"A região Antártica é muito mais sensível do que outras partes do Planeta. Temos um viés errado, principalmente na região Sul do Brasil, em especial no Rio Grande do Sul, de olhar mudanças climáticas como sinônimo de Amazônia. Isso não é correto. A Amazônia é um das partes do sistema ambiental terrestre. Mas, existem outras tão mais importantes quanto como é o caso da Antártica". A avaliação foi feita pelo professor Jefferson Cardia Simões, coordenador-geral do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera, que nesta terça-feira (20) participou do seminário "Mudanças Climáticas e suas Consequências", no teatro da Unisinos, em Porto Alegre. O evento foi promovido pelo Sindicato dos Engenheiros (Senge/RS).
Segundo Simões, o continente antártico já mostra sinais de rápidas mudanças climáticas. "A Antártica está muito perto do Rio Grande do Sul. Porto Alegre está muito perto do continente do que Boa Vista, em Roraima", ressalta o professor, que já visitou o continente antártico cerca de 27 vezes. O explorador polar atua com outros pesquisadores brasileiros em uma área de três milhões de quilômetros - o equivalente a 10 vezes o estado do Rio Grande Sul. A Antártica possui 14 milhões de quilômetros e 32 países realizam pesquisas na região - os maiores investidores são os Estados Unidos e a China.
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Conforme Simões, que é glaciologista e explorador polar da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), vem ocorrendo um gradativo aquecimento da periferia da Antártica que tem levado a retração de geleiras o que contribui um pouco para o aumento do nível do mar e a migração de diversas espécies de animais mais para o Sul como pinguins, peixes, aves e mudanças das áreas de reprodução. "O Oceano está ficando mais ácido devido exatamente pela maior absorção do dióxido de carbono", destaca. Conforme o glaciologista, no caso do Rio Grande do Sul, o mais importante é que tudo isso modifica o transporte de energia dos trópicos para as regiões polares e prejudica a circulação atmosférica. "Estamos vendo o aquecimento das águas dos Atlânticos Sul e do Oceano Austral e uma maior intensificação de ciclones. O continente antártico é um local afetado pelas mesmas condições climáticas que atingem a Amazônia", ressalta.
Conforme Simões, é preciso parar de ter com a visão simplificada de que a Amazônia é o único problema. "A minha preocupação é com a velocidade das mudanças climáticas que ocorreram rapidamente nas décadas de 1980 e 1990", acrescenta. Segundo Simões, os ciclones serão mais frequentes no Brasil. "A pergunta que temos que fazer para o Rio Grande do Sul é se temos cenários para realizar previsão, mitigação e principalmente de ter uma visão estratégica do que vai acontecer no futuro sobre uma maior eventualidade desses eventos extremos. Temos pessoas vivendo em habitações em áreas de risco e temos um péssimo planejamento urbano", acrescenta.
Já Leandro Ramos, diretor do Greenpeace Brasil, destaca que grande parte das ações da Ong tem a ver com a emergência climática e como todos podem responder a essa crise. "Estamos buscando mostrar como as mudanças climáticas já estão impactando as pessoas no Brasil e no Mundo. Temos agora que discutir coletivamente para minimizar os impactos e responder a essa emergência", ressalta.
Para Ramos, as três esferas de governo tanto a federal quanto as estaduais e municipais precisam responder a emergência climática. "No caso governo federal, foi importante a retomada das ações de controle do desmatamento na Amazônia. Já os estados e municípios têm a responsabilidade de criar planos de respostas para mudanças climáticas", ressalta. Além de Simões e Ramos, o seminário do Senge/RS teve a participação de virtual de Joseline Manfroi, bióloga e geógrafa da Universidade de São Paulo (USP), e de Gilvan Sampaio de Oliveira , coordenador-geral de Ciências da Terra do Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe).