Com uma trajetória marcante para o meio cultural e ambiental no Rio Grande do Sul, o jornalista Ney de Araújo Gastal faleceu na madrugada de desta segunda-feira (3), aos 72 anos. Nascido em 6 de abril de 1951, atuou dentro da comunicação como cronista e repórter do meio cultural, além de assessor de imprensa. Ao longo de sua trajetória profissional, se aproximou do ambientalismo, que viria a ser o seu foco.
Filho de Dinah de Araújo Gastal e de Paulo Fontoura Gastal, acompanhava o pai, que era jornalista, durante os expedientes no jornal Correio do Povo. O pai de Ney era editor de Cultura do jornal e um crítico de cinema respeitado por todo o Brasil, um dos fundadores do Clube de Cinema de Porto Alegre no ano de 1948, e eventualmente foi homenageado com uma sala de cinema com seu nome na Usina do Gasômetro. Esse apreço pela arte, assim como o encanto pela profissão de jornalista, passaram de pai para filho.
Em nota, a Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (ACCIRS) lamentou o falecimento de Gastal, destacando sua atuação na primeira geração de críticos ligados à Associação, fundada em 2008.
Primeiros passos profissionais
Gastal atuou desde o início na área cultural. Fez parte da Equipe das Terças - projeto realizado por estudantes que publicavam resenhas no Correio do Povo. Aumentando seus horizontes, resolveu se dedicar também à área musical, e começou a redigir críticas para a Folha da Tarde. Com um currículo carregado, acabou por assumir a editoria de Cultura do Correio do Povo.
Em entrevista ao portal Coletiva.net em 2012, o jornalista brincava que sua escolha pela carreira na comunicação veio de forma determinista. "Não tive escolha", disse à época. Porém, a forma que lidava com adversidades provou que, caso essa brincadeira carregasse o mínimo de verdade, Ney Gastal teria adorado surpreender ou seguir outro caminho apenas pelo desafio.
Lidando com imprevistos
Com a trajetória na comunicação iniciando próximo ao final dos anos 1960, lidou com os anos mais conturbados da ditadura escrevendo sobre um nicho tão sensível à época, que era o cinema e a música. Em 1973, Ney resolveu fazer uma entrevista com o músico Geraldo Vandré, autor da música “Pra Não Dizer que Não Falei Das Flores”, que havia sido censurada. Gastal seguiu em frente e ignorou as indicações dos colegas de que seria censurado e teria a pauta derrubada a qualquer momento. Aprovada e publicada, foi por anos a única entrevista do compositor publicada no Brasil.
A sua integridade profissional lhe rendeu desavenças por onde passou. Em conversa com o Jornal do Comércio, Elmar Bones, diretor do Jornal JÁ, destacou o lado crítico do ex-colega de profissão em relação ao estado da profissão. "Eu perdi o contato com o Ney com a saída dele do jornalismo, mas ele sempre foi uma pessoa crítica do jornalismo 'provinciano'". Por essas e outras reclamações, Gastal decidiu deixar de lado a profissão de jornalista.
No meio ambiental
A natureza foi um dos objetos de fascínio de Ney Gastal, tanto que viria a cursar bacharelado em Biologia e mestrado em Geologia Marinha, porém sem finalizar ambos cursos. A inquietude dele seguiu também após abandonar o jornalismo.
Sem se distanciar por completo da comunicação, foi assessor do ministro do Meio Ambiente do governo Collor, José Lutzenberger. Apesar de desentendimentos, a relação entre os dois sempre foi resistente. Enquanto ambientalista, Gastal demonstrava extremo respeito e compartilhava muitos ideais com Lutz.
Trabalhou também na comunicação da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) e contribuiu com a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan).


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