Quem conhece o Litoral Norte do Rio Grande do Sul sabe: à exceção de Capão da Canoa e de Torres, quase não há prédios à beira-mar. Pois na pacata praia de Mariápolis, que pertence ao município de Osório, uma torre abandonada há anos destoa da paisagem. São nove andares inacabados, com pichações, bem em frente ao mar, junto à avenida Conceição do Arroio.
Ao caminhar pela areia, o local virou referência. Atrás das dunas e das árvores, o prédio gera surpresa e preocupação. Mário Pelz, ex-presidente e atual diretor da Associação de Amigos e Moradores de Mariápolis, conta que algumas pessoas “já caíram do prédio, curiosos que foram lá dentro ver e bater fotos”.
Além disso, todo ano tem invasor no terreno. “Hoje há dois”, calcula. “Acaba gerando insegurança. Furtos localizados podem ser ligados a eles”, avalia.
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Pelz concorda que, realmente, o prédio virou referência em Mariápolis, mas no sentido depreciativo. “Já tivemos tapumes da parte de cima que caíram na estrada ao lado. Por sorte, não atingiram ninguém”, lembra.

A assessoria de imprensa da prefeitura de Osório informa que o prédio é anterior ao Plano Diretor (6 de outubro de 2006). “Os projetos que tiveram aprovação antes disso, teoricamente têm direito adquirido”, diz a nota.
Atualmente, nas quadras adjacentes às avenidas Saquarema (Atlântida Sul) e Brasil (Mariápolis), o Plano Diretor permite somente até quatro pavimentos (zoneamento eixo comercial 4). Nas outras quadras em frente ao mar, o limite é de dois pavimentos (setor residencial 3). O edifício abandonado tem nove.
“O prédio segue embargado, porque não possui um projeto para a correta destinação do esgoto. Esse processo se desenrola há muitos anos. Até teve alguns investidores interessados na aquisição, mas não houve avanço”, afirma a prefeitura.
Atualmente, a estrutura está à venda na imobiliária Marinhuk, de Xangri-Lá, pelo valor de R$ 3,8 milhões. Uma das herdeiras do empreendimento é proprietária de uma livraria no bairro Menino Deus, em Porto Alegre, e não comentou o assunto ainda.
A moradora Laudete de Brito, que se mudou com a família à região em 2010, relata que em certo momento o local foi cercado, e ela pensou que algo ocorreria. “As pessoas comentam que ali precisaria se tomar uma providência. A gente fica apreensivo e, de certa forma, se questionando”, expõe, curiosa sobre o futuro da área vizinha.
Conforme os moradores, quando a construção iniciou, se falava de uma moradia de alto padrão composta por 35 apartamentos, com dois andares de garagem e até um restaurante no último andar com vista privilegiada. Os planos, porém, deram lugar a uma presença inconveniente. “Ocorre que faleceu o dono e ficaram herdeiros. E o prédio nunca foi terminado”, lamenta Pelz.
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