Assim como ir e vir, ter acesso à alimentação está previsto entre os direitos sociais, desde a Constituição Federal de 1988. No Rio Grande do Sul, porém, um em cada três adultos apresenta algum nível de vulnerabilidade em relação à alimentação, conforme estudo realizado pela Escola Superior de Educação Física (Esef) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
Os resultados da 4ª fase da pesquisa sobre os efeitos indiretos da pandemia de Covid-19 à saúde pública, que reúne informações sobre a saúde mental e física dos gaúchos, foram divulgados no início deste mês. Ao todo, foram analisadas as respostas de 2,6 mil pessoas, das quais 30% relataram insegurança alimentar.
No período de três meses, os dados foram coletados por um questionário on-line, por meio dos indicadores apontados pela Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia). O modelo funciona como uma escala que indica o nível de insegurança alimentar, de acordo com falta de refeições ou a alimentação não saudável por insuficiência de recursos.
“Precisamos ter em mente que não conseguimos extrapolar os dados para toda população gaúcha, devido ao acesso à internet. Para a maioria dos indicadores, a situação já é preocupante na população de classe média e alta, em uma população com a renda mais baixa, o cenário certamente é pior por conta do contexto de desigualdade do Brasil”, comenta o pesquisador da UFPel, Eduardo Caputo.
Em 2020, no primeiro ano de pandemia, 19,1 milhões de brasileiros conviviam com a fome. Neste ano, mais da metade da população do País - 125,2 milhões de pessoas, estão sem ter o que comer. Ao todo, são 33,1 milhões de pessoas passando fome, segundo dados do II Inquérito de Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan).
O Inquérito analisa dados coletados entre novembro de 2021 e abril de 2022, a partir da realização de entrevistas em 12.745 domicílios, em áreas urbanas e rurais de 577 municípios - dos 5.568 brasileiros -, distribuídos nos 26 estados e Distrito Federal. Além disso, o estudo evidencia que, ao longo dos anos, o povo brasileiro vem empobrecendo progressivamente e enfrentando as consequências da precarização da vida, sem o suporte adequado e efetivo de ações do Estado.
No ano passado, o número de pessoas registradas no Cadastro Único (CadÚnico) - principal instrumento do governo para a inclusão de famílias de baixa renda em programas federais - com algum nível de insegurança alimentar no Rio Grande do Sul, era de 947.112 mil, alcançando 8% da população. Hoje, este número atinge 11% dos gaúchos, com 1,291 milhão de pessoas sem acesso adequado à alimentação, conforme dados da Secretaria da Igualdade, Cidadania, Direitos Humanos e Assistência Social do Estado (Sicdhas).
No entanto, o II Inquérito da Rede Penssan sinaliza que 14% da população do Estado padece de insegurança alimentar grave. “Existem 14 perguntas no inquérito, baseadas na percepção assertiva da insegurança alimentar. A partir disso, é possível mapear qual é o grau de certeza que os indivíduos do município têm em relação à possibilidade de acessar alimentação no mês seguinte. Quando as respostas apontam que o interlocutor não pode colocar comida na mesa em pelo menos uma das refeições no período antecedente à pesquisa, esse quadro se configura como insegurança alimentar grave, explica o antropólogo responsável pela Seção de Segurança Alimentar da Sicdhas, Alex Martins Moraes.
Os resultados da 4ª fase da pesquisa sobre os efeitos indiretos da pandemia de Covid-19 à saúde pública, que reúne informações sobre a saúde mental e física dos gaúchos, foram divulgados no início deste mês. Ao todo, foram analisadas as respostas de 2,6 mil pessoas, das quais 30% relataram insegurança alimentar.
No período de três meses, os dados foram coletados por um questionário on-line, por meio dos indicadores apontados pela Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia). O modelo funciona como uma escala que indica o nível de insegurança alimentar, de acordo com falta de refeições ou a alimentação não saudável por insuficiência de recursos.
“Precisamos ter em mente que não conseguimos extrapolar os dados para toda população gaúcha, devido ao acesso à internet. Para a maioria dos indicadores, a situação já é preocupante na população de classe média e alta, em uma população com a renda mais baixa, o cenário certamente é pior por conta do contexto de desigualdade do Brasil”, comenta o pesquisador da UFPel, Eduardo Caputo.
Em 2020, no primeiro ano de pandemia, 19,1 milhões de brasileiros conviviam com a fome. Neste ano, mais da metade da população do País - 125,2 milhões de pessoas, estão sem ter o que comer. Ao todo, são 33,1 milhões de pessoas passando fome, segundo dados do II Inquérito de Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan).
O Inquérito analisa dados coletados entre novembro de 2021 e abril de 2022, a partir da realização de entrevistas em 12.745 domicílios, em áreas urbanas e rurais de 577 municípios - dos 5.568 brasileiros -, distribuídos nos 26 estados e Distrito Federal. Além disso, o estudo evidencia que, ao longo dos anos, o povo brasileiro vem empobrecendo progressivamente e enfrentando as consequências da precarização da vida, sem o suporte adequado e efetivo de ações do Estado.
No ano passado, o número de pessoas registradas no Cadastro Único (CadÚnico) - principal instrumento do governo para a inclusão de famílias de baixa renda em programas federais - com algum nível de insegurança alimentar no Rio Grande do Sul, era de 947.112 mil, alcançando 8% da população. Hoje, este número atinge 11% dos gaúchos, com 1,291 milhão de pessoas sem acesso adequado à alimentação, conforme dados da Secretaria da Igualdade, Cidadania, Direitos Humanos e Assistência Social do Estado (Sicdhas).
No entanto, o II Inquérito da Rede Penssan sinaliza que 14% da população do Estado padece de insegurança alimentar grave. “Existem 14 perguntas no inquérito, baseadas na percepção assertiva da insegurança alimentar. A partir disso, é possível mapear qual é o grau de certeza que os indivíduos do município têm em relação à possibilidade de acessar alimentação no mês seguinte. Quando as respostas apontam que o interlocutor não pode colocar comida na mesa em pelo menos uma das refeições no período antecedente à pesquisa, esse quadro se configura como insegurança alimentar grave, explica o antropólogo responsável pela Seção de Segurança Alimentar da Sicdhas, Alex Martins Moraes.
Semana da Alimentação RS se encerra neste domingo
Justamente para compreender o cenário no Estado, a 20ª edição da Semana da Alimentação RS promove debates sobre a sustentabilidade na produção de alimentos, políticas públicas e ações de combate à fome e à insegurança alimentar. Com conclusão neste domingo (16), Dia Mundial da Alimentação, o evento conta com atividades realizadas de modo presencial em todo RS, assim como também apresenta conversas e seminários de forma on-line.
“Não tem nada mais dramático e doloroso do que o cidadão não ter acesso a um direito básico, principalmente em relação à alimentação e a um teto”, lamenta a secretária da Sicdhas, Márcia Pires de la Torre. De acordo com ela, ao longo dos anos, a temática foi trabalhada no RS a partir de programas como o Fome Zero, do governo federal. No entanto, houve uma ruptura no sistema e a pauta foi retirada das mídias. “Vemos as crianças abrindo uma lata de lixo e buscando comida ou até mesmo as pessoas na rua, coisa que não víamos há muito tempo”, complementa.
Ainda antes da pandemia, em 2019, quando a atual gestão assumiu a Sicdhas, o orçamento para distribuir às famílias na linha da pobreza, em 497 municípios gaúchos, era de R$ 2 milhões. No ano passado, o valor total destinado para essas famílias era de R$ 6 milhões. Atualmente, com aporte do programa Avançar, o repasse é de R$ 36 milhões, através do Fundo Estadual de Assistência Social. O recurso é voltado especialmente para população em situação de rua, além de abrigos que acolhem mulheres em situação de violência e benefícios eventuais. Apenas nesta última parte, que garante aos municípios a compra de cestas básicas e a manutenção dos sistemas já existentes, é destinado quase metade do valor total do repasse, R$ 15 milhões.
Outras iniciativas no combate à fome no RS foram adotadas nos últimos anos pelo governo. Em 2020, por meio do Ministério Público, foram distribuídas 10 mil cestas básicas para população indigena, quilombola, pessoas com algum tipo de deficiência e para comunidade LGBTQIA+, incluindo também os imigrantes. Em paralelo, o Sicdhas também atua no Movimento RS Contra a Fome, iniciado pela Assembleia Legislativa com participação de todos os poderes.
“Não tem nada mais dramático e doloroso do que o cidadão não ter acesso a um direito básico, principalmente em relação à alimentação e a um teto”, lamenta a secretária da Sicdhas, Márcia Pires de la Torre. De acordo com ela, ao longo dos anos, a temática foi trabalhada no RS a partir de programas como o Fome Zero, do governo federal. No entanto, houve uma ruptura no sistema e a pauta foi retirada das mídias. “Vemos as crianças abrindo uma lata de lixo e buscando comida ou até mesmo as pessoas na rua, coisa que não víamos há muito tempo”, complementa.
Ainda antes da pandemia, em 2019, quando a atual gestão assumiu a Sicdhas, o orçamento para distribuir às famílias na linha da pobreza, em 497 municípios gaúchos, era de R$ 2 milhões. No ano passado, o valor total destinado para essas famílias era de R$ 6 milhões. Atualmente, com aporte do programa Avançar, o repasse é de R$ 36 milhões, através do Fundo Estadual de Assistência Social. O recurso é voltado especialmente para população em situação de rua, além de abrigos que acolhem mulheres em situação de violência e benefícios eventuais. Apenas nesta última parte, que garante aos municípios a compra de cestas básicas e a manutenção dos sistemas já existentes, é destinado quase metade do valor total do repasse, R$ 15 milhões.
Outras iniciativas no combate à fome no RS foram adotadas nos últimos anos pelo governo. Em 2020, por meio do Ministério Público, foram distribuídas 10 mil cestas básicas para população indigena, quilombola, pessoas com algum tipo de deficiência e para comunidade LGBTQIA+, incluindo também os imigrantes. Em paralelo, o Sicdhas também atua no Movimento RS Contra a Fome, iniciado pela Assembleia Legislativa com participação de todos os poderes.
Saúde mental está em alerta no RS
A mesma pesquisa da Ufpel sobre os impactos indiretos da pandemia Covid-19 à saúde pública no RS, também aponta cenários elevados de insuficiência de atividade física (67,2%), depressão (19%), ansiedade (30%) e persistência de sintomas pós-infecção (75%), conhecida como “Covid longa”.
No novo levantamento, a atividade física continua abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), 150 minutos semanais. Essa é a situação de 67,2% dos participantes da 4ª fase da pesquisa. No começo da pandemia, junho e julho de 2020, o índice chegou a 75%.
A saúde mental segue na mesma linha de alerta. Embora o distanciamento social não seja o fator responsável, a pandemia de Covid-19 colocou 19% dos 2,6 mil pesquisados em alto risco para depressão e 30% para ansiedade. O estudo da Ufpel refuta a associação entre o distanciamento social e os sintomas de depressão e ansiedade. Os dados revelam que não houve diferença, para esse diagnóstico, entre as pessoas que permaneceram no ambiente domiciliar a maior parte do tempo, com saída para atividades essenciais (como comprar alimentos), e as que estavam fora de suas casas, majoritariamente, durante o período mais preocupante para a saúde pública.
Logo no início da pandemia, a Coordenação Estadual de Saúde Mental (Cesm) da Secretaria de Estado da Saúde do Rio Grande do Sul (SES) realizou levantamento, junto aos municípios do Estado. Ao todo, 78% dos gestores municipais relataram percepção de aumento de demandas de saúde mental em seus serviços da Atenção Básica. Entre os sintomas mais presentes estavam ansiedade, dificuldades de sono, uso abusivo de álcool ou medicamentos e outras drogas, entre outros.
No entanto, conforme a SES, nos serviços que prestam Atenção Psicossocial no Estado, o registro de atendimentos do ano de 2020 (897.998) e de 2021 (1.177.631) foi inferior ao ano de 2019 (1.205.631), período anterior à pandemia. Por outro lado, entre janeiro e agosto deste ano, já haviam ocorrido 828.552 atendimentos/acompanhamentos psicossociais, o que demonstra uma retomada dos atendimentos ambulatoriais para as questões de saúde mental.
Já em relação às internações para tratamento dos transtornos mentais e comportamentais, as mesmas apresentam sucessivos decréscimos de 2020 a 2022, em comparação a 2019. No ano pré-pandemia, foram 44.139 autorizações de internação hospitalar (AIHs) aprovadas. Em 2020, foram 36.687 AIHs e, em 2021, 35.557. Em 2022, no período de janeiro a julho, foram 18.556 AIHs.
No novo levantamento, a atividade física continua abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), 150 minutos semanais. Essa é a situação de 67,2% dos participantes da 4ª fase da pesquisa. No começo da pandemia, junho e julho de 2020, o índice chegou a 75%.
A saúde mental segue na mesma linha de alerta. Embora o distanciamento social não seja o fator responsável, a pandemia de Covid-19 colocou 19% dos 2,6 mil pesquisados em alto risco para depressão e 30% para ansiedade. O estudo da Ufpel refuta a associação entre o distanciamento social e os sintomas de depressão e ansiedade. Os dados revelam que não houve diferença, para esse diagnóstico, entre as pessoas que permaneceram no ambiente domiciliar a maior parte do tempo, com saída para atividades essenciais (como comprar alimentos), e as que estavam fora de suas casas, majoritariamente, durante o período mais preocupante para a saúde pública.
Logo no início da pandemia, a Coordenação Estadual de Saúde Mental (Cesm) da Secretaria de Estado da Saúde do Rio Grande do Sul (SES) realizou levantamento, junto aos municípios do Estado. Ao todo, 78% dos gestores municipais relataram percepção de aumento de demandas de saúde mental em seus serviços da Atenção Básica. Entre os sintomas mais presentes estavam ansiedade, dificuldades de sono, uso abusivo de álcool ou medicamentos e outras drogas, entre outros.
No entanto, conforme a SES, nos serviços que prestam Atenção Psicossocial no Estado, o registro de atendimentos do ano de 2020 (897.998) e de 2021 (1.177.631) foi inferior ao ano de 2019 (1.205.631), período anterior à pandemia. Por outro lado, entre janeiro e agosto deste ano, já haviam ocorrido 828.552 atendimentos/acompanhamentos psicossociais, o que demonstra uma retomada dos atendimentos ambulatoriais para as questões de saúde mental.
Já em relação às internações para tratamento dos transtornos mentais e comportamentais, as mesmas apresentam sucessivos decréscimos de 2020 a 2022, em comparação a 2019. No ano pré-pandemia, foram 44.139 autorizações de internação hospitalar (AIHs) aprovadas. Em 2020, foram 36.687 AIHs e, em 2021, 35.557. Em 2022, no período de janeiro a julho, foram 18.556 AIHs.
Persistência de sintomas pós-infecção chega a 75%
Entendida pela permanência de sintomas por pelo menos três meses após a infecção, a síndrome “Covid longa” afeta três a cada quatro adultos participantes do estudo. Os dados, nessa fase inicial de análises, indicam perda de memória, dificuldade de concentração, mobilidade prejudicada, sintomas respiratórios (tosse, falta de ar) e, em menor escala, gastrointestinais.
Questionada sobre as propostas para a melhoria dos índices apontados pela UFPel, a SES relatou desconhecimento sobre o estudo, além de fornecer apenas informações técnicas de competência da pasta. No entanto, conforme o pesquisador Eduardo Caputo, a universidade buscou divulgar a pesquisa tanto com a SES quanto com secretarias municipais, que não demonstraram interesse.


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