A startup gaúcha Ziel Biosciences foi a vencedora e a única brasileira a ser premiada no 5º concurso do BRICS Young Innovator Prize, realizado na China. A empresa apresentou um projeto de kit de empoderamento feminino, que inclui um auto coletor de amostra do colo do útero, um auto teste que identifica qualquer lesão e um aplicativo que auxilia na leitura dos resultados.
Concorreram ao prêmio jovens cientistas e inovadores de todos os países que compõem o Brics: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. A seleção dos participantes no Brasil foi feita pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), a partir de convite do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Participaram representantes das áreas de biomedicina, inteligência artificial, tecnologia de baixo carbono, energias renováveis e agricultura moderna.
"A gente participou com muitos especialistas, do mundo todo, e ter se destacado dentre todos eles, dentro da delegação brasileira, composta por muitos experts, pra gente foi muito orgulho", afirma a bióloga Caroline Brunetto de Farias, uma das fundadoras da startup.
"A primeira parte do prêmio selecionou dois membros de cada país para cada área ", explica a bióloga. Uma segunda seleção afunilou a quantidade de participantes, indicando 20 participantes, um de cada área, para realizarem uma apresentação oral sobre o projeto que desenvolvem.
Por conta da pandemia, os participantes do Brasil participaram do evento de forma on-line. A apresentação do projeto de saúde da mulher da Ziel foi realizada na terça (30/08) pela manhã; já no início da tarde, receberam a notícia de que eram os únicos brasileiros premiados. A oficialização dos vencedores ocorreu em plenária virtual realizada nesta quinta-feira (1º).
"A gente desenvolveu um auto coletor de amostras do colo do útero. Por que a gente fez isso? Porque o câncer de colo de útero é o quarto tumor mais frequente no Brasil e no mundo. E quando a gente pensa nos países do Brics, que são alguns dos países mais populosos do mundo, a gente tem mais de 1 bilhão de mulheres em idade de rastreamento. Então, hoje, a Organização Mundial da Saúde preconiza que mulheres entre 24 e 65 anos devem fazer seu rastreamento anualmente", destaca a bióloga.
Caroline explica que, nesses países, não há estrutura para fazer a coleta preventiva de todas as mulheres. "Então, o câncer de colo de útero, embora seja um dos poucos que possa ser 100% curado e prevenível, ainda acontece", acrescenta a bióloga.
O coletor permite que a mulher faça a coleta da amostra quando e onde quiser, o que está vinculado à questão do empoderamento feminino e da saúde, tópicos pelos quais a Ziel preza. Após o recolhimento, o material pode ser entregue em laboratório para realização de exame ou, o que a empresa está terminando de desenvolver, ser realizado um teste rápido para identificar lesões no colo do útero.
O SelfCervix ajuda na coleta de amostras do colo do útero. Foto: Ziel Biosciences/Divulgação/JC
"Muito parecido com um teste de gravidez, ou um teste de Covid, a mulher vai fazer sozinha. Então ela consegue, alguns minutos depois de realizar a coleta, já ter o resultado se ela tem ou não alguma lesão no colo do útero."
Para fechar o pacote do kit de empoderamento, a Ziel desenvolve um aplicativo para que a mulher tire uma foto do teste e, a partir dela, receber instruções sobre o resultado de seu teste. "A mulher vai ter apoio para fazer a leitura do teste, onde ela vai ter informações sobre saúde da mulher; sobre infecções sexualmente transmissíveis; quando ela tem que repetir o rastreamento, no caso de um teste negativo; ou, se ela tiver um teste positivo, o que ela tem que fazer, com quem deve conversar, já encaminhar para uma consulta especializada, para completar de fato essa jornada", diz Caroline.
O coletor está em análise da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Se aprovado, ainda irá precisar de um exame sendo realizado após a coleta da amostra - já que o teste rápido ainda está em fase de testes, e deve ser finalizado até o fim do ano. A expectativa da bióloga é que agentes de saúde possam entregar o coletor em postos ou nas casas das mulheres, para receber o material e fazer o exame; ou, na rede privada, que os coletores possam ser recebidos como hoje se recebem os testes de urina.
"O kit completo, com o coletor e o teste rápido, a gente pretende vender em farmácias, para facilitar a vida das mulheres. Mas também colocar na rede pública, já que o grande o usuário, para a gente, é a rede pública", finaliza Caroline.