O mês de setembro já se encerrou, mas a saúde mental está longe de ser um problema de apenas 30 dias. A partir de outubro, as ações sobre o tema diminuem, a cor amarela é substituída e os assuntos nas rodas de conversa são outros. No entanto, as pessoas continuam precisando de auxilio nos outros 335 dias do ano.
O ambiente universitário é muito engrandecedor na vida dos estudantes. Gera diversas oportunidades e experiências para as jovens mentes que lá ingressam. Por outro lado, pode ser muito desafiador. Causar esgotamento, gerar transtornos e dificultar bastante a manutenção da saúde mental. Estudos, trabalhos, prazos curtos, carga horária exacerbada e alto nível de cobrança contribuem para a evolução de problemas psicológicos.
PALAVRA DO ESPECIALISTA
A democratização das universidades federais foi muito importante, mas foi apenas parcial, como aponta o professor do departamento de Psicologia Social e Institucional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Moisés Romanini. "A criação das cotas raciais e econômicas foi muito positiva, porém não houve uma preparação para receber e cuidar desses alunos, que, muitas vezes, precisam trabalhar para trazer o sustento de casa."
Segundo o mesmo, esses alunos não têm tempo nem para ver um psicólogo. Dificilmente buscam o auxílio dos profissionais da universidade. “Quando falamos de saúde mental, estamos falando também de questões sociais e econômicas. Não posso indicar que alguém procure um profissional se não tem tempo ou recurso para tal", afirma Moisés, que também acumula a função de responsável pelo Programa de Extensão Movimento Educação e Saúde Mental (Medusa).
O Setembro Amarelo traz um olhar para esse problema. Levanta a discussão. Traz informações e presta suporte. Porém, para o psicólogo, não é suficiente. "O setembro amarelo é antes de qualquer coisa uma campanha de marketing. Tem sua validade, mas eu acredito em saúde mental em todas as semanas. Isso são soluções muito individualistas para um problema social. A saúde mental é uma discussão de política pública, de defesa ao direito de moradia, educação, alimentação entre outros."
COMO OS ESTUDANTES VEEM TUDO ISSO?
Para falar sobre o ambiente universitário, nada melhor do que quem conhece aquilo como a palma da mão. Os próprios estudantes. Vivem rotinas pesadas e, muitas das vezes, não conseguem dar atenção para sua própria saúde.
COMO OS ESTUDANTES VEEM TUDO ISSO?
Para falar sobre o ambiente universitário, nada melhor do que quem conhece aquilo como a palma da mão. Os próprios estudantes. Vivem rotinas pesadas e, muitas das vezes, não conseguem dar atenção para sua própria saúde.
O Presidente do Centro dos Estudantes Universitários de Engenharia da Ufrgs, Ramon Cruz, acredita que mudanças na carga horária seriam positivas para os alunos. “Nossa rotina é muito caótica. A instituição deveria ter um maior cuidado com a demanda de cobranças.” Ele ainda faz um alerta sobra as campanhas de realizadas. “Setembro amarelo faz com que se esqueça os outros meses. O estudante da Ufrgs deveria ter um ano amarelo, principalmente da engenharia.”
Em 2019, a universidade teve a perda de dois estudantes, vítimas de suicídio. Neste ano, a situação voltou a se repetir, com mais um caso de estudante tirando a própria vida no mesmo prédio das outras ocorrências. Ramon critica a postura da instituição perante os acontecimentos. “A reitoria não levou o problema a sério. Falavam coisas do tipo: mas é o primeiro caso em muito tempo. Estamos com bons números. Sendo boa parte desse período estávamos em pandemia. Com a universidade fechada, como poderiam ocorrer mais suicídios? ”, questiona.
Além disso, houve um caso de denúncia contra um professor que costumava destratar os alunos. “O caso virou público durante a pandemia, durante uma aula on-line. É algo frequente, mas dessa vez foi gravado. Porém, mais uma vez a situação caiu no esquecimento. Esperávamos uma empatia maior”, disse Ramon.
Já foram criados alguns projetos para que o tema fosse debatido e os alunos tivessem algum tipo de apoio, nem que fosse entre eles. "Uma das ações feitas nesse último semestre foi feito em parceria com a PRAE (Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis). Consiste em uma roda de conversa para apoio psicológico". O jovem cita a importância do projeto, mas lamenta a demora para que isso ocorra. “A gente nota que precisou acontecer algo, para o pessoal se abrir para a conversa. Meu medo é esse. Ter que acontecer algo para que haja mudança."
Caso você ou alguém que conhece esteja precisando de ajuda, o Centro de Valorização da Vida (CVV) realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone (188), e-mail e chat, 24 horas, todos os dias.


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