também há os casos que, internamente, vão crescendo ao longo dos anos. Isso a gente não tem como frear”, afirma o pesquisador.
O mosquito, por sua vez, também se adaptou ao meio urbano. “Os ovos são super resistentes, eles aguentam mais de um ano no ambiente”, diz o biólogo. Quando entram em contato com a água, eclodem em 30 a 40 minutos, e em 5 a 7 dias geram algumas centenas de mosquitos. E, ainda, “se vieram de uma fêmea contaminada com o vírus da dengue, por exemplo, ele pode gerar já mosquitos contaminados”, complementa Beys. O ciclo de vida do mosquito pode variar entre 30 a 45 dias.
Como explica Evelise Tarouco, o pensamento comum é que o maior foco de reprodução são locais como grandes piscinas ou reservatórios. Porém, diz ela, 75% dos criadouros estão em domicílios ou ao redor deles: são potes, pneus, vasos de plantas e até tampinhas de plástico - qualquer coisa que possa, eventualmente, armazenar água.
Inclusive, atualmente o mosquito já sobrevive em água suja, o que expandiu as ações de combate, que agora incluem o fechamento de reservatórios de esgoto a céu aberto. Por isso, mesmo que a conjunção de fatores seja o que aumentou o número da dengue, a reprodução do vetor também depende da comunidade, assim como do setor público.

Reprodução do vetor depende da comunidade

O posicionamento de Evelise Tarouco é que o melhor caminho para reduzir a infestação é conscientização da sociedade. "Qualquer local onde forma uma lâmina mínima de água é suficiente para a fêmea colocar ovos", explica a diretora da Vigilância em Saúde.
Isso demanda da sociedade que saiba tomar os cuidados efetivos com o ambiente. O recomendado pelo governo do estado do Rio Grande do Sul é limpar e revisar semanalmente áreas internas e externas das residências e apartamentos, juntamente com o uso do repelente.
As ações que devem ser tomadas são:
  • vedar totalmente caixas d'água;
  • limpar calhas, retirando folhas e sujeira, para evitar acúmulo de água;
  • limpar ralos e aplicar tela para evitar a formação de criadouros;
  • limpar bandejas de ar-condicionado ou descartá-las;
  • vedar totalmente galões, tonéis, poços, latões e tambores, inclusive aqueles usados para água de consumo humano;
  • esticar lonas para evitar acúmulo de água;
  • tratar piscinas e fontes com produtos químicos específicos;
  • guardar, em locais cobertos, objetos como pneus;
  • armazenar garrafas vazias com a boca para baixo;
  • virar baldes com a boca para baixo;
  • tampar vasos sanitários fora de uso ou de uso eventual, renovando a água semanalmente;
  • esvaziar os pratos dos vasos de plantas ou preenchê-los com areia;
  • esvaziar a água acumulada na bandeja da geladeira;
  • esvaziar a água acumulada semanalmente de algumas plantas, como espada-de-são-jorge e bromélias (que podem acumular água entre as folhas)
O biólogo Walter Orlando Beys da Silva frisa que "qualquer superfície que acumule água é um foco potencial do aedes aegypti" e, portanto, "para a gente controlar, não temos o que fazer senão frear a reprodução do vetor. E a reprodução do vetor depende da comunidade".
Mesmo a ação de combate por borrifação de inseticidas não se faz o suficiente sem o engajamento da sociedade. A ação já é planejada como uma das medidas da Secretaria Municipal de Saúde para combate ao vetor, porém sem previsão de início, pois está em fase de contratação com uma empresa terceirizada, segundo a assessoria da pasta. Segundo orientações da vigilância e saúde, se as outras medidas não forem juntamente tomadas, a população de mosquitos adultos será reposta em no máximo uma semana. 

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