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Clima

- Publicada em 11 de Setembro de 2023 às 22:34

Uma semana após enxurradas, cidades do Vale do Taquari enfrentam desafios para reconstrução

Cidades como Arroio do Meio, Roca Sales e Muçum (foto) foram devastadas pela enchente

Cidades como Arroio do Meio, Roca Sales e Muçum (foto) foram devastadas pela enchente


EVANDRO OLIVEIRA/JC
Em uma tragédia como a que tomou conta das cidades do Vale do Taquari após as fortes chuvas da última madrugada de segunda-feira (4), os primeiros vestígios podem ser observados ainda na RS-130, onde o asfalto marcado pela lama e alguns destroços já anunciam o que ainda está por vir. Em Arroio do Meio, a primeira parada feita pela reportagem a caminho de Roca Sales, no domingo (10), a correnteza do rio Taquari era intensa e, às margens de um acesso, roupas, sapatos e sacolas de lixo estavam espalhados. O aposentado Vitor Schmitt, que anos atrás buscou no terreno próximo ao rio o sonho de levar uma vida tranquila, cultivando batata doce e aipim, perdeu a plantação e viveu momentos inimagináveis. “Mas salvei os bichinhos”, contou. Durante uma breve conversa, Schmitt, de 74 anos, falou que “nunca tinha visto algo assim”. Com lava-jato, ao fundo, sua esposa limpava a lama que invadiu a casa. O carro se encontrava na mesma situação, com lama dentro do porta-malas, e, segundo o morador, demorou a engatar quando tentou ligá-lo. Na noite em que as águas subiram, ele conseguiu salvar um colchão e dormir com a mulher na parte mais alta da casa, porque nem para a estrada era possível escapar. “Não tinha como sair”. Apesar disso, ele deixou claro que não precisava de doações. “Vou reconstruindo aos pouquinhos. Acho que tem pessoas precisando mais”, alertou.
Em uma tragédia como a que tomou conta das cidades do Vale do Taquari após as fortes chuvas da última madrugada de segunda-feira (4), os primeiros vestígios podem ser observados ainda na RS-130, onde o asfalto marcado pela lama e alguns destroços já anunciam o que ainda está por vir. Em Arroio do Meio, a primeira parada feita pela reportagem a caminho de Roca Sales, no domingo (10), a correnteza do rio Taquari era intensa e, às margens de um acesso, roupas, sapatos e sacolas de lixo estavam espalhados. O aposentado Vitor Schmitt, que anos atrás buscou no terreno próximo ao rio o sonho de levar uma vida tranquila, cultivando batata doce e aipim, perdeu a plantação e viveu momentos inimagináveis. “Mas salvei os bichinhos”, contou.

Durante uma breve conversa, Schmitt, de 74 anos, falou que “nunca tinha visto algo assim”. Com lava-jato, ao fundo, sua esposa limpava a lama que invadiu a casa. O carro se encontrava na mesma situação, com lama dentro do porta-malas, e, segundo o morador, demorou a engatar quando tentou ligá-lo. Na noite em que as águas subiram, ele conseguiu salvar um colchão e dormir com a mulher na parte mais alta da casa, porque nem para a estrada era possível escapar. “Não tinha como sair”. Apesar disso, ele deixou claro que não precisava de doações. “Vou reconstruindo aos pouquinhos. Acho que tem pessoas precisando mais”, alertou.

Muitas residências de moradores de Roca Sales foram destruídas total ou parcialmente

Muitas residências de moradores de Roca Sales foram destruídas total ou parcialmente


EVANDRO OLIVEIRA/JC
De fato. Em Roca Sales, cidade com pouco mais de 10 mil habitantes, onde a comitiva federal do presidente em exercício Geraldo Alckmin iniciou a agenda oficial, o centro da cidade estava completamente destruído. Crateras no lugar de casas, residências destelhadas, lama nas vidraças das lojas. Àquela altura, no entanto, o caos na cidade parecia mais controlado. Alguns voluntários, com pás e rodos nas mãos, reclamaram do movimento causado pela comitiva. “Pegar na pá e ajudar a limpar não pegam”, exclamou um deles. No local, foi montado um hospital de campanha pela Força Nacional do SUS. Para reconstruir as cidades do Vale do Taquari, o governo anunciou repasses de R$ 741 milhões, dinheiro que se soma ao R$ 1 bilhão anunciado pelo Banrisul. Neste momento, no entanto, a reconstrução ainda parece muito distante, e a angústia pela perda dos entes queridos e desaparecidos é latente. “Em cidade pequena todo mundo se conhece. É muito triste”, disse um morador.

Equipes de apoio vindas de fora de Roca Sales utilizam maquinário para ajudar na retirada da lama

Equipes de apoio vindas de fora de Roca Sales utilizam maquinário para ajudar na retirada da lama


EVANDRO OLIVEIRA/JC
 

"Eu ouvia os gritos dos vizinhos", diz moradora de Muçum sobre enchente

Móveis inutilizados se acumulam nas ruas de Muçum

Móveis inutilizados se acumulam nas ruas de Muçum


EVANDRO OLIVEIRA/JC
Em Muçum, município de 4,6 mil habitantes e o segundo a ser visitado pela comitiva do governo federal, a situação era devastadora. Conhecida por ser a “cidade das pontes” e por ter uma bela vista do alto, o cenário estava transformado. Todos os moradores que podiam estavam envolvidos na limpeza da cidade, junto aos voluntários, no último domingo (10). O exército estava na rua, e o policiamento era extensivo para evitar a entrada de curiosos na cidade. Só passavam autoridades, jornalistas, voluntários e moradores. A lama nas ruas ainda era espessa, exalando um odor muito forte, misturado com o cheiro do lixo. As ruas centrais da cidade estavam irreconhecíveis e era possível enxergar até móveis em cima de árvores. Os relatos foram dramáticos. “Eu ouvia os gritos dos vizinhos”, relembrou uma moradora, que perdeu conhecidos próximos, pessoas que via todos os dias.

Um curtume, que empregava cerca de 700 pessoas, foi destruído pela enxurrada. Uma pequena malharia empregava mais de 50 pessoas e perdeu todo o maquinário, relatou a mesma moradora. “Vou ter que ir para Encantado fazer rancho, não temos mais mercado aqui na cidade”, enfatizou. Ela, que tem um pequeno estabelecimento em Muçum, disse que a água tomou conta do primeiro andar e que precisou se refugiar no segundo. “Olhava pela janela e via pessoas nos telhados pedindo socorro.” Ela lembrou que a água subiu muito rápido. “Pegou todo mundo de surpresa”.

Em Muçum, casas de madeira foram arrancadas do piso

Em Muçum, casas de madeira foram arrancadas do piso


EVANDRO OLIVEIRA/JC
Em frente à sua casa, na Escola Municipal de Ensino Fundamental Colégio Alternativo, uma semana após a enxurrada, o lodo ainda estava presente em todo o pátio, tomando conta de paredes, janelas e brinquedos do playground. Segundo a voluntária Josinara Won Bostel, a ideia, no momento, é limpar as escolas das cidades atingidas para que as pessoas possam se abrigar o mais rápido possível.

Na calçada da escola, estruturas dos Festejos Farroupilhas que estavam sendo montadas cerca de duas quadras dali estavam empilhadas, um resquício avassalador da força da correnteza. “Acho que vai levar um ano até arrumar tudo. Faz três dias que eu não durmo direito. Metade da cidade vai precisar de antidepressivo”, considerou a moradora. No meio de tudo isso, no entanto, ela conta que a solidariedade das pessoas é impressionante. “Fiquei impressionada, chegaram aqui pessoas para lá de Porto Alegre, tem muita doação. E a nossa cidade é unida”.

No Rio Grande do Sul, segundo a Defesa Civil, o ciclone provocou 46 mortes e 46 pessoas seguem desaparecidas. Em Muçum, há 16 mortos e 30 ainda estão desaparecidos. Em Roca Sales, foram 11 mortos. Em Arroio do Meio, 8 pessoas estão desaparecidas. Em Lajeado, o número se repete. Esse já é considerado o maior desastre natural do Estado nas últimas décadas.

Voluntários distribuíam água potável para a população que trabalha na reconstrução de Muçum

Voluntários distribuíam água potável para a população que trabalha na reconstrução de Muçum


EVANDRO OLIVEIRA/JC