Um procedimento cardíaco inovador e complexo foi realizado pela primeira vez no Rio Grande do Sul na última sexta-feira (4), no Hospital Divina Providência (HD). Trata-se de uma ablação da artéria septal, técnica não invasiva utilizada para tratar a miocardiopatia hipertrófica forma obstrutiva.
O procedimento foi realizado em um homem de 40 anos, procedente de Canoas, que evoluiu bem após o procedimento e recebeu alta 48h após a realização da intervenção. O médico Gilberto Lahorgue Nunes, cardiologista intervencionista do hospital, explica que essa doença vem de causas genéticas. "Ocorre quando o septo interventricular, a porção da musculatura que divide os ventrículos esquerdo e direito, fica anormalmente e desproporcionalmente hipertrofiada, ou seja, mais espessa do que o restante das paredes do ventrículo esquerdo", afirma Nunes.
Segundo o cardiologista, isso ocasiona uma obstrução dinâmica à ejeção do sangue do coração, causando os sintomas de tontura, eventualmente dor no peito, falta de ar e, em casos mais graves, pode causar morte repentina. "A miocardiopatia hipertrófica forma obstrutiva é a principal causa de morte súbita em adultos jovens e em atletas", acrescenta Nunes.
A técnica clássica para tratar essa doença envolve o corte de um pedaço do músculo hipertrofiado, mais grosso, aliviando a obstrução. Há alguns anos, existe a alternativa do tratamento menos invasivo por cateter. Através do cateterismo, é identificada a artéria septal que irriga a porção mais espessada, mais volumosa desse músculo cardíaco na parede septal.
O tratamento mais convencional era a injeção de álcool absoluto, a 100%, para provocar um "infarto controlado" naquela região e, consequentemente, fazer o músculo reduzir de espessura, já que essa é a evolução natural após um infarto. "O álcool absoluto é muito irritativo e esse procedimento estava associado a algumas complicações como o surgimento de arritmias ventriculares graves durante o exame e de bloqueios cardíacos após a realização da ablação da artéria septal", relata o cardiologista, que complementa explicando que, em alguns passos, era necessário o implante de um marcapasso cardíaco.
O novo procedimento ainda está em fase de acúmulo de experiência no Brasil. A técnica trata a doença por cateter, mas sem injetar álcool absoluto. O cardiologista diz que é utilizada uma substância chamada Ônix, que são micropartículas, usadas para embolização na área da Neurologia e de malformações arteriovenosas na circulação periférica.
As vantagens nesse tipo de tratamento envolvem a menor complicação, raras ocorrências de arritmias e de bloqueios, evitando a necessidade de implante de marcapasso.
O procedimento realizado no HD contou com a participação do médico Sidney Munhoz, de Cuiabá (MT), que tem maior experiência com essa técnica a nível nacional, além da equipe formada pelos médicos Gilberto Lahorgue Nunes e Diane Cláudia Roso (cardiologistas intervencionistas) e Júlia Schmidt Silva Busato (anestesista).